Segue abaixo a tradução do artigo Para Sabotar o Futuro, Minta Sobre o Passado, escrito por Danusha V. Goska, em 26 de abril, 2016, e publicado no Frontpage Magazine.
O artigo trata da ocupação islâmica da Península Ibérica durante a Idade Média. Muçulmanos e seus apologistas e ignorantes em história gostam de se referir a este período como um período glorioso, quando, governados pelo islão, muçulmanos, cristãos e judeus viveram em harmonia. Na verdade, o oposto ocorreu. Em regra geral, cristãos e judeus foram tratados como dhimmis (zimis), e em apenas algumas instâncias particulares eles puderam respirar.
O artigo faz uma revisão do livro O Mito do Paraíso Andaluz: Muçulmanos, Cristãos e Judeus sob Governo Islâmico na Espanha Medieval, livro este que merecia ser traduzido para o português e se tornar leitura obrigatória no estudo de História.
PARA SABOTAR O FUTURO, MINTA SOBRE O PASSADO
O acadêmico Dario Fernanzes-Morera, da Northwestern University trava uma luta quixotesca contra o mito da Andaluzia, e o mito desmorona.
Estou encantada com o livro O Mito do Paraíso Andaluz: Muçulmanos, Cristãos e Judeus sob Governo Islâmico na Espanha Medieval. Seu autor, Dario Fernandez-Morera, professor da Northwestern University e PhD pela Universidade de Harvard, argumenta que os estudiosos disseminam um mito – o de que a Espanha islâmica (711 a 1492 DC) teria sido um paraíso. O trabalho de Fernandez-Morera é expor realidades históricas. O texto em si tem 240 páginas. Há 95 páginas de notas, uma bibliografia e um índice. Foi publicado em fevereiro de 2016 pelo Intercollegiate Studies Institute.
Este livro é uma luta de boxe intelectual. O autor pulveriza não apenas um adversário, mas uma série de intelectuais intolerantes, prostituídos e manipuladores, cujas vítimas são as pessoas comuns. Fernandez-Morera arrasa seus oponentes com o seu brilho e preparo ímpares. Entretanto ele se arrisca bastante por promover isto, desde se expor a receber simples e-mails de ódio até ser ostracizado da sociedade.
O leitor é levado a vastas paisagens, intriga internacional, costumes misteriosos e heroísmo atemporal. Visualizam-se mulheres de véu e garotas escravas enfeitadas de jóias, ruínas fumegantes de igrejas, cristãos escravizados chorosos forçados a carregar os sinos de suas catedrais para serem fundidos com o objetivo de ornar mesquitas, sofrimento atroz e eventualmente vitória.
Fernandez-Morera dá aos defensores do Islã corda para se enforcarem. Só o que ele teve de fazer foi citá-los. Harvard, Princeton, Yale, Columbia, Universidade de Chicago, Universidade de Boston, Sarah Lawrence, Rutgers, Indiana University, Cambridge, Oxford, Universidade de Londres, Universidade de Nova York, Norton, Penguin, Routledge, Houghton Mifflin, Comitê Pulitzer, Tony Blair, Barack Obama, Carly Fiorina, livros para crianças, The Economist, The Wall Street Journal, PBS, The New York Review of Books, First Things, todos no banco dos réus, vítimas de seu próprio falso testemunho. A inclusão do First Things pode surpreender, pois é uma publicação católica. Nela, Christian C. Sahner louva muçulmanos que “exibiram um surpreendente grau de flexibilidade religiosa”, por esperarem umas poucas décadas antes de nivelar ao chão a Catedral de São João Batista em Damasco, ao invés de destruí-la imediatamente à sua chegada. Mesmo?…
E qual o motivo dos defensores do Islã?
