Este artigo apresenta uma revisão muito boa de um livro que trata da tentativa dos nazistas em usarem os muçulmanos para seus interesses geo-políticos. O livro argumenta que os nazistas não tiveram o sucesso desejado por não compreenderem que o islamismo tem o seu próprio modo de pensamento. O artigo termina com a frase “os líderes ocidentais que tentam colocar o Islã do seu lado por meio de propaganda e favores serão surpreendidos de modo muito desagradável” (ou seja, quem não entende a mentalidade islâmica está fadado ao fracasso).
Tablet, David Mikics, 24/11/2014
Duas novas histórias importantes analisam o fascínio de Hitler pelo Islã e Atatürk, o fundador da Turquia moderna
Hitler e Himmler tinham uma queda pelo Islã. Hitler fantasiou várias vezes que, se os sarracenos não tivessem sido detidos na Batalha de Tours, o Islã teria se espalhado pelo continente europeu – e isso seria uma coisa boa, já que o “cristianismo judaico” não teria envenenado a Europa. O cristianismo se concentrava em fraqueza e sofrimento, enquanto o Islã exaltava força, acreditava Hitler. Himmler, em um discurso de janeiro de 1944, chamou o Islã de “uma religião prática e atraente para os soldados”, com sua promessa do paraíso e mulheres bonitas para mártires corajosos após sua morte. “Este é o tipo de linguagem que um soldado entende”, disse Himmler.
Certamente, pensavam os líderes nazistas, os muçulmanos veriam que os alemães eram seus irmãos de sangue: leais, decididos e, o mais importante, convencidos de que os judeus eram o mal que mais atormentava o mundo. “Você o reconhece, o judeu gordo e de cabelos encaracolados que engana e governa o mundo inteiro e que rouba a terra dos árabes?” Afirmava um dos panfletos nazistas distribuídos pelo norte da África (um milhão de cópias foram impressas). “O judeu”, explicava o panfleto, era o rei maligno Dajjal da tradição islâmica, que nos últimos dias deveria liderar 70.000 judeus de Isfahan em uma batalha apocalíptica contra Isa – frequentemente identificado com Jesus, mas de acordo com o Ministério da Propaganda do Reich ninguém menos que o próprio Hitler. A Alemanha produzia resmas de folhetos como este, frequentemente citando o Alcorão sobre o assunto da traição judaica.
Não é de surpreender, portanto, que hoje haja quem estabeleça uma linha direta entre o ódio moderno dos judeus no mundo islâmico e os nazistas. Um pôster atualmente na entrada do metrô de Columbus Circle proclama em voz alta que “o ódio aos judeus está no Alcorão”. O pôster mostra uma fotografia de Hitler com o notoriamente anti-judeu Mufti al-Husaini da Palestina, erroneamente rotulado como “o líder do Mundo muçulmano.” A verdade é consideravelmente mais complexa. O mufti se tornou útil aos nazistas como propagandista, mas ele teve pouca influência na maioria das regiões muçulmanas. Poucos muçulmanos acreditavam que as reivindicações nazistas eram de que Hitler era o protetor do Islã, muito menos o décimo segundo imã, como sugeria um panfleto do Reich.
A propaganda anti-judaica nazista atraiu muitos muçulmanos, como documentou o historiador Jeffrey Herf, mas eles se recusaram a acreditar que Hitler seria seu salvador ou libertador. Em vez disso, eles sentiram corretamente que os nazistas queriam que os muçulmanos lutassem e morressem pela Alemanha. Quando Rommel se aproximou do Cairo, os egípcios começaram a ficar nervosos. Eles sabiam que os alemães não estavam vindo para libertá-los, mas queriam fazer do mundo muçulmano parte de seu próprio império crescente. No final, mais muçulmanos acabaram lutando pelos aliados do que pelo eixo.
