No vídeo passado, nós tentamos responder à pergunta ‘O que é o islamismo? Nós aprendemos, dentre outras coisas, que, a rigor, o islamismo é Maomé. Tudo o que se sabe sobre o islamismo vem dos dizeres e das ações de Maomé. Ou seja, sem Maomé não existiria islamismo. Maomé é tão importante que o próprio Alcorão diz que obedecer a Maomé é o mesmo que obedecer a Alá. O Alcorão também diz que Maomé é o exemplo de conduta. Tudo o que Maomé fez é correto e exemplar. Nós aprendemos também que os livros sagrados do islamismo são o Alcorão e as tradições de Maomé. O Alcorão é considerado como contendo as recitações feitas por Maomé. Já as tradições de Maomé estão contidas na Suna, que pode ser subdividida nos chamados hadices, a descrição dos feitos e dizeres de Maomé, e na Sira, a biografia de Maomé. O Alcorão, os hadices e a sira são a “trilogia do islamismo.”
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Neste vídeo iremos nos ater aos livros que compõem a Trilogia do Islamismo. Inicialmente, iremos ver quando eles foram escritos. Depois disso, iremos tratar de cada um deles. O vídeo termina fazendo menção a outras coleções que foram escritas na tentativa de interpretar a Trilogia através de comentários, os chamados tafsir, bem como codificá-la na lei islâmica, a Sharia.
Do ponto de vista estritamente histórico, tudo o que se sabe sobre o islamismo começou a ser escrito 150 anos após a morte de Maomé, supostamente ocorrida no ano 632 depois de Cristo. Eu acho importante ressaltar este fato. Vamos olhar para a figura.
Ela nos mostra o desenvolvimento histórico da trilogia. Repare que o que está em itálico representa eventos descritos 150 anos depois deles terem ocorrido, ou seja, não existem documentos históricos datados da época que teriam ocorrido. A figura apresenta uma linha de tempo que começa a partir do momento que Maomé teria começado a receber as suas revelações, no ano 610 depois de Cristo, e teria morrido, no ano 632 depois de Cristo. Quando Maomé morreu não existia alcorão. O primeiro Alcorão que se pode comprovar ter existido foi escrito 120 anos após a morte de Maomé, o chamado o alcorão de Cufa. O primeiro livro que narra a vida de Maomé foi escrito por ibn Hisham, mais de 150 anos após a morte de Maomé. Esse livro é a biografia de Maomé, chamada de sira, supostamente sobre um escrito anterior, porém inexistente, escrito por ibn Ishaq. Mais de duzentos anos após a morte de Maomé começaram, então, a serem escritos os chamadas hadices, que são relatos de dizeres e os feitos de Maomé. Pode-se reparar que o esforço para descrever os primórdios do islamismo começou durante o califado abássida, mais de 150 anos após a morte de Maomé. Isso é importante ressaltar.
Agora, vamos tratar da Trilogia, e do seu conteúdo. De novo, a trilogia consiste no Alcorão, na Sira (a biografia de Maomé) e nos hadices (suas palavras e ações).
Poucas pessoas entendem o islamismo porque sua doutrina se baseia nesta trilogia, em textos escritos de maneira obscura.
Existem apenas duas autoridades definitivas sobre o islamismo – Alá e Maomé. Alá é encontrado no Alcorão. Maomé é encontrado na Sira e nos hadices.
A maneira mais fácil de estudar o islamismo é ver o quadro todo. Por exemplo, o Alcorão por si só não pode ser entendido devido à falta de contexto, mas quando a vida de Maomé é adicionada, faz sentido.
A maioria das pessoas acham que o islamismo é baseado no Alcorão. No entanto, o Alcorão diz em 91 versos que cada muçulmano deve imitar Maomé nos mínimos detalhes do dia a dia. Mas não existe informação no Alcorão sobre Maomé. Para saber sobre Maomé, e compreender o contexto dos versos do Alcorão, deve-se consultar as suas tradições, na Sira e nos Hadices. Fica então evidente a interdependência entre estes três textos.
1. Alcorão
O Alcorão é o mais famoso dentre os livros menos lidos do mundo. Você conhece alguém que leu o Alcorão? E, mais importante, que o tenha entendido? Até mesmo muçulmanos têm dificuldade com o Alcorão. Muitos o decoram em árabe, ou seja, sabem recitá-lo sem saber o que estão recitando.
