Eu ouso dizer que a maioria das pessoas que leram a história gostariam de imaginar que, se estivessem presentes em algum ponto crucial da história, teriam escolhido o lado certo – com os Aliados e contra o Eixo, com Wilberforce e contra os traficantes de escravos, com os romanos e contra os cartagineses que sacrificavam crianças.
Se eu tivesse vivido naquela época, diríamos a nós mesmos, eu teria lutado com o lado certo, não importando as probabilidades pequenas de sucesso.
Bem, agora é sua chance. Porque parece muito como se nós estivéssemos em um desses momentos cruciais – possivelmente em um das maiores “pontos de virada” da história, e provavelmente um dos mais perigosos. Nós tendemos a pensar que os pontos de virada históricos geralmente envolvem um avanço para um plano mais alto – uma virada para algo melhor ao invés de uma virada para algo pior. Mas isso nem sempre é o caso. Às vezes, o pêndulo da história retrocede e corta séculos de progresso. O ponto de virada em que estamos agora ameaça nos fazer retroceder a mais de mil anos para alguma das épocas mais sombrias da história. Em breve poderemos estar lutando por coisas que achamos que estavam garantidas em todos os tempos – noções básicas como liberdade de religião, liberdade de expressão e até mesmo liberdade da escravidão.
O ponto de virada a que me refiro é a luta civilizacional entre o Islã e o Ocidente (reconhecendo, é claro, que grande parte da tradição ocidental foi adotada por pessoas que vivem fora dos limites geográficos tradicionais do Ocidente). Em uma visão mais ampla, a luta pode ser mais precisamente descrita como um conflito entre o cristianismo e o islamismo, porque se o Ocidente perder sua alma cristã, também perderá a capacidade e a vontade de defender suas liberdades.
É claro, algumas pessoas negam que exista algum “choque de civilizações”. Todas as religiões e todas as culturas querem a mesma coisa, eles dizem, e elas nos asseguram que o pequeno punhado de causadores de problemas no mundo muçulmano não representa a grande maioria.
Mas, repetidas vezes, pesquisas mostram que pelo menos a maioria dos muçulmanos quer ser governada pela lei islâmica, a sharia – um retrocesso ao sistema legal severo que se desenvolveu na Arábia do século VII. Ao contrário das expectativas “esclarecidas”, verifica-se que muitos muçulmanos em muitos lugares favorecem punições cruéis e incomuns por roubo, adultério, blasfêmia e apostasia (deixar de ser muçulmano).
Isso é o que eles querem para os companheiros muçulmanos que se desviam. Mas se você não for muçulmano, não precisa se desviar para ser punido. A mera existência de judeus, cristãos e outras minorias é considerada uma afronta por muitos muçulmanos. Como resultado, a discriminação contra os ‘não muçulmanos’ é endêmica no mundo muçulmano. Isso não pode ser atribuído a uma pequena minoria de intolerantes, porque quase todos – incluindo policiais, funcionários do governo, empregadores e vizinhos próximos – esperam que os incrédulos conheçam seu lugar (de inferioridade).
Judeus e cristãos receberam esta a mensagem há muito tempo. É por isso que existem muito poucos deles em locais que costumavam ser seus países de origem – no Oriente Médio, no norte da África e na Turquia. Para aqueles que não saem voluntariamente, a pequena perseguição sistemática e diária às vezes se transforma em violência organizada. Esse foi o caso no genocídio de 1914-1923 contra os cristãos armênios, assírios e gregos que viviam no Império Otomano, no massacre de 1933 de cristãos assírios em Simele, no Iraque, e no Farhud (pogrom) de 1941 contra a população judaica de Bagdá. Em anos mais recentes, testemunhamos o massacre de cristãos e yazidis pelo Estado Islâmico na Síria e no norte do Iraque, os numerosos massacres de cristãos realizados pelo Boko Haram no norte da Nigéria e pelo al-Shabaab na Somália e no Quênia, e os freqüentes ataques a Igrejas cristãs coptas no Egito.
Dizer que estes massacres foram “testemunhados” pode ser uma palavra muito forte. Muitos no Ocidente tomaram ciência dessas atrocidades e depois continuaram a fazer seus negócios como se nada estivesse acontecendo. Mas, para parafrasear Trotsky, “você pode não estar interessado no choque de civilizações, mas o choque de civilizações está interessado em você”. Por muito tempo, as pessoas nos EUA e na Europa conseguiram ignorar as barbaridades na África, no Iraque. e em outro lugar. Mas então o choque da civilização mudou-se para o norte e para a Europa. Quando o “choque” apareceu nas ruas de Paris, nos mercados natalinos da Alemanha e em uma sala de concertos em Manchester, só os cegos intencionais podiam deixar de perceber.
