Resumo
O artigo abaixo trata das concepções erradas que muçulmanos possuem do Jesus histórico. Segundo Bart Ehrman, o Alcorão está correto em considerar Jesus um homem e um profeta (algo que cristãos concordam – e claro eles vão além disso). Mas o resto das concepções islâmicas sobre Jesus são uma sucessão de equívocos.
Segundo Bart Ehrman, resumidamente:
- Sobre a divindade de Jesus. Jesus pensava que ele era o Filho de Deus, no sentido de que ele era especialmente escolhido por Deus. Barth Ehrman acha que Jesus realmente achou que ele seria o Messias, o futuro rei de Israel, afinal foi por isso que eles o crucificaram.
- Sobre as histórias sobre Jesus encontradas no Alcorão. Elas foram copiadas de fontes cristãs primitivas, por exemplo, a história do Jesus menino dando vida a pássaros de barro moldados por ele vem do evangelho gnóstico de Tomás, e a história de que uma outra pessoa teria sido crucificada em seu lugar vem do evangelho gnóstico de Basilides (morto no ano 140).
- Sobre a crucificação de Jesus. Seguindo uma base histórica, Jesus foi absolutamente crucificado, morto e enterrado. A crucificação de Jesus é provavelmente o evento mais bem atestado da sua vida, um evento encontrado em todo o lugar, nas primeiras fontes, e é até mencionado por fontes não-cristãs.
- Sobre o Alcorão ser perfeito, logo, de Deus. Alegar que um livro não possui contradições, como muçulmanos alegam ser o Alcorão, não é garantia alguma que ele venha de Deus ou não. “Eu tenho listas telefônicas que não possuem erro, mas certamente elas não vêm de Deus.”
- Sobre a doutrina da Trindade. A doutrina da Trindade não é baseada em um único versículo. Não existe nenhuma doutrina cristã que seja baseada apenas em um versículo. A doutrina da Trindade existe porque há lugares onde você tem o Pai, o Filho e o Espírito, há passagens que mostram que Cristo é Deus, e há passagens que mostram que o Espírito é Deus.
- Ao ser perguntado se ele iria fazer um estudo do islamismo primitivo do mesmo modo que ele faz do cristianismo primitivo, Bart Ehman respondeu: “Sim, isso é o que eu farei quando eu deixar de dar valor à minha vida.”
(Vídeo em Bitchute, Odysee, YouTube, Rumble)
Artigo
Bart D. Ehrman é professor da universidade da Carolina do Norte, campus de Chapel Hill. Seu campo de especialização é Novo Testamento e a história do cristianismo primitivo. Ele é autor de diversos livros, alguns deles best sellers.
Como historiador, Bart Ehrman faz sua análise utilizando de ferramentas apropriadas para um estudo histórico. Isso já seria suficiente para respeitar o seu trabalho. Adicione-se a isso o fato dele ser um ateu declarado. O quê? Um ateu declarado, historiador do cristianismo primitivo? Sim, e ele é amado e odiado, tanto por ateus quanto por cristãos, exatamente devido às conclusões do seu trabalho acadêmico. Ele enerva os ateus ao afirmar que Jesus é uma figura histórica. Ele desagrada os cristãos ao afirmar que Jesus não é Deus.
Recentemente, pregadores muçulmanos descobriram Bart Ehrman e resolveram entrevistá-lo, achando que as conclusões dos seus estudos iriam afirmar a visão de Jesus como apresentado pelo Alcorão. Grave erro. O tiro saiu pela culatra, pois a visão do professor Ehrman contradiz a narrativa islâmica.
Entrevistas com muçulmanos foram seguidas por uma série de entrevistas de Bart Ehrman com ateus, que apenas reforçaram os conceitos errados que os muçulmanos fazem sobre o Jesus histórico.
Iremos apresentar abaixo um resumo das posições do professor Bart Ehrman, indicando os links de onde elas advêm.
Pergunta. Os muçulmanos acreditam em uma certa ideia de Jesus. Os cristãos acreditam em uma certa ideia de Jesus. Ambos acreditam em um nascimento virginal milagroso. Eles acreditam nesta ideia de que Jesus nasceu de uma mulher e, de alguma forma, Deus intervém e milagrosamente deixa Maria grávida. Onde os muçulmanos erram na sua visão de Jesus?
