Este artigo discuto a origem da palavra “Alá”, utilizada pelos muçulmanos para se referirem à sua divindade. O artigo deixa claro que a palavra Alá já era utilizada muito antes de Maomé ter inventado o islamismo. Na verdade, Alá se referia a uma “divindade” dentro de um universo politeista.
Para efeito deste artigo, estaremos usando o termo inglês “allah” ao invés do português “alá.”
Curiosamente, muitos muçulmanos não querem aceitar que Allah já estava sendo adorado na Ka’ba em Meca por pagãos árabes antes de Maomé chegar. Alguns muçulmanos ficam com raiva quando são confrontados com este fato. Mas a história não está do seu lado. A literatura pré-islâmica provou isso. “(Who Is This Allah?, G. J. O. Moshay, 1994, p 138)
“Mas a história estabelece, sem sombra da dúvida, que mesmo os árabes pagãos, antes do tempo de Maomé, conheciam seu deus-chefe pelo nome de Allah e até, em certo sentido, proclamavam sua unidade … Entre os árabes pagãos, este termo designava o deus chefe do seu panteão, a Kaaba, com seus trezentos e sessenta ídolos. ” (The Moslem Doctrine of God, Samuel M. Zwemer 1905, p 24-25 (formato pdf)
Na verdade, ele não pretendia inicialmente estabelecer uma nova religião, mas antes reformar a crença já existente em Allah, e mostrar o que essa crença verdadeiramente significava e legitimamente exigia. (Mohammed: The man and his faith, Tor Andrae, 1936, Translated by Theophil Menzel, 1960, p13-30)
Embora “Allah” tenha se tornado conhecido como o nome próprio para o deus muçulmano, Allah não é um nome, mas um descritor que significa literalmente “o deus”. Assim, embora hoje os muçulmanos usem “Allah” como um nome próprio, ele nunca foi usado dessa maneira originalmente. Allah, portanto, é equivalente a “elohim” e “ho theos”, mas não “Jeová” ou “Jesus”. Uma conclusão importante disto, é que o mero fato de que “Allah” seja equivalente a “elohim” e “ho theos” não significa que eles tenham alguma relação. Certamente não prova que Allah seja o mesmo que o Deus do Antigo ou do Novo Testamento. Não prova que os muçulmanos adorem o mesmo Deus que os cristãos. Se esta correspondência provasse que o deus muçulmano era o mesmo que o Deus cristão, então, porque as religiões pagãs também têm genéricos que correspondem ao “o deus” (Allah), esta correspondência também provaria que Allah é o mesmo deus budista, pois os budistas também se referem a seu deus como “o deus”.
A ORIGEM DO TERMO ‘ALLAH’
Roberto Esteves
Fonte: www.bible.ca/islam-alla-pre-islamic-origin.htm (acessado em outubro 2016)
Este ensaio foi baseado no conteúdo das fontes literárias relacionadas no website citado acima. Seu objetivo é definir o mais precisamente possível, tanto do ponto de vista teológico quanto histórico, a origem do termo ‘Allah‘.
DEFINIÇÃO DE TERMOS
As definições propostas abaixo foram baseadas nos excertos das obras analisadas e são portanto válidas no contexto deste ensaio. Acreditamos que facilitarão a leitura da análise propriamente dita. Foi também utilizado o Dicionário Aurélio de Língua Portuguesa (Ed. Nova Fronteira – 1988).
– Al
Denominação em semítico antigo para o artigo definido ‘o’ ou ‘a’. Por exemplo, ‘al-illah’ (veja illah) – ‘a-divindade’ (veja divindade).
– allah (com ‘a’ minúsculo)
Contração das palavras ‘al’ e ‘illah’ (veja illah) – allah – significando ‘a divindade’ (com ‘a’ e ‘d’ minúsculos) ou ‘o deus’ (com ‘o’ e ‘d’ minúsculos) (veja deus). Termo genérico que pode ser aplicado a qualquer tipo de divindade. Por exemplo, Buda e deuses romanos são ‘allahs’.
– Allah (com ‘A’ maiúsculo)
Contração das palavras ‘Al’ e ‘illah’ – ‘Allah’. De acordo com o contexto, pode ter diferentes significados:
– Allah
A Divindade (com ‘A’ e ‘D’ maiúsculos) (veja Divindade) correspondente a Deus (veja Deus). Denominado no contexto deste ensaio como ‘Allah do período islâmico’. ‘Allah’ (com ‘A’ maiúsculo) seria uma elevação do substantivo simples ‘allah’ (com ‘a’ minúsculo) ao status de substantivo próprio. Como dissemos, ‘Allah’ pode corresponder tanto ao Allah do período islâmico quanto ao Allah pré-islâmico (veja Allah pré-islâmico). Isto porque sua etimologia genérica emprestou uma elasticidade considerável ao termo, fazendo com que pudesse ser aplicado a estas duas entidades, de forma indistinta e frequentemente confusa. O fato de o Allah do período islâmico ser um deus único teria tornado desnecessário o uso de um nome próprio tal como, por exemplo, Zeus ou Jeová. Isto é, já seria possível referir-se a Ele simplesmente como ‘Allah’ – A Divindade.