Siga o dinheiro. Veja, por exemplo, o ensaio de Giulio Meotti “O Islã Compra a Comunidade Acadêmica Ocidental.” Veja também o Programa de Estudos Islâmicos do Príncipe Alweleed Bin Talal na Universidade de Harvard. Ou o Centro Bin Talal de Estudos Islâmicos na Universidade de Cambridge. Ou o Centro Alwaleed da Universidade de Edinburgh. Ou o Centro Abdallah S. Kamel para o Estudo da Civilização e Lei Islâmicas na Universidade de Yale. Ou o Centro Príncipe Alwaleed bin Talal para a Compreensão Muçulmano-Cristã na Universidade de Georgetown. A caixa registradora do prostíbulo transborda de petrodólares.
Siga os enforcados e as tochas. Em 2008, Sylvain Gouguenheim, um medievalista francês, publicou Aristotle at Mont Saint-Michel (Nota: Aristóteles no Monte Saint-Michel), argumentando que o Ocidente não está em débito para com o Islã pelo seu conhecimento de textos gregos antigos. A maioria destes textos foi preservada, traduzida, passada adiante e usada por cristãos. Devido a esta alegação até um tanto modesta, Gouguenheim foi submetido a um “exorcismo acadêmico”.
E siga a agenda. A Idade Média serve aos defensores do Islã por uma razão somente: seus projetos atuais. Al-Andalus (Nota: termo islâmico referente à Península Ibérica no século VIII) prova que o “Islã pode efetivamente navegar por um mundo pluralístico”. Al-Andalus prova que não há “diferenças essenciais” entre o Islã e o Ocidente. Al-Andalus prova que o Estado de Israel pode ser substituído por um “modelo palestino no qual judeus, cristãos e muçulmanos possam novamente viver sob [proteção] islâmica”. E, é claro, a mesquita no local das Torres Gêmeas de Nova York foi denominada “Casa de Córdoba” em referência a um califado na Espanha muçulmana (Nota: a ‘Casa de Córdoba’ é um centro cultural e religioso islâmico construído próximo ao local onde ficavam as Torres Gêmeas de Nova York; sua localização tornou-se controversa, por supostamente torná-lo um monumento de vitória islâmica).
E quais táticas os defensores do Islã usam?
Eles enxovalham cristãos. Em um livro da Oxford University Press, cristãos são “um movimento marginal fanático” que resiste aos “benefícios” da grande boa fortuna de terem vivido na Espanha muçulmana. E como os defensores do Islã tratam os 48 mártires cristãos de Córdoba? Eles zombam deles, os caracterizam como seres patológicos e os culpam por suas próprias mortes. Estes mortos eram “encrenqueiros”, “auto-imoladores” e culpados de “extremismo” por preferirem a morte como cristãos à vida como muçulmanos. Eles eram masoquistas e o que queriam mesmo era serem torturados.
Pelagius era um menino cristão desejado por Abd-al-Rahman III (Nota: califa de Córdoba de 912 a 961). Pelagius resistiu. Os defensores doutos do Islã não condenam o desejo do califa de estuprar uma criança. Não obstante, eles não perdem tempo com demonstrações de respeito pela dor do menino – uma dor que simboliza incontáveis outros meninos káfir (Nota: káfir é um termo pejorativo para se referir a não-muçulmanos) estuprados, castrados e mortos, tudo em linha com as regras da jihad. Ao invés, eles condenam cristãos por “demonizarem muçulmanos” ao criarem caso sobre sodomia homem-menino. Nesta deflexão acadêmica, ouvem-se ecos da resposta tipo culpe-a-vítima aos assaltos sexuais em massa ocorridos em Colônia em 2016, ou à ordem dada aos soldados americanos, em 2015, para ignorarem a “brincadeira-com-meninos” no Afeganistão – uma “brincadeira-com-meninos” que, em um caso, envolveu um escravo sexual infantil acorrentado à cama. “Nós podíamos ouví-los gritar”, relatou um fuzileiro. Respeite a cultura deles, disseram a ele.
Outro método acadêmico de obedecer aos patrões sauditas e distorcer o passado: deixe de fora detalhes significativos. Um livro, publicado pela Ivy League University Press, “não faz nenhuma menção a apedrejamento, circuncisão feminina (Nota: remoção de parte ou de toda a genitália externa feminina – clitóris e pequenos lábios), crucificação, decapitações ou escravidão sexual“.