Alcorão, que significa “recitação”, é um livro considerado sagrado pelos muçulmanos, que acreditam conter as palavras inalteradas da sua divindade, Alá. Tudo o que está escrito no Alcorão saiu da boca de Maomé (e apenas dela). Segundo o Alcorão, o Alcorão é perfeito, completo, universal e final, imutável e único, eterno, e protegido por Alá (Alcorão 85:22; 10:15; 15:9 e 18:27). O Alcorão não contém um único erro, por menor que seja, uma vez que vem diretamente de Alá, o único Deus do universo. O Alcorão foi criado antes do universo, existindo eternamente em tábuas de barro no céu (cf. Alcorão 85:22).
Por si só, o Alcorão é um livro sem contexto. Deixe-me explicar. Imagine um livro no qual o enredo é retirado e os capítulos são organizados, não por ordem lógica, mas por ordem de tamanho: começando com o maior capítulo e terminando com o menor capítulo. O livro ficaria confuso, não é mesmo? O Alcorão é exatamente desse jeito.
Considere o seguinte. As recitações de Maomé são “revelações” que Maomé disse ter recebido ao longo dos 23 anos da sua vida profética. Durante este tempo, essas “revelações” iam surgindo atendendo às necessidades momentâneas de Maomé. Mas o contexto delas não é explicado no Alcorão. Para entender o contexto no qual o Alcorão foi “revelado” é necessário ler a biografia e as tradições do profeta.
Quando Maomé morreu, em 632 DC, não existe Alcorão. A tradição islâmica diz que o segundo califa Otomão agrupou todos os fragmentos que pode, gerando a primeira compilação do Alcorão em 652. Otomão mandou queimar todos os fragmentos, e redigiu cinco cópias, que foram enviadas para as capitais das cinco províncias ocupadas militarmente pelos árabes. Todas as cópias se perderam, o que gera a dúvida se essa história é verdade ou apenas lenda.
A primeira edição escrita do Alcorão, que se pode comprovar, foi compilada em Cufa, nos arredores de Bagdá, em torno do ano 750 DC, ou seja, um século após a morte de Maomé (várias outras compilações seriam feitas após esta). O Alcorão é comparável ao Novo Testamento em termos de tamanho (mas não em termos de mensagem).
Existem, hoje, dezenas de versões diferentes do Alcorão, em árabe.
O Alcorão não é suficiente para se praticar o islamismo, pois ele não contém todas as informações para tal. É preciso olhar as tradições de Maomé para saber o que ele fez, pois deve-se praticar o islamismo como Maomé teria feito.
2. Sīrat Rasūl Allāh
Sīrat Rasūl Allāh (A Vida do Mensageiro de Alá), é a “biografia oficial” de Maomé, escrita por Muḥammad ibn Isḥaq ibn Yasār, geralmente referido apenas como ibn Ishaq. Este livro foi escrito em Bagdá, mais de 100 anos após a morte de Maomé, baseado nas tradições orais (alguns dizem que foi escrito em 750 DC, outros dizem que o ano foi 768 DC). O texto original de ibn Ishaq se perdeu. O que temos hoje é uma versão do trabalho de ibn Ishaq escrita por ibn Hisham, várias décadas depois. Não existe nenhuma fonte mais recente ou mais precisa do que essa. Este livro ajuda a colocar as “revelações” do Alcorão em contexto. Nele, aprende-se que Maomé não foi o santo que os muçulmanos apregoam ou acreditam. Sem esta biografia que registra em crônica os primórdios do islamismo, a religião nunca teria existido, pois nada se saberia sobre Maomé, o profeta solitário do islamismo e a única voz de Alá. Sem a biografia de Ishaq, não existiria profeta, e, sem profeta, o islamismo não existiria.
3. Hadices
Os hadices são frases ou pequenos parágrafos que descrevem as tradições do profeta. Eles contêm narrativas de eventos da vida e dizeres de Maomé, e de seus companheiros, indicando o nome da pessoa que os narrou.
Por exemplo, veja este hadice de Bukhari, 2926, e Muslim, 2922, que diz:
“Abu Huraira reporta que o mensageiro de Alá (paz esteja sobre ele) disse: A última hora não virá a não ser quando os muçulmanos estiverem lutando contra os judeus, e os matando, de modo que os judeus vão se esconder atrás de uma pedra ou uma árvore, e a pedra ou a árvore irá dizer: Muçulmano, escravo de Alá (Abdullah), existe um judeu atrás de mim; venha e mate-o.”
