Estamos todos preocupados com os eventos que vem se desenvolvendo na Ucrânia. A invasão russa pode ser vista como o clímax de tensões que vem se acumulando desde o colapso do império soviético, e que agora, desembocam em uma guerra. Existem muitos detalhes e nuances que vem sendo tratadas por diversos comentaristas e analistas políticos e militares.
Mas dentre diversas noticiais alarmantes, uma nos chama a atenção, o fato de que ambos os lados estarem usando combatentes jihadistas.
Infelizmente, não é de hoje que jihadistas vem sendo utilizados como mercenários em diversos conflitos. Existe o exemplo clássico do batalhão nazista Waffen SS formado por muçulmanos bósnios e albaneses nos Balcãs durante a segunda guerra mundial. Outros exemplos incluem o financiamento dos mujahadin no Afeganistão pelos EUA, emprego de jihadistas nos conflitos relativos ao desmembramento da antiga Iugoslávia, e financiamento de jihadistas pelos EUA visando derrubar o governo sírio de Bashar al-Assar.
Putin, um líder aclamado por muitos como o grande protetor da civilização cristã ortodoxa, está agora trazendo mercenários islâmicos da Síria para combater os cristãos ortodoxos, juntando-se a seus mercenários islâmicos chechenos para fazer o mesmo. Por outro lado, a Ucrânia também está aceitando jihadistas chechenos com bom grado.
Jihadistas chechenos
A Chechênia é uma região localizada no Norte do Cáucaso, uma república membro da Federação Russa, um estado estritamente conservador com a maioria dos muçulmanos sunitas. Após a dissolução da União Soviética, a Chechênia tentou formar um estado independente separatista. As autoridades russas impediram isso, impondo um regime pró-russo em 2003, após duas guerras sangrentas, conseguindo cooptar o apoio de uma grande facção dos senhores da guerra chechenos.
Ramzan Kadyrov, o homem forte checheno e aliado próximo de Putin, atua como chefe da República Chechena desde 2007. O líder, apoiado pelo Kremlin, impôs rigorosas normas sociais islâmicas incentivando a poligamia e promovendo o envio de seus combatentes islâmicos para o exterior. Esses combatentes foram destacados em operações especiais no Líbano, Geórgia e Síria como ativos estratégicos da política externa russa. Muitos são veteranos das guerras no Afeganistão e na Síria, ganhando reputação por uma crueldade e disciplina que os fazem temidos combatentes.
Na Síria, a Rússia usou as autoridades e redes islâmicas chechenas em uma tentativa de espalhar sua influência entre os muçulmanos sírios. Na cidade de Homs, os moradores ficaram surpresos ao ver “soldados russos realizando rituais de oração islâmicos na rua”. Com essas iniciativas cuidadosamente organizadas, a Rússia quer aparecer como um poder pós-imperial benevolente que pode se afiliar a populações cristãs e muçulmanas sob sua “proteção”.
O mufti supremo da Chechênia, Salah Mezhiev, igualou a invasão russa na Ucrânia com a jihad em defesa de Alá. Ele declarou que os muçulmanos tinham o “dever” de lutar no lado russo “pelo Alcorão e pelo Profeta”. No mesmo dia, o líder checheno Kadyrov disse:
“Não tente nos atrapalhar. Não vamos parar. Estamos sob ordens. Estamos em uma jihad… Aqueles que morrem nesta guerra serão mártires, não há dúvida sobre isso.”
Isso é muito sério. Jihad significa “guerra para estabelecer a religião” (ou seja, o islamismo).
Em 25 de fevereiro, um grande comício foi realizado para mercenários pró-russos na capital da Chechênia, Grozny. Mais de 70.000 voluntários chechenos estavam prontos e dispostos a lutar pela Rússia na Ucrânia, disse Kadyrov. Entoando o grito de guerra islâmico Allahu akbar (Alá é o maior), os jihadistas chechenos prepararam-se para a luta contra o povo cristão ortodoxo da Ucrânia.
De acordo com alguns relatórios não verificados, há também cerca de 200 a 300 chechenos lutando pela Ucrânia. O confronto entre a Rússia e a Ucrânia até causou uma espécie de racha entre os chechenos, já que alguns chechenos atualmente ativos na Síria denunciaram as forças de Kadyrov e expressaram sua intenção de lutar contra a Rússia.
“Os chechenos que lutam com o exército russo são apóstatas”, disse um jihadista não identificado ao Al-Monitor. “Eles se afastaram da religião do Islã, mesmo que reivindiquem ser muçulmanos que jejuam e realizam as cinco orações diárias. Eles estão do lado de um inimigo que mostra abertamente inimizade contra o Islã. Voluntariar-se no exército russo é blasfêmia e apostasia, muito menos participar de uma guerra destrutiva contra a Ucrânia.”
Jihadistas oriundos da síria
Em uma reunião do Conselho de Segurança da Rússia, o ministro da Defesa, Sergei Shoigu, disse que havia 16.000 voluntários no Oriente Médio que estavam prontos para lutar ao lado das forças apoiadas pela Rússia na região separatista de Donbas, no leste da Ucrânia.
Putin disse:
“Se você vê que há essas pessoas que querem por conta própria, não por dinheiro, para ajudar as pessoas que vivem em Donbas, então precisamos dar-lhes o que eles querem e ajudá-los a chegar à zona de conflito.”
O que o emprego de jihadistas significa
De ponto de vista islâmico, esta guerra entre Rússia e Ucrânia não passa de um conflito entre dois povos cristãos, logo, descrentes. E eles não vão ter pena alguma deles. Além do mais, ao encararem essa participação como uma jihad, eles têm em mente o propósito de propagar o islamismo. Espera-se que os jihadistas desempenhem o papel de assassinos e sabotadores durante o conflito, e, com a esperada vitória russa, atuarem como policiais militares nas principais cidades da Ucrânia. Ou seja, eles estão indo para a Ucrânia com a intenção de ficar, ganhando de graça uma ponta de lança para propagarem o islamismo através da jihad demográfica, formando comunidades que sejam capazes de atrair muçulmanos de outras partes, e gradativamente aumentando a influência política no local. Ou seja, usar do mesmo padrão que vem se mostrando vitorioso ao longo da história.
Vou repetir aqui parte de um parágrafo de um artigo onde eu tratei da islamização da Indonésia, que descreve uma estratégia que pode ser aplicada em qualquer lugar:
A conquista islâmica da Indonésia envolveu todos os aspectos da jihad islâmica, seja a jihad demográfica (casar com quantas mulheres locais – não muçulmanas – for possível, ter muitos filhos e cria-los para serem muçulmanos devotos, convencer homens a se tornarem muçulmanos para poderem se casar com muçulmanas, criar comunidades fechadas que se distingam legal e culturalmente da comunidade nativa, e se aproximar dos governantes exigindo tratamento diferenciado e tentando influenciá-los, ou mesmo, converte-los), a jihad armada, pela espada, através de conflitos, pequenos ou grandes, e, no poder, perseguir os não muçulmanos, criando todos os tipos de dificuldades nas vidas diárias dos nativos daquela região que não sejam muçulmanos para tornar suas vidas tão insuportáveis que a única opção para se livrar da perseguição é se tornar muçulmano.
APÊNDICES
Vídeo externo que trata do assunto dos chechenos
Este vídeo do Canal Mundo Militar explica o motivo pelo qual jihadistas chechenos estão lutando para os dois lados.
Vídeo externo sobre a questão dos “jihadistas sírios”
\Ucrania-2022-Jihadistas-lutando-no-conflito
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