Muçulmanos chamavam cristãos de “porcos”. Os mascates do mito paradisíaco andaluz omitem menção a este detalhe. Eles mencionam uma “deleitosa poesia de amor andaluz”, sem mencionar que ela foi escrita por escravas sexuais não-muçulmanas, e seu tema não foi sobre o amor entre homens e mulheres muçulmanos adultos e livres. Eles deixam de lado os preços do mercado de escravos. E estes números são significativos. Um escravo negro valia uma soma bem menor do que uma garota branca – obviamente um homem pode realizar mais trabalho do que uma garota. Se estes escravos eram comprados primariamente para trabalho, então os valores se invertiam. Governantes muçulmanos estocavam milhares de tais escravas em seus haréns. Kiz, uma palavra turca usada para escrava sexual, mudou de significado para “mulher cristã”. Sakaliba, em árabe, provém da palavra slav, comumente utilizado como referente à etnicidade de pessoas escravizadas. “Todos os eunucos slavs que se encontram sobra a face da Terra vêm da Espanha”, escreveu um muçulmano. A negros era reservado um menosprezo similar. Um muçulmano de Toledo escreveu, “Eles são desprovidos de auto-controle e equilíbrio mental, sendo vencidos pela própria volubilidade, burrice e ignorância”.
Os defensores do Islã não citam a faxina étnica de cristãos, incluindo, em um evento, a deportação em massa de 20.000 famílias para a África. Eles omitem a menção de como a Espanha muçulmana era hierárquica e estratificada, com homens muçulmanos árabes no topo e várias de suas vítimas ocupando os níveis inferiores. Não-árabes que se convertiam ao Islã não eram considerados iguais, nem tampouco seus filhos da fé. Trezentos de tais muçulmanos com ancestrais cristãos foram crucificados. Quinhentos foram decapitados. Após tal expressão de “tolerância”, um poeta andaluz celebrou o “massacre” de “filhos de escravos. Eles tinham apenas escravos e filhos escravos como parentes”. Lembre-se – os mortos eram muçulmanos, porém seus ancestrais eram não-árabes cristãos, daí o epíteto “filhos de ecravos”.
Outro método de limpar o passado: simplesmente ignore material inconveniente. Ignore material publicado por um historiador militar. Ignore material em qualquer língua a não ser Inglês. Especialmente ignore material escrito em Espanhol. E ignore relatos cristãos de época.
Não obstante, há um outro tipo de apoio ao mito do paraíso andaluz que Fernandez-Morera não discorre detalhadamente. O público tende a enxergar a Espanha medieval sob o contexto do Ocidente do século 21. Cristãos europeus de 711 não eram os imperialistas de séculos mais tarde cujas línguas – Inglês e Espanhol – dominaram continentes inteiros. Judeus não eram impotentes, nem tampouco muçulmanos. A Europa desta época ainda era um lugar onde cristãos eram assassinados por serem cristãos, tanto por pagãos quanto por muçulmanos. Em 614, durante a invasão persa, judeus massacraram cristãos em Jerusalém. Judeus estavam entre os mais proeminentes mercadores de escravos. Por vezes, judeus aliavam-se a muçulmanos contra cristãos na Espanha. Propagadores do mito agraciam instituições muçulmanas dedicadas à memorização e ao estudo das “universidades” corânicas. Elas não eram universidades. Elas seriam mais apropriadamente denominadas “madrassas” (Nota: centro religioso de estudos islâmicos).
Pode-se perguntar se todas as melhores universidades do mundo insistem que o paraíso andaluz é verdadeiro, não um mito, não seria Fernandez-Morera um teórico da conspiração? Do mesmo tipo que o cara que insiste que o governo esconde corpos de alienígenas na Área 51?