– Allah pré-islâmico
Possivelmente a Divindade máxima cultuada na Meca pré-islâmica, senhor sobre todos os outros deuses também existentes na Ka’aba (como Zeus seria a divindade máxima sobre todos os outros deuses do Monte Olimpo) (veja Ka’aba). Criador do mundo e de suas criaturas, provedor da chuva e predeterminador do destino de todos. Outras denominações seriam: (1) ‘Senhor da Casa’ (veja Senhor da Casa) e (2) ‘El’ (denominação utilizada pelos habitantes da Península Arábica setentrional ou pelos judeus da Península Arábica em geral). Não é distinta a fronteira que separaria as identidades de Hubal (veja Hubal) e do Allah pré-islâmico.
– Al-Lat
A Deusa. Mãe dos deuses pré-islâmica, filha do Allah pré-islâmico e presente na Ka’aba. Simbolizava o Sol.
– Al-Manat
Deusa pré-islâmica do destino, filha do Allah pré-islâmico e presente na Ka’aba. Simbolizava a fortuna (destino).
– Al-Uzza
Deusa pré-islâmica da força, toda-poderosa, filha do Allah pré-islâmico e presente na Ka’aba. Simbolizava o planeta Vênus.
– antonomasia
Fenômeno linguístico em que um substantivo simples substitui um substantivo próprio, passando a identificar o indivíduo dono do nome. Por exemplo, o substantivo simples ‘deus’ substituindo ‘Jeová’, que é o substantivo próprio correspondente ao nome da Divindade bíblica judaico-cristã. O substantivo simples ‘deus’ passa então à condição de substantivo próprio, isto é, passa a ser um nome – ‘Deus’ (com ‘D’ maiúsculo) -, subentendendo-se que se trata de ‘Jeová’.
– deus (com ‘d’ minúsculo)
Sinônimo de divindade. Sua origem etimológica é ‘theo’ (veja theo).
– Deus (com ‘D’ maiúsculo)
Criador e mantenedor do Universo e do Homem. O Deus bíblico judaico-cristão.
– divindade (com ‘d’ minúsculo)
Criatura de origem sobrenatural que se admira e se adora. Geralmente possui um nome próprio (por exemplo, Apolo).
– Divindade (com ‘D’ maiúsculo)
Termo utilizado para se referir a uma divindade específica. Por exemplo, Shiva é uma Divindade indiana.
– Divindade Lunar
Divindade de natureza politeísta cultuada na era pré-islâmica. Possivelmente sinônimo de Hubal.
– Hubal
Divindade possivelmente predecessora do Allah pré-islâmico como principal divindade na Ka’aba. Possíveis sinônimos são ‘Senhor da Casa’ e Divindade Lunar. Hubal era simbolizado por um ídolo feito de cornalina vermelha. Não é distinta a fronteira que separaria as identidades de Hubal e do Allah pré-islâmico.
– illah
Denominação em semítico antigo para ‘deus’ ou ‘divindade’. Por exemplo, na mitologia grega antiga, Marte seria o illah (ou ‘deus’) da guerra. Alguns autores defendem que este termo representaria uma das fases lunares da Divindade Lunar, em um período mais antigo.
– Ilmaqah
Possivelmente outro nome de Hubal ou um seu predecessor.
– Ka’aba
Na era pré-islâmica, a Ka’aba (significando ‘cubo’ em semítico antigo) teria correspondido a uma espécie de panteão onde era cultuado o Allah pré-islâmico, além de outros 360 deuses e deusas. ‘Casa de Allah’ (Allah pré-islâmico) seria outra denominação prevalente nesta época. Na Meca atual, a Ka’aba corresponde a uma estrutura oca em formato de cubo. Em um de seus cantos externos, encontra-se exibida a Pedra Negra (veja Pedra Negra).
– lat
Denominação em semítico antigo para ‘deusa’ ou ‘divindade’ (gênero feminino). Por exemplo, na mitologia grega antiga, Atena seria a ‘lat’ (ou deusa) da sabedoria.
– monoteísmo momentâneo
Variação do politeísmo praticada pelos habitantes da Península Arábica pré-islâmica. Nela, o devoto passaria a adorar exclusivamente o Allah pré-islâmico em detrimento dos outros deuses, porém de forma condicional e extrema tal como, por exemplo, numa tempestade no mar. Após a situação ter se resolvido, eles oscilariam de volta ao seu politeísmo habitual, compartilhando sua devoção com as outras divindades da Ka’aba.
