Este artigo trata de Cadija, a primeira esposa de Maomé. Cadija era uma quarentona viúva, rica e influente. Ela escolheu um jovem primo, pobre, e 15 anos mais novo que ela para se casar e preencher suas noites vazias. Eles se casaram 5 anos antes de Maomé começar a receber as primeiras “revelações.” O dinheiro e influência de Cadija seriam fundamentais para Maomé propagar a nova religião que ele inventava. Cadija morreu 2 anos antes de Maomé se mudar de Meca para Medina, quando ele passou de pregador (fracassado) para Senhor da Guerra (vitorioso). Será que Cadija aprovaria esta transformação de Maomé? Será que se Cadija fosse viva, ela teria mantido Maomé sob suas rédeas, impedindo-o de cometer todas as atrocidades que ele cometeu a partir de Medina?
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“Cadija, a rica e poderosa mulher que foi chave no nascimento do Islamismo” é o título de um artigo publicado em 15 de dezembro deste ano pela BBC Brasil. O artigo, de autoria Margarita Rodríguez, e que trata da primeira esposa de Maomé, Cadija (Khadija), é, em geral, correto. Porém, ele é recheado de afirmações e narrativas que representam mais a visão romantizada daquilo que muçulmanos modernos gostam de sonhar, do que o que existe escrito de verdade nas fontes primárias do islamismo.
Por exemplo, muçulmanos citados no artigo dizem que as mulheres de hoje aspiram fazer o que Cadija fez, que o Islã deu mais direitos e destaques às mulheres da época, ou que Cadija e Aixa (Aisha) (a esposa pré-pubere de Maomé) não reconheceriam o islamismo de hoje. Seriam estas afirmações sonho ou realidade?
(Leia depois um resumo dos “direitos da mulher” sob o islamismo)
Neste artigo, eu busco distinguir entre aquilo que sabemos a partir das fontes primárias e aquilo que muçulmanos romantizam, dentro do seu esforço de atrair e converter os outros ao islamismo (processo que eles chamam de dawa – “dáua”), e iludir os outros com a idéia lúdicra de que o islamismo é feminista e progressista.
Primeiro, eu irei apresentar a Cadija que conhecemos a partir das fontes primárias islâmicas. Depois, eu irei destacar o que o artigo em questão romantiza e inventa.
Sem Cadija, Momé nunca teria se tornado um profeta.
Fonte de conhecimento sobre Maomé e seus contemporâneos
Em primeiro lugar, é preciso compreendermos que tudo o que sabemos sobre Maomé, e as pessoas que viveram ao seu redor durante a sua vida, vem de escritos feitos 200 anos após a sua morte. Não existe relato histórico contemporâneo a Maomé oriundo de fontes islâmicas.
Tudo o que sabemos sobre Maomé vem da biografia de Maomé (Sira) e das coleções de dizeres e feitos de Maomé, os chamados hadices. A sira e os hadices formam as Tradições do Profeta (Sunna).
A primeira biografia de Maomé foi escrita por ibn Ishaq mais de 100 anos após a morte de Maomé, mas este texto foi perdido. Contudo, ibn Hisham, reescreveu esta obra mais tarde, obra esta que recebe o nome de Sirat Rassul Allah (A vida do Mensageiro de Alá). Os hadices começaram a ser compilados a partir de 200 anos após a morte de Maomé.
É como se os primeiros livros sobre a Guerra do Paraguai começassem a ser escritos hoje, baseados apenas em narrativas orais.
Lembre-se: o Alcorão não descreve nada sobre a vida de Maomé.
O que sabemos sobre Cadija
Se fizermos uma busca com a palavra “Khadija” no site sunnah.com, iremos encontrar mais de 50 referências a ela nos hadices. Muitas destas referências são repetições do mesmo acontecimento, e não estão em ordem cronológica (os hadices são agrupado por tema – veja lista no final do artigo). A Biografia (Sira) contém algumas referências a Cadija, e em ordem cronológica.
Então, o que a Sunna (tradições) do Profeta nos dizem sobre Cadija é o seguinte.