As mais competentes e dominantes coleções dos hadices foram compiladas por Bukhari e Muslim, a partir de 850 DC (ou seja, mais de duzentos anos após a morte de Maomé). Estas coleções têm relevância por se tornarem a base do salafismo, o islamismo fundamentalista. Nestes textos, Maomé explica o Alcorão e estabelece a Suna islâmica e a Sharia (lei islâmica), ao esclarecer sua mensagem em relação a Jihad, luta, comércio de escravos, pilhagem, taxação, as virgens do paraíso, opressão e intolerância para com as mulheres, cristãos e judeus, bem como a sua hostilidade aberta contra liberdade de escolha, e afinidade com ritos pagãos.
Outras coleções importantes foram compiladas por al-Sughra, an-Nasa’i, Abu Dawood, al-Tirmidhi, ibn Majah e Malik. As coleções de hadices de Bukhari e Muslim são chamados de sahih, que os indica como autênticos ou confiáveis. As demais coleções possuem hadices classificados como sahih (autênticos), hasan (bons) ou daif (fracos).
A “bíblia do islamismo”
A trilogia é o Alcorão, a Sira e o Hadice. A trilogia é a “bíblia do islamismo”, e o Alcorão é a sua menor parte. Se contarmos as palavras de cada texto, descobrimos que o islamismo é 16% Alá e 84% Maomé.
Todos os fundamentos da doutrina islâmica são encontrados na trilogia. Depois de saber a trilogia, você sabe todos os fundamentos do islamismo. Há uma notícia muito boa aqui. Se você entender a vida de Maomé, você compreende a maior parte do islamismo. Qualquer um pode entender a biografa de um homem. Maomé nasceu, foi criado como um órfão, tornou-se um homem de negócios, em seguida, um profeta. Na última fase da sua vida, ele se tornou um político e guerreiro. Quando ele morreu, todos os árabes sob o seu alcance eram muçulmanos e ele não tinha um único inimigo vivo. Qualquer um pode ler e compreender a sua vida e, portanto, entender o islamismo
História e comentários (tafsir)
Uma coleção particular foi escrita por al-Tabari, sendo considerada como a História do Islamismo. Ela descreve como Maomé chegou ao poder. Este tratado foi compilado em Bagdá, entre os anos 870 e 920 DC. A descrição de al-Tabari, baseada nos hadices, das palavras e feitos de Maomé como elas teriam sido passadas através dos companheiros do profeta, permanece sendo a mais antiga narrativa não-editada, sem censura, e integral dos primórdios do islamismo. É a narrativa da história de um terrorista cruel, um pirata movido a dinheiro, e pervertido sexual. É alarmante que existam pessoas que confiem no testemunho de Maomé. Ao mesmo tempo, compreende-se, através das palavras e feitos de Maomé, porque os muçulmanos saíram pilhando o mundo.
Al-Tabari também escreveu uma coleção de tafsirs, ou seja, comentários sobre o Alcorão. Uma outra coleção de comentários muito importante, foi escrita por ibn Kathir, no século XIV. Além destas duas, existem outras coleções de comentários, mas essas duas são as mais importantes.
Lei islâmica (Sharia)
A codificação do islamismo em lei foi feita por diferentes escolas de jurisprudência, que levam o nome dos estudiosos que a teriam iniciarado. No mundo sunita, existem as escolas Hanafi, Maliki, Shafi’i e Hanbali. Os xiitas possuem as escolas Twelver, Zaidi e Ismaili. Existe ainda a escola Ibadi, seguida pelos muçulmanos do Omã.
Resumo
Neste vídeo nós aprendemos que:
- Tudo o que se sabe sobre Maomé começou a ser escrito mais de cem anos após a sua morte. Seria como se historiadores estivessem hoje escrevendo os primeiros relatos sobre a Guerra do Paraguai baseados em narrativas orais dos descendentes daqueles que lutaram nela.
- A “bíblia do Islamismo” é a Trilogia, formada pelo Alcorão, biografia (sira) e hadices.
- O Alcorão é como um livro no qual o enredo foi retirado e os capítulos reorganizados por tamanho: começando com o maior capítulo e terminando com o menor capítulo.
- Para se compreender o contexto das “revelações do Alcorão” é preciso consultar a biografia e os hadices.
- O islamismo é 16% Alá e 84% Maomé.
- O Alcorão é um livro confuso. Para esclarecê-lo, estudiosos escreveram comentários, chamados de tafsir.
- A lei islâmica Sharia, foi codificada baseada no Alcorão e nos hadices.
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