Eu fiz uma série de entrevistas recentemente com muçulmanos. Tem sido muito divertido. Os muçulmanos reverenciam Jesus de muitas maneiras. Eles têm pontos de vista de Jesus no Alcorão, alguns comparáveis com o que se encontra no Novo Testamento, e outros que foram retirados de lendas cristãs antigas. Eu acho que a maioria dos muçulmanos não percebe que as histórias que se encontram no Alcorão, geralmente podem ser encontradas fora do Alcorão, em fontes cristãs anteriores.
Aquela que a maioria dos cristãos consideraria como problemática, é que o Alcorão diz que Jesus não foi crucificado, que ele não morreu, que outra pessoa foi crucificada em seu lugar. Bem, historicamente, eu acho que jesus certamente foi crucificado. Eu eu acho que isso é uma certeza histórica.
Existem outras histórias no Alcorão que se referem a Jesus como uma criança, sobre Jesus como um menino, moldando um bando de pássaros em barro, e dando-lhes vida. Esta história é retirada do evangelho da infância, de Tomás, que é um relato das aventuras de Jesus, um menino jovem, entre cinco a doze anos de idade.
O Alcorão não tem acesso ao Jesus histórico além das histórias cristãs, e assim, tudo o que o Alcorão herdou vem de tradições cristãs anteriores ou algo que vêm por conta própria. Isso também é verdade sobre os últimos evangelhos do cristianismo. Existem evangelhos do quarto ou quinto século, baseados em tradições cristãs primitivas ou histórias que as pessoas inventaram. E isso é o que também eu diria sobre o Alcorão. Quando o Alcorão diz algo sobre Jesus que seja historicamente preciso, como Jesus foi um homem, ele não fornece nenhum tipo de verificação independente disso, mas apenas se baseando em histórias cristãs anteriores.
Mas é interessante de um ponto de vista da história da religião para ver o que os primeiros muçulmanos pensavam sobre Jesus, assim como é interessante ver o que os primeiros cristãos falavam sobre Jesus. Isso não significa que eles estavam certos ou errados, significa apenas que é interessante ver o que eles pensavam. (link)
Pergunta sobre a crucificação de Jesus. Que certeza podemos ter sobre a crucificação de Jesus, se ele foi de fato crucificado?
Eu sei que o Islã ensina que ele não foi crucificado. Eu acho que existe uma base histórica, Jesus foi absolutamente crucificado. Como historiador, quase não há dúvida sobre isso. E caso seu público não saiba, eu não me identifico como um cristão, quero dizer, fui criado cristão, mas eu sou ateu agora. Eu não tenho um interesse particular em nenhuma desta informação pessoalmente, mas eu acho que a crucificação de Jesus é provavelmente o evento mais bem atestado da sua vida, um evento encontrado em todo o lugar, nas primeiras fontes, é até mencionado por fontes não-cristãs.
Não é não o tipo de coisa que os cristãos iriam inventar. Se eles quisessem inventar lendas, se eles quisessem inventar algo sobre Jesus, não seria que ele tinha sido morto pelo inimigo, torturado até a morte. O que eles teriam inventado seria que ele se tornou rei, e está sentado no trono em Jerusalém. Mas eles não poderiam fazer isso porque todos sabiam que não era verdade. Então, eles tiveram que dizer que sua crucificação foi significativa, que era o plano de Deus. Eles tinham que explicar por que ele foi crucificado.
Sim, o relato islâmico é muito estranho. Ele diz que as pessoas pensaram que Jesus foi crucificado, mas quem foi crucificado não era Jesus, mas sim uma outra pessoa.
Isso não começou com o Islã. Na verdade, há um professor cristão do segundo século, seu nome era Basilides (morto no ano 140), que era um agnóstico, e ele escreveu um evangelho gnóstico. Nós não temos esse evangelho, mas temos um pai da Igreja que fala sobre isso, e na sua narrativa, ele diz que existe um sujeito nos evangelhos. Jesus está carregando sua cruz, e pedem outra pessoa para carregar a cruz por ele para o local da crucificação. E, de acordo com Basilides, o que aconteceu é que esta outra pessoa, cujo nome era Simão de Cirene, original de uma cidade que fica no norte da África. Simão carrega a cruz, e quando ele chega lá, Jesus faz uma mudança de identidade, afinal, ele é o filho de Deus e ele pode fazer milagres. Ele faz com que Simão pareça com ele, e ele se pareça com Simão. Então, os romanos pensam que estão crucificando Jesus, mas eles estão crucificando Simão. E Jesus ficou de pé junto à cruz, rindo. Presumivelmente, Simão não achou nada engraçado. (link)
Você acha que as suas conclusões sobre o Jesus histórico estão mais de acordo com visão islâmica de Jesus?
