Tradução do artigo Islamic homophobia is empowered by leftist silence, escrito por Jimmy Bangash*, e publicado no Queer Majority (acessado em 4 de março de 2021).
* Jimmy Bangash é um psicoterapeuta que cresceu em uma família tradicional pashtun no Reino Unido. Ele é um porta-voz do Conselho de Ex-muçulmanos da Grã-Bretanha, onde trabalha para promover os direitos humanos das pessoas que deixaram o Islã.
Jimmy Bangash é um homossexual muçulmano britânico. Neste artigo, ele critica a postura majoritária da Esquerda, que, se por um lado, diz defender os direitos dos homossexuais, por outro lado se recusa a denunciar a enorme homofobia islâmica. Em termos comparativos, a homofobia islâmica é a maior de todas. Mas a Esquerda a esconde, com graves consequências (Veja uma possivel explicação disso no artigo Marxismo Cultural permite a expansão do islamismo). A política de “dois pesos e suas medidas” por parte da esquerda torna-se evidente.
O artigo
Em comunidades muçulmanas, a homossexualidade está intrinsecamente ligada à ansiedade, intimidação, violência e, em alguns casos, morte. Para muitos, envolve viver uma existência fechada por medo de ser condenado ao ostracismo ou rejeitado. Os ensinamentos teológicos islâmicos, disseminados por instituições religiosas e defendidos por líderes comunitários, vão desde a pregação para nossa execução até o conselho para que vivamos uma vida de celibato. No entanto, vozes de esquerda, historicamente um reduto de apoio LGBT, não condenam suficientemente o tratamento abismal de gays e bi-sexuais de herança muçulmana, nem se mobilizam adequadamente contra essa forma específica e brutal de homofobia.
Este artigo examinará a homofobia na comunidade muçulmana e explorará a relutância da esquerda em criticá-la de maneira consistente e produtiva. Não explorará o crescimento do movimento muçulmano LGBT, que defende a igualdade e a representação de indivíduos LGBT; em vez disso, ele se concentrará na resposta da comunidade muçulmana, dominante e mais ampla, à homossexualidade.
Homofobia no mundo muçulmano
Não é um exagero espúrio afirmar que a homofobia é mais comum entre os muçulmanos do que em outras comunidades religiosas. Pesquisas estatisticamente relevantes de atitudes sociais sustentam consistentemente a verdade dessas afirmações. Esta evidência fornece um quadro sombrio, particularmente ao avaliar as atitudes em países de maioria muçulmana, de onde se originam as comunidades da diáspora ocidental.
Uma pesquisa americana de 2017 descobriu que 51% dos muçulmanos entrevistados expressaram apoio à igualdade no casamento, um número maior em relação aos anos anteriores – mas 34% ainda se opõem a ela. Os meios de comunicação insinuamente saudaram esses 51% como algum tipo de sucesso sobre o cristianismo, citando o número para justificar manchetes como “A maioria dos muçulmanos dos EUA agora apóia o casamento gay, enquanto os cristãos evangélicos brancos permanecem opostos”. Digno de nota nesta tentativa de ofuscamento é a comparação entre uma facção conservadora de cristãos e uma número que combina muçulmanos liberais e conservadores. Em uma comparação mais honesta entre cristãos conservadores e muçulmanos, os dados mostram um retrato muito mais contundente da comunidade muçulmana conservadora.
Na Grã-Bretanha, onde os muçulmanos são mais conservadores do que os americanos, a pesquisa Gallup Coexist Index de 2009 perguntou a 500 muçulmanos se eles acreditavam que atos homossexuais eram moralmente aceitáveis. 100% concordaram que não, uniformemente apresentando atos homossexuais como imorais. Nos anos que se seguiram, houve alguma tração positiva em torno das atitudes dos muçulmanos do Reino Unido em relação à homossexualidade; no entanto, a imagem continua opressiva. Mais notavelmente, uma pesquisa do ICM de 2015 descobriu que 52% dos muçulmanos britânicos achavam que a homossexualidade deveria ser ilegal, com apenas 18% declarando que deveria ser legal. Igualmente condenatório foi que 47% consideraram inaceitável que homossexuais pudessem trabalhar como professores.