Fernandez-Morera, com a destreza de um esgrimista olímpico, coloca em ação as melhores armas do academicismo. Ele resgata a erudição que o “politicamente correto” reduziu ao status de vagabundo de rua. Ele a levanta do chão, sacode sua sujeira e a lembra de seus melhores dias. Ele usa pesquisa e fatos objetivos para defender seu posicionamento. Nada poderia ser mais transgressor no meio acadêmico atualmente. Seus fatos carregam as vozes trovejantes de sinos de catedral há muito emudecidas.
Lendo este livro, sinto como se estivesse correndo atrás de um trem de carga em aceleração. É uma experiência de tirar o fôlego. O material de referência bibliográfica exaustivo de Fernandez-Morera está em pelo menos oito línguas. Fernandez-Morera cita trabalhos antigos e modernos, eruditos os quais ele esfola e com os quais ele concorda. Ele faz soltar faíscas entre textos antigos e notícias de última hora – incluindo a corrida presidencial americana de 2016. Ele usa textos primários, por exemplo, documentos legais muçulmanos. Ele cita tanto sátiras grosseiras como sagas épicas. Considerando esta amplitude de conhecimento, tudo o que falta na bibliografia são citações aos e-mails pessoais que ele trocou com Cervantes, Maimônides, Teresa d’Ávila e El Cid.
Em meio aos esclarecimentos ao leitor acerca de mentiras contemporâneas escabrosas, mentirosos regiamente recompensados, massacres e crucificações passados, Fernandez-Morera permanece, assim como o fazem os verdadeiros eruditos, sobejamente calmo. Nunca ele apela a arengas de ódio ou a hipérboles. Ele reconhece a discriminação praticada por católicos contra judeus e arianos (Nota: no contexto desta revisão, ariano significa aquele cristão que defende o conceito de que Jesus Cristo é o filho de Deus e portanto distinto deste último). Ele não indulge em um relativismo frouxo e preguiçoso: “Todo mundo aprontou”. Ele sistematica – e francamente compara muçulmanos, cristãos e judeus, incluindo grupos fortes e minorias dentre todos eles. Não há nada na Europa cristã medieval que se compare à escravidão, haréns, tratamento de mulheres ou ao enorme número de decapitações que existiam em Al-Andaluz, insiste o autor. Enquanto que judeus e cristãos também discriminavam-se uns aos outros e às suas próprias minorias internas, somente no Islã ele encontra a estrutura abrangente, universal e legalmente protegida da “dhimitude” (Nota: ‘dhimi’ é um termo usado para se referir a um não-muçulmano, enfatizando seu caráter oficial de cidadão de segunda classe).
Fernandez-Morera divide o mito andaluz em sete alegações. O material detalhado abaixo encontra-se referenciado em textos eruditos influentes:
- O movimento dos muçulmanos na Espanha foi uma “onda migratória”. Jihad “não é um fator motivador”. Jihad significa uma “luta interna” “para resistir à tentação e vencer o mal”.
- A Europa cristã foi uma “arena de guerra incessante na qual superstição passou-se por religião e a chama do conhecimento crepitou fracamente”. Os habitantes cristãos da Europa eram camponeses brancos ignorantes. “O homem da floresta nunca se afastava muito dela”. Eles viviam em “escuridão e depressão”, “declínio dramático”, “decadência” e “decomposição”. Carlos Magno não sabia escrever o próprio nome.
- O conquistador muçulmano trouxe um Islã florescente à Espanha. Al-Andaluz foi “um farol iluminador para o resto da Europa… dentre suas conquistas mais proeminentes destacou-se a tolerância… mantendo os princípios do Alcorão”. O Alcorão é um “monumento de tolerância”. “Líderes mouros (Nota: ‘mouro’ era um termo utilizado para referir-se a muçulmano) ajudaram a construir casas cristãs de adoração”. Sem o fardo de padres, muçulmanos eram “animados pela igualdade… e respeitosos a todas as fés religiosas”. Seu Islã era tipificado por um “humanismo pan-confessional”. Não tivesse sido pelo “aborto” provocado pela Inquisição Espanhola, o Islã atual refletiria uma versão Al-Andaluz plenamente “reformada”. Em resumo, muçulmanos eram “cheios de conhecimento e entusiasmo, sempre apaixonados, escrevendo versos, amigos da música, organizando festivais, danças e torneios diariamente”.