Eu não diria que a minha visão se alinha com a visão muçulmana. Eu realmente acho que Jesus foi crucificado, e que ele realmente foi morto e enterrado. Não estou interessado em saber se Jesus era o Filho de Deus porque eu não acho que Deus existe. (link)
No seu trabalho, você conclui que Jesus Cristo foi um profeta messiânico?
Eu acho que Jesus pensava que ele era o Filho de Deus, no sentido de que ele era especialmente escolhido por Deus. Eu eu acho que Jesus realmente achou que ele seria o Messias, o futuro rei de Israel, afinal foi por isso que eles o crucificaram. Eu acho que isso é historicamente correto. Eu acho que todos os autores do evangelho, todos eles pensavam, em certo sentido, que Jesus era Deus. Se você acha que a bíblia não pode ter erro algum, se for mostrado um erro, então você simplesmente se recusa a admitir que é um erro. Você acha que pode ser reconciliado de alguma forma, ou que haja algo que simplesmente não entendemos, ou, você sabe … (link)
No Alcorão é mencionado que se este livro não fosse de Deus, não haveria nele nenhuma contradição.
Se um livro é sem contradições, não existe nada que diga que ele vem de Deus ou não. Eu tenho listas telefônicas que não possuem erro, mas certamente não acho ele vem de Deus. Não essa é a minha opinião. (link)
Não seria uma condição necessária para um livro de Deus não ter contradições?
Isso é uma suposição sobre que tipo de livro Deus poderia escrever. Eu sei que este é um argumento importante, que os apologistas usam em favor do Islã. Como alguém que não é cristão ou muçulmano, não faz sentido para mim que humanos definam o que Deus deve fazer. Se Deus quer fazer uma revelação tem que ser desse jeito. Você está falando sobre alguém que está além da sua imaginação. (link)
Não deveria haver algo dentro da revelação que a distinguisse da fala humana?
Eu sei que este é o seu argumento, mas eu pergunto: quem diz que deve ser deste jeito? Você? (link)
Se não for por isso, então qualquer um poderia reivindicar profecia?
É isso que os cristãos dizem que os muçulmanos estão fazendo. Os muçulmanos estão apenas reivindicando coisas para si mesmos. (link)
No passado, os profetas vinham com uma espécie de milagres visuais. O profeta final, nós acreditamos, que o profeta Maomé veio com algo que pode ser analisado nos nossos dias. Seria analisável de certo modo que seria possível distingui-lo do discurso humano, Então, este seria o argumento.
Sim. Eu sei. E eu não acredito. Suponha que ele não se chamasse Deus, isso não significaria que ele não é Deus? Eu não me chamo uma pessoa chata, mas isso não significa que eu não seja uma pessoa chata. (link)
Sobre o conceito cristão da Trindade, se ele apenas se baseia em 1 João 5:7.
A doutrina da Trindade não é baseada em um único versículo. Não existe nenhuma doutrina cristã que seja baseada apenas em um versículo. As doutrinas cristãs são baseadas na visão ampla de uma gama de autoridades. A doutrina da Trindade existe porque há lugares onde você tem o Pai, o Filho e o Espírito, como em Mateus 28, há passagens que mostram que Cristo é Deus, e há passagens que mostram que o Espírito é Deus. Então, se você tem Pai, Filho e Espírito, e eles são … [muçulmano intervém] então eles apenas os misturam tudo para justificar uma religião monoteísta … [Bart Ehrman continua] Se você for uma pessoa orientada biblicamente, você desenvolve uma teologia baseada em uma ampla gama de textos bíblicos, não apenas baseado em um versículo. (link)
Porque Bart Ehrman não faz uma análise crítica de Maomé e do islamismo primitivo do mesmo modo que ele faz com Jesus e o cristianismo primitivo?
Ao ser perguntado: “Que tal um novo livro? Que tal trabalhar no Alcorão?”. Bart Ehrman respondeu: “Sim, isso é o que eu farei quando eu deixar de dar valor à minha vida.” (link)
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