Um número de “sábios do islão” assinaram uma carta aberta dirigida a Al-Baghdadi, o califa do Estado Islâmico. A carta se encontra neste link, e uma versão em portugês foi feita disponível aqui.
O teor da carta é típicamente islâmico. Ela se compõe de 24 afirmações soltas no ar. As frases são vazias, e foram escritas para dar a impressão de que Al-Baghdadi está fazendo algo errado. Acontece, que Al-Baghdadi está satisfazendo cada uma delas!
O que estes “sábios do islão” estão tentando fazer é inculir nos infiéis a idéia que Al-Baghdadi não está fazendo nada disso, com o intuito de iludir os infiéis. Isso é taqiyya, simples e pura.
Eu vou comentar cada um dos itens, oferencendo referências.
1- No Islã é proibido emitir fatwas sem todos os requisitos necessários de conhecimento. Mesmo assim as fatwas devem seguir a teoria legal islâmica como definida nos textos clássicos. Também é proibido citar uma porção de um versículo do Alcorão – ou parte de um versículo – para derivar uma regra sem observar tudo que o Alcorão e os hadiths ensinam sobre aquela questão. Em outras palavras, existem pré-requisitos subjetivos e objetivos para as fatwas e não se pode “escolher” versículos corânicos para argumentos legais sem considerar todo o Alcorão e os hadiths.
As regras a serem seguidas foram estabelecidas na lei islâmica Sharia. Fatwas não passam de éditos específicos que não podem contrariar a Sharia. De modo que a Sharia é a base de tudo. E, nós já sabemos o que ruim existe na Sharia com respeito às mulheres, homossexuais e não muçulmanos. O que existe de pior na Sharia está resumido aqui.
2- No Islã é proibido emitir normas legais sobre qualquer coisa sem ter domínio absoluto da língua árabe.
As Escolas de Jurisprudência Islâmica foram escritas em árabe, por árabes, baseadas no Alcorão, nos hadices e na Sirat em árabe.
3- No Islã é proibido simplificar excessivamente questões da Shariah e ignorar ciências islâmicas estabelecidas.
Exatamente. Basta consultar a Sharia.
4- É permissível no Islã [para os eruditos] diferir em qualquer questão, exceto aqueles fundamentos da religião que todos os muçulmanos devem saber.
Os fundamenttos que todos os muçulmanos devem saber estão na Sharia.
5- No Islã é proibido ignorar a realidade de tempos contemporâneos ao derivar regras legais.
Desde que não se contrarie a Sharia. A Sharia têm precedência sobre tudo.
6- No Islã é proibido matar o inocente.
Ou seja, é proibido matar outro muçulmano (veja explicação aqui). Os não muçulmanos não são inocentes pois eles rejeitaram Alá e o seu mensageiro (Maomé). Veja só como o próprio Maomé se refere aos não-muçulmanos: “O Profeta passou por mim em um lugar chamado Al-Abwa, ou Wad-dan, e lhe foi perguntado se era permitido atacar guerreiros infiéis Al-Mushrikun à noite, e com isso expor suas mulheres e crianças ao perigo”. O Profeta respondeu: “Eles (as mulheres e crianças) pertencem aos infiéis”. (Hadice de Bukhari, Vol. 4, Livro 56, nº 3012).
7- No Islã é proibido matar emissários, embaixadores e diplomatas, portanto, é proibido matar jornalistas e trabalhadores humanitários.
Eu não sei de onde eles tiraram isso, contudo, “jornalistas e trabalhadores humanitários” não são “emissários, embaixadores e diplomatas”!
8- O jihad no Islã é uma guerra defensiva. Não é permissível sem a causa e o propósito certos e sem as normas certas de conduta.
Jihad significa “guerra para estabelecer a religião” (islão) e pode ser tanto defensiva como ofensiva. Na verdade, a maior das campanhas militares de Maomé foram ofensivas. E, após a sua morte, os seus companheiros saíram conquistando o mundo não foi por legítima defesa. Quer dizer que eles invadiram, por exemplo, a Espanha e a França por legítima defesa?
Jihad é algo consolidado na lei islâmica e na jurisprudência de tal modo que é uma obrigação do califa promover jihad sempre que ele possa!
9- No Islã é proibido declarar as pessoas como não muçulmanas, a menos que elas declarem a descrença abertamente.
É por isso que estes sábios não podem declarar Al-Baghdadi, e nem qualquer um dos jihadistas assassinos do Estado Islâmico, como ‘não muçulmanos’!
10- No Islã é proibido prejudicar ou maltratar – de qualquer forma – os cristãos ou qualquer “Povo do Livro”.
Do ponto-de-vista islâmico isso é correto, já que o islão tem normas de como lidar com cristãos e judeus. Contudo, estas normas são desumanas e contrariam os Direitos Humanos! (Leia sobre as Condições de Umar e sobre a visão supermacista sobre o povo do livro e como um imã descreve como deveria ser a humilhante vida de um cristão sob a Sharia).
11- É obrigatório considerar os Yazidis como Povo do livro.
Existe base legal para esta afirmação. Contudo, veja acima como é a vida do “povo do livro”.
12- É proibido no Islã a reintrodução da escravidão. Foi abolida por consenso universal.