- A dinastia umíada (Nota: dinastia que correspondia ao califado umíada, que foi o segundo califado seguido à morte de Maomé) foi “iluminada” e “tolerante”.
- A Espanha muçulmana foi uma utopia feminista. “Noventa e nove porcento” dos cristãos europeus eram analfabetos, mas as mulheres muçulmanas “eram médicas e advogadas e eruditas”. Atualmente são as políticas ocidentais que criam as “duras condições nas quais as mulheres vivem”, incluindo mulheres muçulmanas. “Nós (o Ocidente) somos todos culpáveis”.
- “Judeus viviam felizes e produtivos na Espanha”.
- A Espanha muçulmana foi uma terra-dos-contos-de-fada para cristãos. “Nem igrejas nem monastérios foram diretamente ameaçados”. A Espanha muçulmana foi um “lugar de refúgio”. Cristãos “eram bem tratados” e “a eles era permitido cultuar livremente”. A Espanha muçulmana “nutria” o cristãos.
Fernandez-Morera corrige estas alegações.
A conquista muçulmana da Espanha foi uma blitzkrieg (Nota: ataque-relâmpago) impiedosa e religiosamente sancionada, registrada através das palavras de um jihadista criminoso de guerra como tendo trazido o “Dia do Juízo Final” a suas vítimas. Invasores, não migrantes pacíficos, incendiaram todas as igrejas no seu caminho e furtaram de seus escombros para construir suas mesquitas que eram, conforme cronistas muçulmanos atestam, inferiores em construção e projeto aos monumentos cristãos que substituíram. Jihadistas expressaram sua luxúria por escravos sexuais como butim de guerra e o seu “amor à morte”. Um deles “queimava de desejo por ferir fisicamente” cristãos. Bibliotecas foram incendiadas, como na Pérsia zoroastrista (Nota: Zoroastrismo era uma religião indo-iraniana praticada na Antiguidade) e na Alexandria cristã. Jihadistas massacraram cadáveres cristãos e ebuliram sua carne em caldeirões. Cruzes eram tão abomináveis que muçulmanos pilhadores antes tinham de quebrá-las para só então poder distribuir seu ouro como butim.
Não, cristãos nativos da Espanha não eram figurantes do elenco de Deliverance (Nota: filme exibido no Brasil sob o nome “Amargo Pesadelo”). Sua cultura era mais avançada que a dos invasores. Os invasores narram histórias compatíveis com esta afirmativa, propalando sua riqueza de saltar os olhos, dos refinados artefatos que eles pilhavam, bem como da grande beleza e refinamento das mulheres que eles carregavam para serem estupradas. Ibn Khaldun comentou sobre a ignorância dos árabes e o baixo nível de sua cultura, além de como eles precisavam dos cristãos e judeus para executarem suas tarefas.
Em 981, Al-Mansur demoliu León (Nota.: cidade ao norte da Espanha). Ele deixou uma torre de pé, como testemunha da elevada qualidade da cidade que estava prestes a destruir. Este relato mostra muito ao leitor acerca dos feitos de jihadistas, de Al-Andaluz às Torres Gêmeas do World Trade Center, dos budas de Bamiyan (Nota: Bamyian é uma cidade afegã onde se encontravam esculturas gigantes de Buda, destruídas por muçulmanos talibãs) a Palmira (Nota: Palmira é um sítio localizado na Síria, parcialmente destruído pelo Estado Islâmico, onde se encontrava uma antiga cidade romana).