Cadija (Khadija bint Khuwaylid) era prima de Maomé. Viúva, ela herdou do marido um comércio de bens transportados por caravanas de camelos, e foi bem sucedida nos negócios. Era uma mulher independente (uma característica da sociedade pré-islâmica – como indicado por diversas referências), “uma mulher negociante de dignidade e riqueza” e “todos os seus parentes estavam ansiosos para obter a posse de sua riqueza, se fosse possível” (Ishaq, p. 82).
Cadija era quinze anos mais velha que Maomé. Ela o contratou como caixeiro viajante para comerciar na Síria. No retorno, o bem-sucedido Maomé recebeu a proposta de casamento de Cadija, já que Maomé era uma pessoa de “bom caráter e veracidade” (Ishaq, p. 82).
Na minha ótica, me parece que este casamento era vantajoso para os dois lados. Cadija deixaria de ser assediada pelos seus parentes e teria um marido 15 anos mais novo e economicamente dependente dela, logo, controlável. Quanto a Maomé, como se diz, “ganhou na loteria.”
O tio de Maomé, Abdul Mutalib, formalizou o pedido de casamento ao pai de Cadija, Khuwaylid b. Asad, e Maomé e Cadija se casaram (Ishaq, p. 183). Maomé tinha 25 anos de idade. Cadija tinha 40 anos de idade.
Eles tiveram sete filhos, três homens (al-Qasim, al-Tayyib e al-Tahir) e quatro filhas (Zaynab, Ruqayya, Umm Kulthum e Fatima) (Ishaq, 121, p. 83). Nenhum deles sobreviveu a Maomé, sendo que Fatima faleceu no mesmo ano que Maomé (632).
Aqui um parênteses. É duvidoso que Cadija tenha tido sete filhos com Maomé devido à sua idade avançada. Os xiitas defendem que ela teve apenas uma filha com Maomé: Fátima, a esposa do quarto califa, Ali, de onde surgiu a divisão entre sunismo e xiismo. Segundo os xiitas, Zaynab e Ruqayya seriam filhas de Cadija, de um casamento anterior.
Após se casar com Cadija, e sem ter mais compromisso com o trabalho, ou a necessidade dele, Maomé passa a se dedicar ao seu passatempo preferido: visitar as colinas e grutas em torno de Meca. “Ele ama solidão mais do que qualquer outra coisa” (Ishaq, 151, p. 105). Ele começa a ter sonhos e visões, sem identificar a sua fonte, até ter uma experiência aterradora quando uma “entidade espiritual” o sufoca diversas vezes. Estas “experiências espirituais” atormentam Maomé a tal ponto dele achar estar possuído por um demônio e tentar suicídio diversas vezes (Ishaq, p. 106, Sahih Bukhari hadice 6982).
No artigo da BBC Brasil, uma acadêmica muçulmana diz que Cadija era uma intelectual. Veja no parágrafo abaixo como a grande intelectual Cadija convence Maomé (o símbolo da perfeição islâmica) de que a “entidade espiritual” que o atormentava era um anjo.
Maomé veio aterrorizado e escondeu sua cabeça por entre as pernas de Cadija, dizendo “cubra-me.” Cadija mandou Maomé se levantar e se sentar na sua perna direita, na sua perna esquerda e no seu colo. Nas três situações ela perguntou a Maomé se ele via a “entidade”, no que Maomé disse “sim.” Então, Cadija retirou seu manto revelando a forma do seu corpo e o seu cabelo. Ela perguntou a Maomé, “você pode vê-lo?”, no que Maomé respondeu, “Não.” Cadija concluiu dizendo “Ó filho do meu tio, alegre-se e tenha bom coração, por Alá ele é um anjo, não um satanás” (Ishaq, p. 107).
(quer dizer que anjos fogem da mulher que mostrar o seu cabelo ou a forma do seu corpo?)
Mais tarde, um tio de Cadija, Waraqa, um politeísta recém-converso ao cristianismo, convenceu Maomé que o anjo era “o grande Namus, ou seja, Gabriel” (Ishaq, p. 107).