Mas, aparentemente, há muitos deles. Na Europa, nos Estados Unidos e no Canadá, as elites do governo, da mídia, da academia e até da Igreja continuam insistindo em que não há confronto. Isso é verdade em certo sentido. Não existe confronto se apenas um lado estiver lutando. E até agora a resistência contra a jihad – tanto da variedade armada quanto da variedade furtiva – tem sido fraca. As elites nem mesmo contemplam o primeiro passo óbvio – restrições rígidas à imigração muçulmana.
Além disso, eles fazem tudo o que podem para encobrir o confronto. Não é permitido à polícia informar sobre a extensão do crime cometido por um imigrante, a imprensa não irá publicar histórias sobre estes crimes, a menos que sejam excepcionalmente violentos, críticos do Islã ou imigração são levados perante magistrados e cidadãos comuns que façam comentários “islamofóbicos” no Facebook são visitados pela polícia.
A cegueira do Ocidente, auto-imposta, em relação ao que está acontecendo nos obriga a outra observação sobre o ponto de virada histórica que está se desenvolvendo agora. A batalha não é simplesmente uma luta civilizacional entre o Islã e o Ocidente; envolve também uma guerra dentro da própria civilização ocidental. Muitas das nossas instituições ocidentais agora rejeitam a herança ocidental, e muitas delas efetivamente ficaram do lado do Islã.
Em quase todas as questões que envolvem um conflito entre o Islã e os valores ocidentais tradicionais, as escolas, a mídia, os tribunais e muitas igrejas escolhem o Islã. Eles podem não enxergar dessa maneira. Eles podem racionalizar suas ações como nada mais do que uma defesa dos direitos civis dos muçulmanos. Muitos deles provavelmente não estão familiarizados com o conceito de jihad furtiva. Mas eles estão facilitando a jihad da mesma forma. A principal forma de facilitação é a supressão de qualquer notícia ruim sobre o Islã. Assim, em 2012, o Congresso se recusou a investigar a penetração da Irmandade Muçulmana nas agências do governo e no mesmo ano o FBI, no Pentágono e outras agências de segurança dos EUA cederam à pressão muçulmana e expurgaram, de seus materiais de treinamento, qualquer referência a ideologia que embasa o terrorismo islâmico. Mais recentemente, os gigantes da mídia, como Google, Facebook e Twitter, começaram a sufocar as vozes daqueles que falam contra a opressão islâmica.
Poder-se-ia citar numerosos exemplos desse impulso quase suicida para se colocar ao lado de nossos inimigos ideológicos: os juízes que bloqueiam restrições à imigração muçulmana, os bispos que se inscrevem com a enganosa campanha anti-islamofobia, o presente de bilhões de dólares durante a presidência de Obama para o Irã.
Com poucas exceções, como por exemplo os bispos, esses facilitadores da jihad cultural são progressistas seculares. Apesar de seu apelido, no entanto, os progressistas podem ser decididamente regressivos. Eles defendem o aborto em todas as fases da gravidez – uma prática que sugere que a distância entre nós e os cartagineses que sacrificavam crianças não é tão grande quanto podemos pensar. Os progressistas prometem nos puxar para o futuro, mas muitas vezes agem para nos arrastar para o passado. Várias vozes progressistas agora querem restrições severas à liberdade de expressão. Isso vem acontecendo nos campus universitários, onde os códigos de discurso de ódio efetivamente sufocam a liberdade de expressão. O estudante universitário médio hoje não tem mais liberdade de expressão do que uma mulher que servisse na corte de Cleópatra. Os progressistas “iluminados” que administram o Google, o YouTube e o Facebook também não têm muita utilidade para a liberdade de expressão. Os críticos do Islã estão particularmente sujeitos a serem restringidos, suspensos ou banidos por esses monopólios da Internet.