Eu gostaria de saber onde esta abolição da escravatura sob o islão pode ser encontrada. Tal “abolição” exigiria que a Sharia fosse re-escrita! Onde está isso? Na carta, os “sábios do islão” mencionam os capítulos (suras) 58 e 90. A Sura 90 é de Meca, e a Sura 58 é Medina. A primeira (90) se refere a santidade da cidade de Meca, e a segunda se refere a “libertar um escravo para poder se divorciar (chamando a sua esposa de mãe).” Nenhuma trata de abolição da escravatura!
Os “sábios do islão” omitiram as Suras 4:24, 33:50 e 4:3, que estabeleceram a escravidão sexual (as mulheres que a mão direita possui), exatamente aquilo que o Estado Islâmico faz! Onde Alá aboliu isso? (leia mais aqui)
13- No Islã é proibido forçar as pessoas a se converterem.
Isso é algo que está correto se olharmos do ponto-de-vista islâmico: opções são oferecidas, e a escolha é do infiél. Os descrentes em geral tem duas opções: conversão ou morte. O “povo do livro” (cristãos e judeus) tem 3 opções: conversão, morte ou submissão à Sharia como cidadãos de terceira-classe (dhimmi). Veja bem como o islão é generoso e Alá misericordioso. Opções são feitas. O infiél será morto como consequencia da sua própria escolha.
O fato de que a “convivência pacífica” não ser uma opção não vem ao caso.
14- No Islã é proibido negar às mulheres os direitos delas.
A questão aí é que os direitos das mulheres sob o islão são contra os Direitos Humanos Universais. Veja quais são neste artigo.
15- No Islã é proibido negar às crianças os direitos delas.
Por exemplo, (a) o direito de seus pais as casarem ainda na tenra idade, ou (b) de as matar.
(a) m3.13 (1) O único guardião que pode impor a sua guarda a se casar é o pai de uma noiva virgem, ou pai do seu pai, impor significa a casá-la com um partido apropriado (def. m4) sem o seu consentimento.
(b) o1.2 Não existe retaliação para … (4) um pai ou a mãe (ou seus pais ou mães) para matar sua descendência (filhos), ou os descendentes da sua descendência (netos);
16- No Islã é proibido promulgar punições legais (hudud) sem seguir os procedimentos corretos que asseguram justiça e misericórdia.
Vejamos um exemplo sobre os procedimentos legais, direto da lei islâmica:
O24.9 Se o testemunho está relacionado a fornicação [sexo ilícito] ou sodomia, então exige-se quatro testemunhas do sexo masculino (O: que testemunham, no caso de fornicação, que eles viram o infrator inserir a cabeça de seu pênis na vagina dela)
Fonte Manual de Lei Islâmica ‘Umdat al-Salik wa-‘uddat al nasik (The Reliance of the Traveller), Amana Publications, p. 638.
17- No Islã é proibido torturar pessoas.
Estes sábios deveria ter dito isso para Maomé. Talvez ele não tivesse torturado Kinana.
18- No Islã é proibido desfigurar os mortos.
Mas nada impede de se ter sexo com os mortos.
19- No Islã é proibido atribuir ações maléficas a Alá.
Sim, Alá faz isso por ele próprio.
20- No Islã é proibido destruir os túmulos e templos dos profetas e companheiros.
A rigor, no islamismo é proibido que se construam templos sobre túmulos de profetas e companheiros. Esta proibição é tão séria que ao final da sua vida Maomé disse: “Que recaia maldição sobre os judeus e os cristãos que tomaram os túmulos de seus apóstolos como locais de culto. Ele [Maomé], de fato, adverte (seus homens) contra o que eles (os judeus e os cristãos) fizeram” (Muslim, Livro 4, No. 1082). E, em outro hadice: “Se algum homem religioso morrer entre estas pessoas eles iriam construir um lugar de culto em seu túmulo e fazer essas pinturas nele. Eles vão ser a pior criatura aos olhos de Alá no Dia da Ressurreição” (Bukhari, Livro 1, Volume 8, Hadice 419). Como então é proibido destruir aquilo que é proibido construir?
21- No Islã é proibida a insurreição armada por qualquer razão além da descrença clara do governante e se ele impedir o povo de orar.
Ao longo da história islâmica, os muçulmanos, tenham sido os califas, emires, sultões, quem seja, quebraram esta proibição a todo o momento. A história islâmica é cheia de lutas internas e guerras civis.
22- No Islã é proibido declarar um califado sem consenso de todos os muçulmanos.
Nunca na história islâmica existiu um califado que tivesse o consenso de todos os muçulmanos. Sempre existia algum grupo que contestava o novo califa, tendo sido este o motivo, por exemplo, da cisão entre sunitas e xiítas. A transição política sempre se deu sob conflito, e muitas vezes com um banho de sangue.
23- No Islã é permitida a lealdade à uma nação.
Sim, lealdade a nação do islão, a umah.
24- Depois da morte do profeta, o Islã não requer que ninguém emigre para lugar nenhum.
O fato é que Alá premia quem se muda para outra localidade: “E quem emigra pela causa de Alá vai encontrar refúgio e abundância na terra. E quem abandonar seu lar, migrando pela causa de Alá e de Seu mensageiro, e for surpreendido pela morte, sua recompensa é uma incumbência de Alá. E Alá é Perdoador, Misericordiador” (Alcorão 4:100). Leia mais sobre o conceito islâmico de Hégira.
Mib diz
A única diferença do estado islâmico para estes líderes da carta é que o EI não é muito chegado a Taqiyya. Eles vão lá decaptam, fuzilam, mostram pra todo mundo ver e ainda falam abertamente que farão o mesmo com todos nós pobres infiéis.
Vasco diz
Excelente texto!