Em nível internacional, os dados sobre a homofobia islâmica são ainda mais alarmantes. Um estudo global do PEW de 2013 sobre as atitudes muçulmanas relatou uma condenação quase unilateral da homossexualidade em comunidades muçulmanas em todo o mundo. Os países que expressaram a maior aceitação da homossexualidade entre sua população muçulmana foram Uganda (12%), Moçambique (11%) e Bangladesh (10%), com os outros 37 países, todos de maioria muçulmana, pesquisados mostrando menos de 10%.
Todos os 8 estados ou territórios que impõem a pena de morte para homossexualidade são de maioria muçulmana. Entre aqueles que não o fazem, muitos prendem pessoas por serem LGBT. Todas essas punições são derivadas de interpretações convencionais da Lei Sharia e da Jurisprudência Islâmica, que posiciona a homossexualidade como um dos principais pecados muitas vezes comparados à sodomia e ao adultério. Quando as pessoas são executadas pelo crime de ser LGBT, os métodos de execução preferidos são o enforcamento ou apedrejamento público. Sem surpresa, este clima internacional de execução e prisão incentiva a violência da multidão contra as pessoas LGBT.
Em Brunei , onde as leis existentes já tornavam a homossexualidade punível com pena de prisão por até 10 anos, foi feita uma tentativa, em 2019, para introduzir a pena de morte (por apedrejamento) para criminosos condenados, apesar da existência de longa data de uma moratória contra as execuções por qualquer crime. Justificada por um novo código penal que refletia uma interpretação estrita da Lei Sharia, a política levou a um protesto global significativo, que incluiu boicotes e protestos de celebridades. O governo de Brunei posteriormente cedeu à pressão internacional, retrocedendo da sua posição para esclarecer que a moratória sobre a pena de morte se estenderia aos condenados por “crimes” cobertos pela nova legislação.
Foto da Pew Research:
Impacto: esfera privada
Embora uma contextualização internacional da homofobia islâmica seja importante, seria errôneo presumir que seu impacto prejudicial sobre os indivíduos LGBT ocorre exclusivamente em lugares distantes como o Afeganistão e o Irã. No Ocidente, a cultura da honra – um mecanismo comunitário de controle social no qual táticas coercitivas, como rejeição, perda de status de comunidade e envergonhar os outros são utilizadas para pressionar os membros da família a tomar medidas corretivas contra aqueles que não se conformam com as regras islâmicas – muitas vezes preponderante dentro das comunidades muçulmanas.
Em 2017, Jahed Choudhury , um muçulmano do Reino Unido de ascendência de Bangladesh, casou-se com seu parceiro branco no que foi chamado de “o primeiro casamento gay muçulmano”. Ele foi destaque na imprensa com seu marido e entrevistado em rede nacional. Algumas semanas depois, ele disse a um entrevistador da BBC que membros da comunidade muçulmana cuspiram nele na rua. Ele também revelou que estava recebendo comentários de ódio nas redes sociais e descreveu uma mensagem específica de alguém da comunidade ameaçando jogar ácido nele na próxima vez que o visse. Choudhury então se desculpou com a comunidade muçulmana em rede nacional de televisão pelo crime de ter se casado com seu parceiro do mesmo sexo tão publicamente. Em outras palavras, as ameaças de violência e intimidação tiveram sucesso.
Em 2017, Mahad Olad , um ex-muçulmano gay americano, foi convidado a viajar ao Quênia por sua família, que faz parte da comunidade da diáspora somali. Quando eles chegaram, sua mãe confiscou o passaporte de Olad e informou-o de que sabia que ele era gay e que havia deixado o Islã. Para “salvá-lo”, ela decidiu mandá-lo aos xeques somalis, que o trariam de volta ao Islã e o endireitariam. Somente com a ajuda de ex-muçulmanos da América do Norte Olad conseguiu escapar de seus sequestradores e retornar aos Estados Unidos.
Em outro incidente de 2017, Siddika Reza, que era secretária-geral da organização de fé islâmica NASIMCO (Organização das Comunidades Muçulmanas Shia Ithna-Asheri na América do Norte), participou do casamento público de seu filho com seu noivo. Depois que ela compartilhou fotos do casamento em sua conta de mídia social, mais de 1000 membros da comunidade muçulmana xiita assinaram uma petição pedindo que ela renunciasse, alegando que seu endosso ao casamento de seu filho “vai contra as legítimas interpretações majoritárias da jurisprudência islâmica Jaffari, que a NASIMCO deve defender”- essencialmente, alegando que o endosso público do casamento de seu filho era um endosso ao pecado e, portanto, não era islâmico.