O esforço fracassado de Hitler de colocar as botas muçulmanas no chão ainda permanece como a maior tentativa ocidental de usar o Islã para vencer uma guerra. Tal é o julgamento de David Motadel, autor de um novo e dominate livro, o Islã e a Guerra nazista na Alemanha. A explicação detalhada e fascinante de Motadel de como e por que os nazistas não conseguiram colocar os muçulmanos do lado deles é uma leitura obrigatória para estudantes sérios da Segunda Guerra Mundial, e também contém uma mensagem importante para a política dos Estados Unidos no Oriente Médio.
***
Para entender por que os nazistas tinham tantas esperanças de colaboração muçulmana – e por que suas esperanças falharam – precisamos voltar à grande guerra que fez de Hitler o monstro fanático que ele era. Cem anos atrás, alguns meses depois da Primeira Guerra Mundial, a Alemanha parecia estar com problemas. A ofensiva alemã fracassou em Ypres após um mês de combates sangrentos. As ondas de soldados alemães avançando na terra de ninguém diminuíram até parar. O exército do kaiser estava exausto e seus comandantes perceberam subitamente que a vitória rápida na Frente Ocidental, com a qual eles sonhavam, era impossível. Enquanto isso, a Rússia reunia tropas em torno de Varsóvia, e o czar acabara de declarar guerra ao Império Otomano.
No entanto, parecia haver uma luz no fim do túnel. Em 11 de novembro de 1914, a mais alta autoridade religiosa do califado otomano, Sheikh al-Islam Ürgüplü Hayri, fez um apelo à jihad mundial contra a Rússia, a Grã-Bretanha e a França. De repente, a Grande Guerra se tornou uma guerra santa. Certamente, os alemães sonhavam, os muçulmanos se juntariam a seu lado em massa e mudariam a maré da batalha.
Nos primeiros anos da Primeira Guerra Mundial, o Reich alemão pegou a febre do Islã: os muçulmanos se tornaram a grande esperança oriental contra a Entente. Helmuth von Moltke, chefe do Estado Maior Alemão, planejava “despertar o fanatismo do Islã” nas colônias francesas e britânicas, fazendo com que as massas muçulmanas se rebelassem contra seus senhores europeus. Max von Oppenheim , diplomata e orientalista alemão, descreveu o Islã como “uma das nossas armas mais importantes” em seu famoso documento de outubro de 1914. Oppenheim queria desencadear uma revolta muçulmana que se estenderia da Índia ao Marrocos, a qual a Alemanha poderia usar para seus próprios fins. A Alemanha só precisava transmitir a mensagem, insistia Oppenheim: Rússia, Grã-Bretanha e França eram os opressores dos muçulmanos, enquanto os alemães os libertariam.
A estratégia alemã não funcionou. Em vez disso, a Grã-Bretanha e a França venceram o jogo quando capitalizaram o levante árabe contra um império otomano em ruínas. T.E. Lawrence, ao invés do kaiser, inspirou os árabes. Após a guerra, a Grã-Bretanha e a França cortaram o bolo do Oriente Médio entre eles no acordo de Sykes-Picot de 1916.
A Alemanha tentou novamente mobilizar o Islã na Segunda Guerra Mundial. Surpreendentemente, em 1940, Oppenheim, na época com 80 anos, defendia o mesmo plano que havia fracassado tão fortemente na guerra anterior. Ainda mais surpreendente, Hitler e Himmler abraçaram calorosamente a parte judáica da idéia de Oppenheim: eles também pensavam que o Islã ajudaria a obter um triunfo nazista.
“As autoridades alemãs sempre se referiam ao islamismo global, ao pan-islamismo”, disse-me Motadel por telefone em sua casa em Cambridge, Inglaterra, onde ele é pesquisador em história na Faculdade Gonville e Caius da Universidade de Cambridge. Os nazistas falavam dos muçulmanos como um “bloco” que poderia ser “ativado” contra os britânicos, franceses e soviéticos. A crença de que o Islã era monolítico os levou a ignorar as diferenças de região, seita e nacionalidade, o que ajudou a garantir o fracasso de seus esforços.