– Pedra Negra
Hajarul Aswad. Objeto pétreo fragmentar situado no canto oriental da Ka’aba, central à veneração dos muçulmanos. De acordo com a tradição islâmica, teria sido o objeto que caiu do céu marcando o local onde Adão e Eva deveriam erguer um altar. Posteriormente, Maomé a teria depositado nas paredes da própria Ka’aba. Segundo outras fontes, a Pedra Negra corresponderia a resquícios de uma representação física do Allah pré-islâmico, ou seria de origem meteorítica.
– Senhor da Casa
Outra denominação de Hubal e/ou do Allah pré-islâmico (o termo ‘Casa’ representaria a Ka’aba).
– theo
Termo grego que significa ‘divindade’ ou ‘deus’.
PRÁTICA RELIGIOSA NA PENÍNSULA ARÁBICA PRÉ-ISLÂMICA
O politeísmo na Península Arábica
A religiosidade dos habitantes da Península Arábica na Antiguidade era fortemente relacionada aos corpos celestes. Eles acreditavam inclusive que meteoritos podiam abrigar espíritos e divindades. Alguns autores defendem que os sabaenos, um povo semítico desta época, cultuavam a Divindade Lunar (possivelmente Hubal ou Ilmaqah), juntamente com suas filhas Al-Lat, Al Manat e Al-Uzza.
Os habitantes da Península Arábica pré-islâmica, especialmente os de Meca, ultuavam, dentre outras, a Divindade Hubal bem como Al-Lat, Al-Manat e Al-Uzza. Estas últimas rivalizavam com Hubal, sendo porém mais presentes no dia-a-dia dos habitantes da cidade por estarem relacionadas a assuntos mais terrenos (colheitas, fertilidade, etc). Contudo, Hubal eventualmente começou a subir de status entre os adoradores, numa espécie de monoteísmo embrionário.
Em direção ao monoteísmo
Aparentemente, os habitantes da Península Arábica pré-islâmica oscilavam entre o politeísmo e o monoteísmo momentâneo. De forma semelhante, seus votos mais importantes eram direcionados ao Allah pré-islâmico de forma exclusiva. Como comentado anteriormente, o politeísmo em Meca apresentava uma tendência à ascenção e proeminência do Allah pré-islâmico sobre os outros deuses da Ka’aba. Tal fenômeno poderia ser atribuído à influência do monoteísmo praticado pelo Judaísmo e Cristianismo, religiões também existentes na Península Arábica. Três aspectos reforçam esta hipótese:
– A afirmação de que todas as divindades presentes na Ka’aba eram representadas por estátuas, exceto o Allah pré-islâmico (a representação física do Deus bíblico judaico-cristão é proibida);
– O Allah pré-islâmico era reverenciado de forma semelhante ao Deus bíblico judaico-cristão, isto é, como um deus único e todo-poderoso;
– Os habitantes da Meca pré-islâmica não enxergariam como incompatíveis o seu Allah pré-islâmico e o Deus bíblico judaico-cristão monoteístico.
A INFLUÊNCIA DE MAOMÉ
Panorama religioso de Meca à chegada de Maomé
Na época do início da pregação de Maomé, isto é, no século VII, o Allah pré-islâmico já era uma divindade em ascenção em Meca. Havia substituído Hubal, de fato ou por antonomasia (isto é, o substantivo simples ‘allah’ substituindo o substantivo próprio ‘Hubal’), como a principal divindade na Ka’aba. Não obstante, apesar de o Allah pré-islâmico ter ainda recebido os atributos de Criador e Mantenedor do Universo, ele ainda não tinha tanta proeminência entre as tribos idólatras, além de rivalizar com al-Lat, al-Manat, e al-Uzza.
Repercussões do movimento de Maomé
Durante sua pregação em Meca, Maomé não teria tido, pelo menos de início, a intenção de fundar uma nova religião, mas tão-somente reformar o culto ao Allah pré-islâmico, já existente. Na verdade, é possível que o Allah pré-islâmico tenha sido alçado à condição de principal divindade da Ka’aba por influência do próprio Maomé, pois sabemos que ele conclamava seus correligionários da tribo Coraixita a venerarem o ‘Senhor da Casa’, e a ele somente. Além disto, a oscilação entre o politeísmo e o monoteísmo momentâneo existente entre os habitantes da Península Arábica pode tê-los predisposto a eventualmente penderem para o polo monoteísta do espectro, de forma definitiva, sob o estímulo de Maomé.