Fernandez-Morera escreve que a ideia popular de que o Islã preservou o conhecimento clássico e o repassou à Europa cristã é “sem fundamento”. Ele relata que os árabes ficaram estupefatos com o conhecimento de São Cirilo (São Cirilo que viveu no século 9). São Cirilo dizia que os árabes muçulmanos eram como alguém que carregava consigo uma vaso de água marinha e achava que aquilo era algo realmente especial. Eventualmente, ele conheceu um grego que vivia na costa de seu país e que disse a ele que vangloriar-se de tal vaso seria loucura. Sua pátria-mãe já era possuidora de uma abundância infinita de água marinha (Nota: isto é, já era possuidora de vasto conhecimento clássico).
No seu capítulo sobre a realidade diária da vida em Al-Andaluz, Fernandez-Morera presta muita atenção à lei muçulmana. Qualquer questionamento ao Islã ou a Maomé poderia resultar em tortura até a morte. Simples prazeres tais como vinho, alho, carne suína, seda ou música eram condenados. Juízes muçulmanos ordenavam que instrumentos musicais encontrados sob posse privada deveriam ser confiscados e destruídos. Havia porém música – a despeito da condenação. Músicos eram frequentemente escravos não-muçulmanos.
Cristãos e judeus eram elementos poluidores e cuidado extra era tomado para evitar contacto com eles, até mesmo com utensílios usados por estes. Cristãos não podiam sequer passar por túmulos muçulmanos, pois poluíam os mortos. Muçulmanos não podiam aceitar convites ou saudações de Natal. Uma vez tendo um judeu tirado água de um poço, muçulmanos recusavam-se a usar aquele poço.
A alienação física e cultural de um grupo pelo outro suplantava a coexistência. Isto refletia-se na língua. Somente 6% do vocabulário espanhol têm origem árabe. Em comparação, 30% do vocabulário em inglês, uma língua germânica, têm raízes francesas, resultado da conquista normanda de 1606.
Eu tinha de tomar o fôlego ao ler o capítulo sobre os tolerantes umíadas. “Os celebrados umíadas elevavam as perseguições políticas e religiosas, inquisições, decapitações, impalamentos e crucificações a alturas nunca alcançadas por quaisquer governantes na Espanha, antes ou depois”, escreve Fernandez-Morera. Eles crucificavam até os mortos, exumando cadáveres de alegados cristãos para profaná-los. Eles crucificavam correligionários muçulmanos – em uma ocasião, 72 eruditos muçulmanos de um seminário de leis religiosas.
Crucificações eram encenadas para serem “espetaculares”e fazer os espectadores “desmaiarem de horror”. Algumas vítimas eram fatiadas à morte, lentamente: primeiro mãos, então pés e finalmente a cabeça. Uma vítima foi crucificada no portal do palácio de Córdoba, com os cadáveres de crianças negras penduras por cordas de poço como contrapeso.
A inovação é condenada no Islã, sendo que inovações eram buscadas e eliminadas. Um historiador muçulmano louvou esta vigilância: espiões “penetravam os segredos mais íntimos das pessoas, tanto que [Abd al-Rahman III (Nota: governante umíada de Al-Andaluz de 929 a 961)] podia conhecer cada ação, cada pensamento, tanto de boas quanto más pessoas… os vícios explícitos e ocultos… da população… Deus fez chover presentes sobre ele… por causa de… subjugação dos homens… interrogar os acusados e promover uma inquisição contra eles… aterrorizando-os e punindo-os com severidade”. Aquele mesmo Abd al-Rahman, o “servo do mais Misericordioso”, declarava que muçulmanos que se desviavam da estrita aderência “mereciam o extermínio”.
Al-Andaluz não era nenhum paraíso para mulheres. Considere apenas esta única lei: um homem que comprava uma escrava sexual não-islâmica deveria mutilar sua genitália. Será que este fato não te diz o bastante sobre a Espanha muçulmana? A Espanha muçulmana vivia de escravos. Um de seus principais produtos de exportação eram escravos. Incontáveis milhares foram castrados.
