Marie-Thérèse Urvoy é professora emérita da Universidade Michel de Montaigne Bordeaux 3 e do Instituto Católico de Toulouse. Marie-Thérèse Urvoy ensina islamologia, história medieval do Islã, árabe clássico e filosofia árabe. Ela é autora ou coautora de cerca de vinte livros sobre o Islã. O seu último livro é Islam et islamisme, frères ennemis ou frères siamois? (Islão e islamismo, irmãos inimigos ou irmãos siameses?)
Em entrevista para o Valeurs Actualles, a Professora Emérita de Estudos Islâmicos Marie-Thérèse Urvoy adverte para a subversão gradativa promovida pelo islamismo que pode ser resumida pela frase: “Tomaremos o poder usando as suas leis e os governaremos com as nossas leis.” Ela diz: “Quando a demografia permite, o islamismo não quer se separar. O islamismo trabalha para explorar os recursos administrativos e financeiros do país anfitrião com a intenção de subvertê-los em favor da comunidade universal islâmica, chamada de Ummah.” A professora Urvoy cita como exemplo Imam Iquioussen (um famoso pregador muçulmano na internet), que exorta seus irmãos muçulmanos a negociarem com os candidatos nas eleições, trocando voto por influência política.
Como vários estudiosos ocidentais, a professora Urvoy tenta distinguir entre o islamismo religioso, que ele chama de islão, e o islamismo político, que ela chama simplesmente de islamismo. Ela se refere ao islamismo como uma “religião dilacerada por uma ambiguidade inicial”.
A professora Urvoy ressalta a diferença entre o conteúdo do Alcorão de Meca e o Alcorão de Medina. O Alcorão de Meca tinha um aspecto “avisador”. Mas o Alcorão de Medina, que constitui a maior parte do texto, dá ao islamismo uma imagem de autoridade temporal e ação guerreira. E é exatamente este último aspecto que tem sido considerado pelas instituições islâmicas como os fundamentos da comunidade, tornando-se preponderante no legalismo jurídico islâmico.
Segundo a professora Urvoy, foi apenas em 1925 que o caráter político do islamismo começou a ser questionado pelo egípcio Ali Abdelrazik, o que o levou a ser expulso do corpo dos ulemás (doutores do islamismo). Mais tarde, o mesmo foi feito pelo sudanês Mahmoud Mohamed Taha, fato que o levou a ser julgado como apóstata e enforcado em 1985. Questionar o establishment islâmico pode ser mortal.
Ao ser questionada sobre a demanda por uma reforma, a professora Urvoy disse: “Desde o início do islamismo há uma tensão entre as fórmulas radicais e as exigências do realismo social. Essa tensão é perpetuada pela ambiguidade do texto fundador, que funde, com a mesma autoridade, um “ditado divino” com tendências antitéticas.”
Perguntada sobre a incitação ao terrorismo existente em textos islâmicos, Alcorão e hadice, a professora Urvoy disse: “Não vou repetir a lista de passagens violentas nos textos fundadores, lista que foi feita em outras obras que não a minha. Recordo-vos, por outro lado, que em várias ocasiões, Deus, no Alcorão, sublinha explicitamente o “terror” que ele “lança” contra os grupos contra os quais os seus fiéis combatem, e a violência psicológica que exige e determina a ação humana eficaz de parte dos lutadores da fé.”
Quando perguntada sobre a escolha do muçulmano, do mais virulento ao mais sociológico, a favor da comunidade islâmica, a Ummah, a professora Urvoy explicou que “a comunidade islâmica é vivenciada por seus membros com o que o Alcorão chama de “o Partido de Deus”. Os muçulmanos devem, portanto, agir como vigários de Deus. Como exemplo, acabamos de ver, muito recentemente, um tal proprietário de um açougue halal que se recusa a qualificar seu estabelecimento como “açougue francês” mas sim como um “açougue muçulmano”. Em muitos cuja fé está enfraquecida ou mesmo sufocada, ainda há um sentimento de pertencimento e eleição. Daí uma grande suscetibilidade e, em situações de confronto, uma tendência à vitimização. Ela ressalta que, “na prática, o que um muçulmano não faria por causa de sua crença, ele fará por razões de solidariedade comunitária.”
A professora Urvoy termina a entrevista opinando sobre o possível diálogo com o Islã. Ela diz: “Com o próprio Islã, nada é possível, exceto submeter-se à palavra de Deus formulada no Alcorão, o que é a própria negação da ideia de diálogo.”
Sim, submissão é a própria negação do significado de diálogo.
Eu concluo este artigo citando um comentário bastante interessante e útil feito pela professora Urvoy, sobre como entender o islamismo. A professora Urvoy diz que a abordagem ao fato islâmico é uma tarefa difícil e longa, e que não basta ter feito turismo ou ter um colega muçulmano no trabalho com quem nos relacionamos bem. Igualmente, não basta seguir os lugares-comuns infundados, repetidos pela mídia. Segundo ela, a abordagem do fato islâmico requer um grande esforço, algo semelhante a “um verdadeiro ascetismo moral e intelectual.”
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