O resultado? Reza renunciou ao cargo. A coerção social da comunidade muçulmana teve sucesso em censurar um membro por ser muito tolerante; neste caso, garantiu que a aceitação do filho pela mãe fosse devidamente punida.
Em 2019, Seran M (nome completo não revelado), um suíço de 17 anos de ascendência iraquiana, acordou na cama com seu pai parado perto dele segurando uma faca e gritando: “Você é gay? Você é gay?” O pai então começou a cortar a garganta de Seran. Felizmente, o adolescente conseguiu pular uma varanda e obter ajuda dos vizinhos; ele foi colocado em coma induzido em um hospital e conseguiu sobreviver.
Embora essas manifestações explícitas de homofobia islâmica sejam relatadas pela mídia, é imperativo entender o quanto permanece oculto. Muitos LGBT de herança muçulmana são forçados a viver estilos de vida enrustidos para evitar enfrentar esses tipos de consequências, com alguns chegando a ter casamentos falsos para evitar serem detectados. O mecanismo de controle da cultura da honra muitas vezes faz com que os parentes cedam à pressão da comunidade e renegem outros membros da família, separando-as e causando repercussões psicológicas traumáticas sobre as vítimas.
Impacto: esfera pública
A influência da homofobia islâmica não se limita à esfera doméstica privada. As ambições de seus adeptos são garantir que os direitos LGBT não sejam aceitos e que a homossexualidade não seja normalizada na sociedade em geral, levando-os a assumir seu comando na arena pública.
Em 2019, a escola primária Anderton Park School em Brimingham, Reino Unido, foi alvo de protesto de membros da comunidade muçulmana de Birmingham por causa de um programa de educação denominado “No Outsiders” (ninguém de fora), bem como outro material que alegou promover a “agenda gay”. Antes de uma liminar forçando a realocação, o protesto foi realizado imediatamente fora dos portões da escola, criando um ambiente assustador e intimidante para os alunos lá dentro. Vídeos podem ser encontrados online, com adultos da comunidade muçulmana de Birmingham gritando “Vergonha! Vergonha! Vergonha!” através de megafones nos portões da escola, com as crianças entre eles encorajadas a cantar junto. Essa conduta deplorável deve ter causado um impacto prejudicial em qualquer adolescente presente que estava aceitando sua sexualidade. Esses protestos continuaram por aproximadamente nove meses e incluíram a exibição de faixas que diziam: “Adão e Eva, e não Adão e Estevão.”
Em um esforço para mostrar apoio a um professor que se recusou a ceder à pressão, indivíduos LGBT de Birmingham decidiram ir à escola e pendurar sinais de solidariedade, como fotos de corações e arco-íris, nos portões da escola. Eles decidiram fazer isso à noite para que não encontrassem os manifestantes e corressem o risco de um conflito direto. Infelizmente, eles não haviam considerado que era Ramadã e que a comunidade muçulmana estaria acordada tarde da noite, comendo antes de jejuar novamente no dia seguinte. Em imagens de vídeo do confronto resultante, membros do sexo masculino da comunidade muçulmana podem ser vistos criando um clima de medo e intimidação, gritando com as pessoas LGBT por entrarem em “nossa comunidade”.
Por fim, alguns muçulmanos começaram a atirar ovos nas pessoas LGBT, que então partiram, abaladas com todo o episódio. Seus símbolos de apoio nos portões da escola foram posteriormente vandalizados.
Os protestos, eventualmente, foram banidos permanentemente pelos tribunais, mas é notável que a escola de Anderton Park tenha suspendido o ensino do programa “No Outsiders” por um período significativo de tempo – uma vitória definitiva para as forças que perpetuam a homofobia islâmica.