A lei islâmica conta o resto da história: o véu, o apedrejamento, o mandamento paralisante, emudecedor e anulador que exige que a mulher saia em público somente se acompanhada de um parente homem ou que este fale por ela. Um manual legislativo instrui que a “uma esposa muçulmana” é permitido que “divirta-se com outras mulheres, desde que desacompanhadas de homens – porém somente durante o dia e uma vez por semana”. Muitas das mulheres celebradas da Espanha muçulmanas eram escravas. A elas era permitido ter uma educação e dominar habilidades as quais seriam consideradas inadequadas a uma mulher muçulmana. “Médicas” provavelmente eram as pessoas que praticavam mutilação genital feminina. Averróis (Nota: um sábio muçulmano andaluz) expressou sucintamente: “Mulheres são usadas apenas para procricação”.
A vida para os judeus não era também um mar de rosas. As leis e costumes islâmicos desprezavam judeus. Judeus tinham de saber o seu lugar. Quando eles ascendiam demais, eles e seus correligionários eram mortos. A Espanha muçulmana trabalhou para extirpar populações cristãs nas áreas sob seu controle. “Quando os cristãos entraram em Granada em 1492, não havia dhimmis cristãos na cidade”.
Cristãos e judeus aos quais era permitido viver não o poderiam fora de quaisquer conceitos de “tolerância”. Umar era sogro, correligionário e sucessor de Maomé. Seu título era “faruq”, isto é, aquele que separa o certo do errado. Umar declarava explicitamente que muçulmanos deveriam manter cristãos e judeus vivos para poderem ser parasitados. “Os muçulmanos de nossos tempos comerão às custas destas pessoas enquanto foram vivas… nossos filhos comerão às custas dos filhos deles para sempre”. Como? Através da jizya, o imposto sobre cristãos e judeus.
Futuras edições do “O Mito do Paraíso Andaluz” deveriam ser melhoradas através das seguintes mudanças: Fernandez-Morera não menciona o trabalho pioneiro de Edna Bonacich sobre “intermediários de minorias” (Nota: Edna Bonacich é uma socióloga autora do livro ‘A theory of middleman minorities – Uma teoria sobre minorias intermediárias’, onde disserta sobre o fenômeno de imigrantes que, muito embora residam e produzam no país que os recebeu, nunca efetivamente constituem uma minoria assimilada de forma completa, nem perdem o vínculo com o país de origem, daí o termo ‘intermediário’). Ele deveria mencionar isso.
Ilustrações a cores melhorariam este livro. Como teria sido a Basílica de São Vicente antes de ter sido destruída pelos muçulmanos? Manuscritos com iluminuras, mapas, estilos de construção. Todos poderiam ter sido descritos em imagens, tanto quanto em palavras. Um glossário de muitos termos em línguas não-inglesas, bem como uma linha do tempo com datas, marcos e personagens, também teriam sido úteis.
As 95 páginas de material de rodapé de Fernandez-Morera, em tamanho de fonte bem pequeno, contém muito coisa que na verdade deveria estar no texto principal do livro. Sim, o livro é de leitura fluida e acessível, apesar de o material de rodapé talvez tornar o texto mais longo e a leitura um pouco tortuosa. De toda forma, há muito neste material que mesmo o leitor menos compenetrado não deveria perder.
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Ad diz
Então fomos colonizados por uma nação humilhada e estuprada, nós os sul americanos? Isso é humilhante.
Ad diz
Acredito também que os espanhóis não venceram completamente os muçulmanos! Deve ter ficado uma sensação de guerra perdida e então os espanhóis resolveram descarregar esse ódio coletivo nas civilizações pré-colombianas! Nada vai me fazer mudar de ideia! Penso ainda que a Inquisição Católica não passou de um poder de polícia para se defender dessa corja muçulmana!
Anônimo diz
Somos orfãos do Imperio romano sujeitos ao abuso de povos barbaros. Fomos dominados por povos barbaros(visigodos), seguidos por outro povo barbaro pior ainda(mouros). só depois disso conseguimos formar uma civilização que que mereça o nome.