Em 2011, um total de 2,5 milhões de cristãos viviam na Síria. Em 2022, a população cristã havia se reduzido para 300 mil. Pense nisso.
Este artigo trata das chacinas em curso na Síria, perpetradas contra as minorias alauitas e cristãs, sob um silêncio ensurdecedor da chamada comunidade internacional.
A queda de Bashar al-Assad e o controle da maior parte da Síria por grupos ligados à Al-Qaeda e ao Estado Islâmico sinalizava tragédia para o remanescente cristão. Discutimos isso no artigo Síria: Jihadismo ressurgente põe em risco o remanescente cristão no país. Mas existe uma outra minoria, que, de fato, governava o país, os alauitas, uma seita do islamismo xiita.
Como discutimos no artigo Síria, a outra Terra Prometida, após o colapso do Império Otomano, os alauitas desejavam um estado próprio, com a capital em Latáquia (Laodiceia), por temerem viver sob o jugo de uma maioria sunita, pois os muçulmanos sunitas haviam declarado guerra santa contra eles e nunca hesitaram em matar suas mulheres e crianças, apesar da presença da Inglaterra na Palestina e da França na Síria. A França, que administrava a região, não concedeu isso o estado independente sírio que surgiu em 1946 iria subordinar os alauitas dentro de uma nação de maioria sunita. Em 1971, Hafez al-Assad tomou o poder, governando até 2000, sendo sucedido pelo seu filho Bashar al-Assad, derrubado em 2024 pelos grupos jihadistas liderados pelo HTS (Hay’at Tahrir al-Sham). Durante a dinastia Al-Assad, os alauitas (12% da população síria) tiveram uma presença dominante no governo, e os cristãos eram protegidos pelo governo.
Todas as tentativas de tomada do poder por parte dos sunitas foram reprimidas com violência. As principais ocorreram em 1982, e a outra que se iniciou em 2011 durante a chamada Primavera Árabe, com o apoio do presidente Obama. Nas duas, a Irmandade Muçulmana estava à frente das tentativas de revolução.

A maioria da população alauita, que não tinha nada com os governos al-Assad, bem como os cristãos protegidos por esses governos, estão sendo varridos. A declaração do líder jihadista, e autoproclamado presidente da Síria, Abu Mohammad al-Joulani, de que ele lideraria um processo de reconciliação nacional, era mentira. O novo governo islâmico os está eliminando, e, claro, enchendo de terror os sobreviventes.
Os militares do novo governo islâmico clamam que não se trata de limpeza étnica, mas sim de repressão sobre “rebeldes que atacaram o governo”. Não há como saber se essa versão dos eventos é verdadeira.
À propósito, Al-Jolani afirmou que a nova constituição da Síria será baseada na sharia islâmica e que a religião do presidente deve ser o islamismo.
Três dias de chacinas deixaram um número que pode chegar a 10 mil cristãos e alauitas mortos, e dezenas de milhares expulsos das suas casas, fugindo para não serem mortos.
E, claro, durante o mês do Ramadã, o mês da Jihad.

Os relatos e vídeos oriundos da Síria são aterrorizantes. Eles incluem, assassinatos de clérigos, roubo do dinheiro e pilhagem de propriedades de alauitas e de cristãos, casas incendiadas, famílias inteiras executadas, cadáveres nas estradas, mulheres sendo forçadas a desfilarem nuas, vilas inteiras sendo atacadas, pessoas cercadas e pedindo ajuda, mulheres sendo forçadas a se converterem ao islamismo e sendo amarradas em postes ao se recusarem, homens sendo crucificados por se recusarem a se converter ao islamismo, e, claro, degolamentos (FoxNews, Greek City Times). Vídeos mostram homens sendo velados, assassinados e jogados em túmulos abertos, cadáveres sendo mutilados, a total desumanização que é tão característica do jihadismo.
Em Tartous, casas de cristãos maronitas foram invadidas, profanando ícones cristãos e dizendo “Que Alá vos amaldiçoe, infiéis” (vídeo no X).
Uma mulher alauita da região da planície de Al-Ghab, onde há uma população majoritariamente alauita, disse à Fox News Digital que as forças disseram: “Os alauitas são porcos e eles têm que executar todos eles e as crianças pequenas antes dos idosos”.
E as Nações Unidas, grupos de direitos humanos e a imprensa estão em completo silêncio. E, o mais revoltante, as igrejas também estão em silêncio.
Em vídeo no X, um jihadista se gaba de que “uma vez, uma cidade chamada Banyas era metade alauita e metade sunita. Agora, metade está morta, e a outra metade é sunita. Nós matamos todos eles. Allahu Akbar.”
Em outro vídeo, também no X, um comandante militante afiliado a al-Jolani pede abertamente, pelo autofalante, o massacre de mulheres e crianças alauitas: “Aos Mujahideen (guerreiros sagrados), não deixem vivo nenhum alauita, homem ou mulher. Os mais respeitados entre eles serão massacrados. A mulher alauita mais respeitada será massacrada. Matem todos eles, incluindo as crianças na cama. Estes são porcos. Peguem-nos e joguem-nos no mar”.
Muçulmanos celebram os massacres da jihad na Síria nas ruas de cidades da Alemanha e da Áustria (vídeo no X). E um muçulmano sunita se alegra com a notícia de que 9.000 alauitas foram mortos em dois dias (vídeo no X).
O comandande do grupo jihadista HTS, e auto-proclamado presidente da Síria, Abu Mohammad al-Joulani, foi recebido, nos últimos meses, por dignatários de diversos países e instituições, tais como as Nações Unidas e a União Européia. Esta última, chegou a fazer uma doação de € 235 milhões do dinheiro dos contribuintes europeus em “ajuda” ao regime do ‘antigo’ líder do Estado Islâmico.
Será que a atitude destes países e instituições que receberam al-Joulani irão mudar depois das chacinas?
Os militares do novo regime dizem que a matança parou, por enquanto, e a paz voltou a reinar.
Sim, a paz dos mortos.
\Siria-Cristaos-Alauitas-Chacinados-2025
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