Traição da Esquerda
Dados os dados e o impacto prejudicial visível, seria de se esperar que a esquerda, que geralmente se vê como um bastião de apoio aos direitos LGBT, defendesse o desafio contra a homofobia islâmica. Lamentavelmente, não é esse o caso. Considere o clamor que vemos quando cristãos assadores de bolos recusam serviços comerciais para pessoas LGBT; a condenação vocal generalizada da esquerda atinge todos os continentes. Da mesma forma, há protestos públicos esquerdistas em torno da terapia de conversão cristã, galvanizando todo um movimento por sua proibição legislativa. Tal ação é mobilizada por organizações LGBT, comentaristas políticos, ativistas, organizações de direitos humanos e até celebridades, que usam uma retórica na qual a fé cristã é muitas vezes criticada, ridicularizada, e posicionada como arcaica e irrelevante – mas nenhum clamor desse tipo surge quando a homofobia islâmica surge. A esquerda permanece em silêncio quando, por exemplo, clérigos muçulmanos tentam exorcizar demônios gays de membros da comunidade muçulmana.
Como se o silêncio da esquerda não fosse prejudicial o suficiente para os direitos LGBT, suas acusações de racismo e islamofobia contra aqueles que buscam criticar a homofobia islâmica são uma traição flagrante.
Nos protestos escolares de Birmingham mencionados acima, a comunidade LGBT decidiu realizar um contra-protesto depois que os tribunais forçaram os manifestantes muçulmanos a se mudarem dos portões da escola para um local mais distante. Um pequeno contingente de pessoas, predominantemente brancas, e armadas com violões e bandeiras de arco-íris, estava do outro lado da rua dos manifestantes muçulmanos, dedilhando e cantando canções de amor. Dias depois, em um jornal nacional, Saima Razzaq, uma ativista muçulmana local que se descreve como “queer”, afirmou que as ações de contra-manifestantes LGBT brancos “cheiram a uma mentalidade colonial.” Razzaq foi fundamental na resposta da comunidade de Birmingham aos protestos homofóbicos, mas em vez de receber o apoio dos aliados brancos, ela os caracterizou como “salvadores brancos” e declarou que “as respostas devem vir de dentro de nossa comunidade ”.
A mensagem era clara: você não pode defender os direitos LGBT no Reino Unido se você for branco e sua oposição homofóbica não for branca, e fazer isso o torna racista e neocolonialista. Não importava que os muçulmanos que protestavam contra a educação LGBT tivessem deixado claro que queriam que ela fosse interrompida em nível nacional em um país de maioria branca. Somente pessoas da mesma cor e fé teriam permissão para liderar esse desafio. Os direitos humanos universais não podiam mais ser lutados universalmente.
Na marcha do Orgulho LGBT de 2017 , o Conselho de Ex-Muçulmanos da Grã-Bretanha (CEMB) marchou para desafiar a Homofobia Islâmica – com foco particular na Chechênia, onde relatos de perseguição LGBT e campos de concentração gays ultrajaram a comunidade. Eles carregaram faixas listando os países que determinaram a pena de morte para homossexualidade, e exibiram faixas e cartazes provocativos zombando do Islã. Perto deles, um contingente separado de manifestantes do Orgulho ostentava cartazes zombando do Cristianismo. Afinal, o orgulho sempre foi um lugar seguro para criticar a homofobia, fosse ela religiosa, política ou cultural.
Durante a marcha, a polícia foi ao CEMB para dizer a eles que suas placas eram ofensivas e pediu que fossem retiradas. No entanto, eles não abordaram os detentores de cartazes que zombavam do Cristianismo. O CEMB recusou o pedido e continuou a marcha com suas faixas e cartazes.
Dias depois, a mesquita de East London escreveu uma queixa formal à organização Pride citando sua objeção a ser nomeada como uma mesquita que “incitou o assassinato e o ódio aos LGBT”. Imaan, uma organização LGBT muçulmana, divulgou um comunicado à imprensa condenando o protesto. Ambas as organizações alegaram que os cartazes dentro do protesto eram islamofóbicos e causaram danos aos muçulmanos. O Pride emitiu um comunicado a um jornal nacional no qual afirmava que não toleraria a islamofobia e, em seguida, suspendeu o CEMB de marchar nas marchas do Pride subsequentes, enquanto se aguarda uma investigação. A investigação demorou 8 meses, mas no final, o CEMB foi inocentado das acusações e acabou por poder participar na marcha do ano seguinte sem quaisquer restrições.
