É comum encontrar-se menção a uma afirmação atribuída a Oliverus Scholasticus, Bispo de Paderborn, que esteve na Terra Santa durante a Quinta Cruzada, e que teria supostamente dito isso sobre os muçulmanos servindo ao Sultão al-Kamil:
“Quem poderia duvidar que tal bondade, amizade e caridade vêm de Deus? Homens cujos pais, filhos e filhas, irmãos e irmãs, haviam morrido em agonia em nossas mãos, cujas terras nós tomamos, que nós levamos nus de suas casas, nos reviveu com sua própria comida quando estávamos morrendo de fome e nos derramou com bondade mesmo quando estávamos em seu poder.”
O problema é que esta citação não advém dos escritos de Oliverus Scholasticus, mas sim de outras fontes. O parágrafo acima é citado no livro de um juiz do Sri Lanka, a partir da tradução inglesa de um volume de língua alemã em uma série austríaca de “História Cultural”, presumivelmente originário de uma das obras latinas de Oliverus – mas sem citá-la. Esta citação não pode ser confirmada.
Além disso, o tom desta passagem está muito distante do que está escrito na “Historia Damiatina” de Oliverus Scholasticus, onde ele se refere ao islão como uma heresia diabólicamente inspirada.
Segundo a sua obra, Oliverus era aparentemente esperançoso da conversão dos muçulmanos ao cristianismo. Para isso, ele estava preocupado em remover deles o aguilhão da acusação de idolatria, comumente atribuída a eles no século XIII.
Vejamos o que diz Oliverus Scholasticus na sua obra História Damiatina, XIII.
“Uma vez que está escrito assim no al-Quran, o livro de sua lei, eles acreditam que Jesus Cristo foi concebido e nascido da virgem Maria. Eles testemunham que ele viveu sem pecado como profeta, e mais do que como profeta. Eles afirmam que ele deu luz aos cegos, purificou os leprosos, ressuscitou os mortos. Eles não só acreditam que ele era a palavra e o espírito de Deus, mas também que ele ascendeu vivo aos céus. Mas eles negam seu sofrimento e morte, e da mesma forma que negam que a natureza divina foi unida à natureza humana em Cristo e a trindade de pessoas. Deste modo, eles deveriam ser chamados, mais corretamente, de “hereges” do que de “sarracenos”. Mas o uso do nome errado tem sido prevalente.
“Por isso, quando seus sábios foram a Jerusalém durante o período das tréguas, eles exigiram que os volumes dos evangelhos lhes fossem mostrados e os beijaram e veneraram por causa da pureza da lei que Cristo ensinou, [E, sobretudo, o evangelho de Lucas, porque o anjo Gabriel foi enviado [nele]], e que os letrados entre eles muitas vezes repetem e revisam.
“Sua lei, no entanto, Maomé deu aos sarracenos escrita em árabe, através da ajuda de Sérgio, um monge apóstata e herege, com o diabo ditando-o. Pela espada a recebeu, através da espada é mantida, e com a espada será terminada.
“Essa pessoa, Maomé, era um analfabeto, como ele próprio testemunha no seu al-Quran, e aquelas coisas que o referido herético ditou ele próprio promulgou e criou para ser observado através de atos de intimidação. Por ser um homem luxurioso e guerreiro, ele assim produziu uma lei a partir de sua impureza e vaidade, que os que vivem de modo carnal observam fielmente para o bem do seu prazer. E assim como a verdade e a pureza são as defesas da nossa lei, assim também o medo e os desejos mundanos e humanos guardam com firmeza seu erro.”
– Oliverus Scholasticus, História Damiatina, XIII.
Voltando ao parágrafo que alguns alegam ter sido por Oliverus ao Sultão al-Kamil, à luz do que ele escreveu na História Damiatina, XIII, se elel foi mesmo escrito por Oliverus, ele estaria apelando à benevolência do Sultão (“azeitando” o Sultão), e não o elogiando.
“Um gladio cepit, por gládio tenetur, e em gladio terminabitur.”
\Opiniao-Oliverus Scholasticus
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