Há alguns aspectos que reforçam a impressão de que o culto ao Allah do período islâmico derivou do culto ao Allah pré-islâmico e às divindades da Ka’aba, não tendo se tratado de uma religião totalmente nova. Seriam eles:
- Não há indícios de que Maomé tenha importado a ideia do Allah do período islâmico a partir dos judeus e/ou cristãos;
- ‘Allah’ já era um termo familiar e uma divindade conhecida em Meca, portanto utilizá-lo facilitaria enormemente a comunicação entre Maomé e potenciais conversos, comparativamente à introdução de uma divindade com identidade totalmente nova ou pertencente a outro povo;
- A possível reforma de Maomé sobre o culto politeísta ao Allah pré-islâmico teria correspondido tão-somente à supressão das outras co-divindades e à existência solitária daquele, posteriormente alçado à condição de Allah do período islâmico.
Eventualmente, as outras divindades da Ka’aba foram suprimidas de forma definitiva, prevalecendo enfim o Islamismo monoteísta. O Alcorão concorda com os cultuadores do Allah pré-islâmico no sentido de o terem considerado como o Criador do mundo e o Provedor da vida e de tudo o que existe na Terra. Apenas os criticam por não terem inferido que, já que o Allah pré-islâmico era o Criador do Paraíso e da Terra, deveriam ter eles servido ao Allah pré-islâmico somente e a mais nenhuma outra divindade.
Não obstante sua orientação ao monoteísmo em torno do Allah do período islâmico, sabemos que Maomé também identificava o Allah pré-islâmico como sendo o Deus bíblico judaico-cristão de Abrahão, Moisés e Jesus. O fato de que judeus e cristãos da Península Arábica pudessem ter utilizado o termo ‘allah’ para se referirem ao seu Deus, pode ter facilitado esta superposição. Resta entretanto a pergunta do por que Maomé teria buscado sincretizar sua nova versão do culto politeísta ao Allah pré-islâmico com o Judaísmo e o Cristianismo da época. Talvez a identificação do Allah do período islâmico com o Deus bíblico judaico-cristão teria sido apenas uma manobra estratégica de Maomé para ampliar sua influência política. Contudo, como a fusão não aconteceu, Maomé terminou por fundar uma religião com identidade própria – o Islamismo -, mantendo o nome ‘Allah’ para designar sua única divindade.
CONCLUSÃO DO AUTOR DO ENSAIO
Segundo as fontes consultadas, podemos propor a hipótese de que o nome ‘Allah’ é uma antonomasia de Hubal (isto é, de Hubal para ‘Allah’). Esta proposição leva a duas importantes inferências
- O Islamismo não seria uma religião original, porém sim derivada de um culto politeísta existente em Meca e centralizado fisicamente na antiga Ka’aba;
- Os muçulmanos atuais estariam venerando ou a Allah (sinônimo do Deus bíblico judaico-cristão), ou a Hubal identificado por uma antonomasia. Desconhecemos porém a opinião dos muçulmanos modernos acerca desta aparente ambiguidade.
\A origem do termo Allah
Anônimo diz
O singular de Elohim é Eloha, o que denota uma semelhança vocal maior com a palavra Alá.
Anônimo diz
Não caia nessa de que o islamismo é irmão do cristianismo e do judaísmo. Maomé não passava dum loroteiro. Até diz o corão que Maria é irmã de Moisés e que o bezerro de ouro foi feito por samaritano! Cristãos e judeus creem nos 10 mandamentos e no livre-arbítrio. Já os muçulmanos viola os Mandamentos e são totalitários. Maomé saqueava e chamava isso de Espólios de Guerra mas condena roubo, ou seja, quem não é da gangue, digo, muçulmano é pra ser tratado de qualquer jeito, mas roubar muçulmano é que é pecado. Folgado, não? A mesma mentalidade das máfias e gangues.
eloquent-nash diz
A pronúncia em Hebreu e totalmente diferente, amigo.
Hassan diz
Tentativa sao e sempre foram enumeras para confundir a sociedade sobre o islamismo, mas nunca e jamais daram certo porque esta é a religiao de verdade, todos dados apresentados neste blog nao passam de fantoches breviamente inventado por fanalitos e pessoas que carregam consigo o odio. Ora vejamos, das bases aqui trazida nenhuma delas pertence a um arabe ou alguem perito na lingua arabe como equi alguem que bem lingua arabe conhece vai explicar gramaticalmente um nome, adjectivo, ou palavra Arabe que desconhece. Historicamente falado, se voce quer provor algo sobre a idade pre-islamica dos Arabes, deves procurar manuais arabe dos historiadores arabes, nao grupinho de fantoches que so falam oque lhes aparece a cabeca de base fidedigna.
José Atento diz
Você poderia então indicar literatura DOS SÉCULOS IV, V, VI sobre este assunto escrita por árabes? Vou ficar esperando.