No entanto, uma mensagem foi comunicada ao público em geral de que as críticas à homofobia islâmica são inaceitáveis. Nesse caso, não importava que alguns dos críticos fossem muçulmanos e outros ex-muçulmanos. Não importava que quase todos os manifestantes fossem diáspora e refugiados, indivíduos que cresceram e viveram sob o Islã e eram de famílias muçulmanas. Não importava que muitos deles tivessem fugido de países e comunidades onde a prisão ou a morte eram a pena para sua sexualidade. Qualquer crítica à homofobia islâmica foi considerada islamofóbica (anti-muçulmana) e racista.
Em 2020, o icônico reality show “RuPaul’s Drag Race” convidou o ator Jeff Goldblum para aparecer como jurado convidado. Os competidores da drag queen fizeram uma passarela com o tema americano “Stars and Stripes”. O competidor iraniano-canadense Jackie Cox usava um caftan listrado vermelho e um hijab azul delineado com 50 estrelas de prata; ela afirmou: “Você pode ser do Oriente Médio, pode ser muçulmano e ainda pode ser americano”.
Goldblum, instigado pela roupa do artista drag, perguntou: “Há algo nesta religião que seja anti-homossexual e anti-mulher? Isso complica o problema? Estou apenas levantando e pensando em voz alta e talvez sendo estúpido.” RuPaul respondeu que a apresentação era complexa e que Drag “sempre abalou a árvore”.
A mídia social e convencional explodiu com condenações ao comentário de Goldblum, acusando-o de racismo e islamofobia. Seus comentários foram rotulados como perigosos. A organização Muslim Advocates emitiu um comunicado instando Goldblum a se desculpar; eles afirmaram: “Não se desculpar por esses comentários é um endosso silencioso ao preconceito anti-muçulmano”. Em outras palavras, mais uma mensagem de condenação para aqueles que buscam questionar a homofobia islâmica (assim como o sexismo islâmico, neste caso), e tal questionamento foi caracterizado como anti-muçulmano.
Há uma ironia dolorosa que não pode ser perdida em um homem gay de herança iraniana (Jackie Cox) usando um hijab para simbolizar as mulheres muçulmanas. As mulheres muçulmanas no Irã há muito lutam contra o hijab obrigatório e as leis de véu forçado. À medida que movimentos como o White Wednesday ganharam força nos últimos anos, as mulheres iranianas estão cada vez mais resistindo e desafiando o hijab. Leis teocráticas e misóginas permitem que as mulheres sejam punidas por aparecerem em público com o cabelo à mostra. A BBC relata que 35 mulheres foram presas desde 2017, somente na capital Teerã. Algumas dessas mulheres relataram ter sido torturadas e espancadas.
Embora essa traição da esquerda seja abismal, sua tentativa de policiar a resposta do público à arte de Jackie é nada menos que uma distopia orwelliana. Por meio de sua arte, um artista drag foi capaz de expressar suas “dúvidas” sobre a forma como as pessoas LGBT são tratadas nas comunidades muçulmanas e provocar questionamentos sobre o assunto em seu público. No entanto, a resposta da esquerda foi lançar acusações de racismo ao público e evitar qualquer diálogo útil em torno da verdadeira questão. A mensagem foi novamente clara: mesmo quando apresentado a arte por e sobre pessoas queer de herança muçulmana, não se pode examinar ou questionar a homofobia islâmica. Todo diálogo em torno do assunto deve colocar o Islã sob uma luz positiva; fazer o contrário é anti-muçulmano, islamofóbico e racista.
Felizmente, Goldblum não se desculpou – mas o governo iraniano também não se desculpou pela execução de pessoas LGBT inspiradas no Islã e na Sharia. O Irã ainda aplica a pena de morte para o “crime” de duas pessoas do mesmo sexo se amando. O grupo Muslim Advocacy é rápido em se indignar com uma cena na Drag Race de RuPaul, mas não parece ter escrito ao governo iraniano requerendo desculpas pelo assassinato sancionado pelo estado, nem declarou o assassinato de gays e bissexuais muçulmanos no Irã como anti-muçulmano.
O Islã não é uma raça
A palavra islamofobia é uma fusão deliberada que mistura crítica a uma ideologia (Islã) com crítica a um povo (muçulmanos). Isso permite o silenciamento de quaisquer críticos do Islã por meio da acusação de islamofobia, que carrega uma acusação inferida de ódio contra os muçulmanos – algo que seria muito melhor descrito como muslimophobia ou preconceito anti-muçulmano. Devido a essa confusão, o medo de serem acusados de islamofobia faz com que os indivíduos hesitem em destacar a natureza abominável da homofobia islâmica, suas raízes teológicas e a correspondente jurisprudência islâmica que resulta na perseguição contínua de pessoas LGBT.