Começava, então, a carreira profética de Maomé em Meca, impulsionada pela riqueza e conexões familiares de Cadija.
O que teria acontecido se a “intelectual Cadija” tivesse realmente usado o seu intelecto e tentado ajudar o seu marido a se curar dos seus distúrbios mentais?
Cadija morre no ano 620. Dois anos mais tarde, um Maomé empobrecido e profeta fracassado se muda para Iatribe (atual Medina) onde se transforma em um Senhor da Guerra e inventor do conceito da Jihad islâmica: “guerra para espalhar a religião.”
O que Cadija pensaria sobre o “Maomé de Medina”?
Segundo a tradição islâmica, Cadija morreu dois anos antes de Maomé ter se mudado para Medina, se tornado um Senhor da Guerra. Em Medina, Maomé foi ladrão de caravanas, ladrão das aldeias ao redor de Meca, assassino e genocida, mercador de escravos e pirata, torturador, estuprador, espancador de esposas, pedófilo, pervertido sexual, e terrorista.
Será que Cadija iria aprovar tudo isso? Será que ela não ficaria horrorizada pela transformação do seu marido? Será que ela não iria gritar “Maomé, eu não te apoiei para você sair matando inocentes!”
Será que Cadija, mulher independente, iria aceitar a instituição da poligamia como direito sagrado dos homens?
Será que Cadija aceitaria a instituição da concubinagem (escravidão sexual) como direito sagrado dos homens?
Ou seja, será que Cadija, uma mulher independente, aceitaria se submeter ao islamismo que surgiu após a sua morte?
Veja bem, Cadija conhecia as “revelações de Meca”, que apenas condenavam ao fogo do inferno quem rejeitava Maomé. Será que ela iria concordar com as “revelações de Medina” que condenavam à morte quem rejeitava Maomé?
(Leia sobre a vida de Maomé em Maomé e islamismo para alunos do ENEM.
Um pouco sobre as afirmações aleatórias e sem base do artigo da BBC Brasil
“Até as mulheres de hoje aspirariam fazer o que Cadija fez há 1.400 anos.”
O que exatamente? Tomarem conta do seu próprio nariz? As mulheres de hoje já fazem isso. Apenas a lei islâmica Sharia possui provisões para o controle das mulheres. Tem dúvida? Leia aqui.
Cadija “jurou que não se casaria novamente”
Essa afirmação não faz parte da Sunna. Isso é invenção.
“Era um casamento monogâmico em uma época em que a maioria dos homens tinha várias esposas.”
É engraçado ver muçulmanos fazerem duas afirmações contraditórias com respeito a Arábia pré-islâmica. Por um lado, eles dizem que as recém-nascidas do sexo feminino eram enterradas vivas. Por outro lado, eles dizem que a poligamia é consequência de se existir muitas mulheres.
Decidam-se!
De qualquer modo, o que historiadores nos dizem hoje é que a sociedade árabe pré-islâmica era predominantemente monogâmica.
“Aprender sobre a história de Cadija é fundamental para quebrar o mito de que nas primeiras comunidades muçulmanas as mulheres ficavam confinadas em casa.”
O único mito que existe é o propagado por apologistas muçulmanos de que o islamismo melhorou o tratamento das mulheres. Como testemunhado por Aixa, a esposa pré-púbere de Maomé:
Não vi nenhuma mulher sofrendo tanto quanto as mulheres crentes. Veja, a pele dela está mais verde que a sua roupa.
Sahih Bukhari 5825
O interessante é que Maomé não criticou o marido por bater na esposa até sua pele ficar verde. A propósito, este hadice define que uma mulher somente pode reatar com o ex-marido se tiver sexo com um outro homem antes.
“O Islã deu mais direitos e destaque às mulheres da época.”
Sim, muito destaque. Cobindo-se da cabeça aos pés com mantos negros. Elas podem ser vistas de longe, com muito destaque.
