Submissão, do escritor francês Michel Houellebecq: ficção ou premonição?
Edição em Português lançada em abril de 2015, Editora Alfaguara
Descrição:
Uma fábula política e moral surpreendente, Submissão é o romance mais visionário e simultaneamente mais realista de Michel Houellebecq.
Ele se passa em Paris, no ano de 2022. François, professor universitário de literatura, cumpre desapaixonadamente o ofício do ensino enquanto leva uma vida calma e impermeável a grandes dramas, uma rotina de quarentão apenas ocasionalmente inflamada pelos relacionamentos passageiros com mulheres cada vez mais jovens. É também com indiferença que vai acompanhando os acontecimentos políticos do seu país. Ele é um exemplo do homem francês típico.
Às portas das eleições presidenciais, a França está dividida. O recém-criado partido da Irmandade Muçulmana conquista cada vez mais simpatizantes, graças ao seu carismático líder, Mohammed Ben Abbes, que agrupa uma frente democrática ampla numa disputa direta com a Frente Nacional. O país obcecado por reality shows e celebridades, assiste as ruas de Paris serem tomadas de assalto: tumultos, os carros incendiados, as mesas de voto destruídas.
As mudanças sociais, no início imperceptíveis, aos poucos se tornam dramáticas. O desemprego é resolvido porque as mulheres são forçadas a deixarem a força de trabalho. O déficit nacional é erradicado por meio de cortes sobre a educação, com a Sorbonne fechando (e François ficando sem trabalho). Sob o novo sistema, a educação obrigatória termina no ensino fundamental, em torno de doze anos de idade. Todas as mulheres são obrigadas a usarem o véu. Os judeus (incluindo Myriam, a última amante de François, e sua aluna) são incentivados a emigrarem para Israel. À medida que mais países em toda a Europa caem sob o controle de partidos islâmicos, o Marrocos, a Turquia e a Tunísia aderem a União Européia (enquanto que as negociações com o Líbano e Egito caminham muito bem). Uma França modificada, vê a sua posição de poder global restaurada.
Deprimido pelo seu afastamento da universidade pela nova direção, François retira-se para o campo, onde espera deixar de sentir as ondas de choque da capital. Ele regressa a Paris poucos dias depois do desfecho eleitoral e encontra um país que já não reconhece. Em Paris, ele vê as mulheres veladas, e descobre que a Sorbonne reabriu como a Universidade Islâmica de Paris-Sorbonne, apoiada por fundos sauditas. Seu novo chefe, Robert Rediger, um ex-patriota que se converteu ao islão, tendo tomado várias esposas, uma delas de 15 anos de idade, oferece a François o retorno ao seu emprego, desde que ele se converta para o islão.
Com este seu livro, Houellebecq parece estar dizendo que a sociedade francesa dos dias de hoje, sob a forma de seus políticos, seus jornalistas, seus acadêmicos e não menos importante, os seus romancistas, irá obter exatamente o que ela merece: um estado administrado por aqueles que acreditam em algo maior e mais grandioso do que os ganhos fáceis e a corrupção de suas posições elevadas.
O interessante, e irônico, é que o livro foi lançado na França no mesmo dia em que ocorria a jihad contra o Charlie Habdo.
Entrevista de Michel Houellebecq para Elizabeth Carvalho

Atualização em 24 de maio de 2016
Uma análise literária do livro feito por Tatiana Feltri no seu canal do YouTube.
https://youtu.be/ITvt8iVIeH0 OK