Eis um resumo da situação. Estamos em um dos principais pontos de virada da história. Duas forças, poderosas e regressivas, ameaçam nos arrastar para um passado sombrio. Por um lado, os islamistas querem trazer de volta a subjugação das mulheres, a mutilação genital feminina, a escravidão sexual, as decapitações e a dhimmitude (estado de cidadões de segunda-classe) para os descrentes. Por outro lado, os progressistas que facilitam os islamistas e se dizem detentores da alta tecnologia estão dizimando populações não-muçulmanas ao promover a contracepção e o aborto, ao mesmo tempo controlando o fluxo de informações sobre o Islã usando estratégias de controle da expressão que nenhum monarca absoluto poderia imaginar.
Se você já desejou ter estado em um dos momentos decisivos da história, seu desejo foi realizado. E se você já quis estar do lado do oprimido e do sitiado, esse desejo também foi concedido. As forças da regressão estão em ascendência e a civilização cristã está em retirada.
Agora é hora de escolher. Eu não vou dizer que a escolha é clara. Muito foi feito para confundir as águas – para nos certificarmos de que permanecemos confusos e complacentes. Além disso, poucas coisas são completamente claras quando você é pego no meio dos eventos. Para muitos judeus no início da década de 1940, sua situação só ficou completamente clara quando foram levados para os campos de concentração. Para muitos americanos em 1941, a situação mundial só ficou clara com o ataque a Pearl Harbor. Aqueles que esperam por clareza absoluta freqüentemente acham que esperaram por muito tempo.
Embora os meios de ofuscar a verdade sejam agora muito mais sofisticados do que na década de 1940, ainda temos uma vantagem marcante com respeito aquela época. Temos muito mais perspectiva histórica do que estava disponível para eles. Por exemplo, quando os nazistas estavam construindo sua máquina militar na década de 1930, não havia história de mil anos de agressão nazista para servir como um aviso. O partido nazista tinha pouco mais de uma década e Hitler não chegou ao poder até 1933. Havia algumas desculpas para aqueles que ingenuamente davam aos nazistas o benefício da dúvida.
Nós, por outro lado, temos muito pouca desculpa para ignorar os sinais da época. Para aqueles que estudam história, são sinais muito familiares. Isso é porque o Islã tem uma história de agressão de 1.400 anos. E o plano de batalha tem sido extraordinariamente consistente ao longo do tempo – inclusive incluindo a migração como meio de invasão. A mais recente parcela desse plano de 1.400 anos de conquista do mundo em nome de Alá já começou. Estamos testemunhando uma notável expansão do Islã em todos os cantos do mundo – África, Austrália, Filipinas, China, Rússia, Europa, América do Norte e do Sul.
Só que desta vez as forças do Islã estão sendo ajudadas e encorajadas pelas poderosas forças do progressismo esquerdista. Anteriormente, mencionei algumas das maneiras pelas quais os esquerdistas defendem o Islã. Aqui está uma outra. Um ano atrás, depois de fazer uma palestra na Islândia sobre o tema “a ameaça da jihad”, o autor Robert Spencer foi envenenado por um esquerdista, depois teve negado testes e tratamento adequados por um médico da emergência (também um ideólogo esquerdista). Embora mais de um ano tenha se passado, a polícia não tomou nenhuma medida contra o suspeito de envenenamento, e o Comitê de Ética Médica Islandês não tomou nenhuma medida contra o médico que negligenciou o seu serviço.
Forças de esquerda comprometidas e islamistas comprometidos: esta é uma combinação difícil de vencer. Ambos acreditam muito firmemente no que eles acreditam. A menos que os cristãos (e os demais amantes da liberdade) acreditem firmemente que esta combinação de esquerdistas e islamistas devam ser detidos, ambos continuarão a se expandir. Nós estamos em um ponto decisivo na história. Optar por ficar à margem serve apenas para aumentar as chances de que essas forças regressivas triunfem.
Nota do editor: Na foto acima estão soldados otomanos posando em frente a médicos armênios enforcados em Aleppo Square, em 1916.
De William Kilpatrick
William Kilpatrick ensinou por muitos anos no Boston College. Ele é o autor de vários livros sobre questões culturais e religiosas, incluindo Por que Johnny não sabe dizer o que é errado; e o cristianismo, o islamismo e o ateísmo: a luta pela alma do Ocidente e o guia politicamente incorreto da jihad. Seus artigos foram publicados em numerosas publicações, incluindo o Catholic World Report, National Catholic Register, Aleteia, Saint Austin Review, Investor’s Business Daily e First Things. Seu trabalho é apoiado em parte pela Fundação Shillman. Para mais informações sobre seu trabalho e escritos, visite o site dele, turningpointproject.com.
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