Profeta! Diga a suas esposas e filhas, e todas as mulheres muçulmanas, para usarem capas e véus cobrindo todo o seu corpo (cobrindo-se totalmente exceto para um ou dois olhos para ver o caminho). Isso vai ser melhor. Elas não vão se aborrecer e nem serem molestadas.
Alcorão 33:59
Narrado por Aixa, O Apóstolo de Alá … disse: “Ó Asma’, quando uma mulher atinge a idade de menstruação, não é adequado que ela mostre as suas partes do corpo, exceto isto e isto, e ele apontou para o rosto e para as mãos.”
Abu Dawud (34: 4104)
O que os hadices falam sobre Cadija
Cadija era prima de Maomé (Muslim 160b)
Cadija consola Maomé, convencendo-o que a “entidade espiritual” que o atormenta é um anjo, e que ele é um profeta (Bukhari 3, Bukhari 3392, Bukhari 4922, Bukhari 4953, Bukhari 4957, Bukhari 6982, Muslim 160a, Muslim 160b, Muslim 160c, Muslim 161d)
Maomé não se casou com ninguém até que Cadija morresse (Muslim 2436)
Cadija morreu três anos antes da Hégira (Bukhari 3896, Muslim 2435a)
Maomé ajudava os amigos de Cadija (Al-Adab Al-Mufrad 232)
Aixa tinha inveja de Cadija (Bukhari 3816, Bukhari 3817, Bukhari 3818, Bukhari 3821, Bukhari 7484, Bukhari 5229, Bukhari 6004, Muslim 2435a, Muslim 2435b, Muslim 2435d, Muslim 2437, Jami` at-Tirmidhi 2017, Jami` at-Tirmidhi Vol. 1, Book 46, Hadith 3875, Jami` at-Tirmidhi Vol. 1, Book 46, Hadith 3876, Riyad as-Salihin 344, Sunan ibn Majah Book 9, Hadith 153)
Melhores dentre as mulheres são Maria (filha de Imram) e Cadija (Bukhari 3432, Bukhari 3815, Muslim 2430, Jami` at-Tirmidhi Vol. 1, Book 46, Hadith 3877) ou Maria (filha de Imram), Cadija, Fatima e Asiya (Jami` at-Tirmidhi Vol. 1, Book 46, Hadith 3878)
Cadija está no paraíso (Bukhari 1791, 1792, Bukhari 3819, Bukhari 3820, Bukhari 7497, Muslim 2433a, Muslim 2432, Muslim 2434, Muslim 2435a, Riyad as-Salihin 707)
Destino de Waraqa e dos filhos de Maomé (Jami` at-Tirmidhi Vol. 4, Book 8, Hadith 2288, Sunan Ibn Majah Book 6, Hadith 80, Mishkat al-Masabih 117)
Antonio diz
Maomé foi morto envenenado por uma de suas escravas sexuais, uma judia que teve sua família decapitada pelo homem modelo do islã.
Zé Anti-Jihad diz
Faz sentido as fontes xiitas. Tudo bem que Maomé pode até ser mentiroso, mas não vejo no porque ele mentiria na quantidade de filhos, que é algo irrisório. Ele dizia que não era pai de “nenhum dos seus homens, mais o Profeta de Alá”, e me parece mais práusivel que uma mulher de meia-idade só lhe tenha dado uma única filha, no caso Fátima.
Carla Sousa diz
Você mencionou uma coisa que muito me interessou: disse que Khadija era uma mulher independente e que isso era comum na Arábia pré-islâmica. Você também conhece sobre a situação das mulheres em outras civilizações antigas, como Egito, Grécia, Roma ou Mesopotâmia? Sabe de algum lugar onde eu possa encontrar informações sobre isso?
Carla Sousa diz
Olá, você mencionou uma coisa que muito me interessou, disse que Khadija era uma mulher independente e que isso era comum na Arábia Saudita pré-islâmica. Você também sabe como era a situação das mulheres de outras civilizações antigas, tais como Grécia, Roma, Egito etc? Sabe de algum lugar onde eu possa procurar mais informações a respeito disso?
José Atento diz
Veja este vídeo, vai te interessar. https://youtu.be/sl4WtajjMks