O Islã é um conjunto de idéias exatamente da mesma maneira que o Cristianismo, o Capitalismo, o Comunismo e o Hinduísmo são conjuntos de idéias. As ideias devem estar abertas ao escrutínio, avaliação e crítica. Eles devem estar abertos à sátira e ao ridículo. A crítica das idéias leva ao avanço da sociedade, como pode ser visto na substituição generalizada da superstição pela razão e pelo método científico. Cansurar as críticas ao Islã acabam prejudicando os muçulmanos e indivíduos de herança muçulmana; tal censura permite que práticas regressivas e prejudiciais (como exorcismos islâmicos gays no Reino Unido) continuem, em vez de serem examinadas e interrompidas.
A maioria dos adeptos de uma ideologia pode fazer parte de uma demografia racial particular, seja na realidade ou na imaginação popular. A crítica a essa ideologia não é, por padrão, uma crítica da demografia racial. Se fosse, pode-se argumentar que a crítica ao capitalismo é anti-branco, a crítica ao comunismo é anti-chinesa, e a crítica ao hinduísmo é anti-sul asiático / indiano. E é importante lembrar que, em qualquer caso, os muçulmanos são um grupo muito diverso racial e etnicamente.
Os muçulmanos são pessoas e, como tal, devem ser protegidos da intolerância. Embora todo preconceito seja inaceitável, devemos reconhecer que usar fatos para destacar crenças e atitudes problemáticas dentro da comunidade muçulmana não é preconceito – particularmente quando os próprios fatos destacam a discriminação desenfreada em relação a uma minoria sexual que muitas vezes precisa de proteção. Destacar a agressão e perseguição homofóbica é uma responsabilidade que recai sobre a sociedade civil, e essa responsabilidade inclui a homofobia islâmica.
É hipócrita da esquerda permitir o destaque consistente e a condenação da homofobia cristã e posicionar os cristãos (e, por extensão presumida, os brancos) como pensadores robustos, racionais e críticos, capazes de resistir a essas críticas enquanto caracterizam os muçulmanos como “pessoas morenas” frágeis que precisam de proteção contra dissonância cognitiva e pensamento crítico. Essa adesão à “ fragilidade islâmica ” é racista e paternalista.
Qualquer foco na homofobia islâmica é inevitavelmente desafiado pela esquerda com a pergunta: “E quanto aos cristãos?” É perfeitamente aceitável focar em uma forma específica de homofobia. Na verdade, é essencial que isso seja feito e, ao fazê-lo, é apropriado enfocar as piores formas de homofobia. A tentativa de abordar a homofobia islâmica usando uma abordagem adaptada à homofobia cristã, ou um modelo projetado para combater a homofobia na China, deixará de lado muitas das nuances específicas da fé islâmica. Também não terá sentido para um público muçulmano que, em geral, considera o cristianismo ou o ateísmo errôneo ou mesmo herético.
Um foco específico sobre a homofobia islâmica permite a compilação e avaliação focadas de dados, teologia, história e atitudes. Isso, então, leva a sugestões específicas para soluções, alocação de recursos, responsabilidade e prazos para melhorias. Para planejar medidas corretivas específicas, devemos olhar para a questão específica.
Não devemos ser silenciados por acusações de islamofobia ou racismo em nossos esforços para erradicar a forma mais perniciosa de homofobia que atualmente persegue pessoas LGBT em todo o mundo. Em vez disso, devemos permanecer firmes e aumentar nosso escrutínio da homofobia islâmica, mantendo-a, e à comunidade muçulmana, nos mesmos padrões que aplicamos ao resto da sociedade. Fazer qualquer coisa menos é o preconceito de baixas expectativas e um duplo padrão racista.
Anônimo diz
Sou gay e quero apenas amar e viver em paz! Tenho hoje um filho e sou casado! E penso que lutar contra a homofobia, racismo e qualquer discriminação tem haver com caráter do que com a ideologia política! Chega de ódio e preconceito! Vamos viver em paz!
Anônimo diz
E faço críticas também as atitudes extremistas islâmicas… São coisas inaceitáveis!