Como Motadel documenta, esses esforços foram realmente consideráveis. Os alemães procuravam imãs que emitissem fatwas para o lado deles, e pediam aos soldados que tivessem um cuidado especial com a sensibilidade religiosa ao viajar pelo território muçulmano. Eles deram privilégios especiais aos muçulmanos que ingressaram na Wehrmacht [exército alemão]: a liderança nazista até lhes permitiu seguirem as leis alimentares muçulmanas. Surpreendentemente, as forças alemãs no Oriente permitiram aos muçulmanos praticar a circuncisão e o abate ritual, provando serem mais liberais nessas duas questões do que muitos europeus de hoje. No início da Operação Barbarossa [invasão da Rússia], os alemães assassinaram muitos muçulmanos porque eram confundidos com judeus: não sabiam que os muçulmanos também eram circuncidados. Mas Berlim logo corrigiu o erro e alertou as tropas no Oriente para garantir o tratamento dos muçulmanos com respeito, desde que eles eram potenciais aliados da Alemanha. Em dezembro de 1942, Hitler decidiu que queria recrutar unidades totalmente muçulmanas no Cáucaso. Ele desconfiava de georgianos e armênios, mas os muçulmanos, disse ele, eram verdadeiros soldados.
Os alemães supuseram que o mundo muçulmano naturalmente se agruparia na bandeira nazista, já que muçulmanos, como alemães, sabiam que os judeus eram o inimigo e que a Alemanha lhes oferecia liberdade na França, Grã-Bretanha e Rússia. Mas, na maioria das vezes, eles estavam errados. Os muçulmanos só abraçaram a causa nazista em lugares onde estavam desesperados para se armar contra os perseguidores locais, na Crimeia, no Cáucaso e nos Bálcãs. Na maior parte do mundo muçulmano, Hitler não conseguiu atrair muitos seguidores.
O norte da África foi um fracasso infeliz no recrutamento alemão. “230.000 muçulmanos lutaram pelos Franceses Livres contra o Eixo no norte da África”, Motadel disse durante a nossa entrevista, muito mais do que aqueles que se alistaram para lutar pela Alemanha. Os alemães tinham seus milhões de folhetos, mas eles não eram os únicos propagandistas. “Os Franceses Livres os mobilizaram com a retórica anti-colonial. Os britânicos e franceses eram os poderes dominantes; eles tinham muito mais controle sobre a propaganda.”
O Oriente era muito mais favorável do que o norte da África ao recrutamento alemão. Os muçulmanos do Cáucaso e da Criméia tinham muitas razões para escolherem a Alemanha em vez da União Soviética de Stalin. “No Oriente, a população muçulmana havia realmente sofrido com Stalin, econômica e religiosamente”, comentou Motadel. Eles pensavam que eles não tinham nada a perder, tomando o partido de “Adolf Effendi”. Os tártaros da Crimeia ocupavam um lugar notório entre os batalhões mais leais e cruéis da Alemanha, lutando tanto no leste quanto, perto do fim da guerra, na Romênia. Os tártaros fizeram a escolha errada: Stalin deportou sem piedade muitos deles para seus gulags depois da guerra.
Nos Bálcãs, muitos muçulmanos voltaram-se para a Alemanha no meio de uma guerra civil brutal, fugindo da violência da Ustase croata [movimento ultra-facista]. O infame batalhão Handžar da SS, formado por apenas por muçulmanos, organizado nos Balcãs no final da guerra, cometeu muitas atrocidades. Nas áreas sérvias, observou um oficial britânico, o Handžar “massacra toda a população civil sem piedade ou consideração por idade ou sexo”.
Os nazistas garantiram, com poucas exceções, que as leis de Nuremberg pudessem ser aplicadas apenas aos judeus, não aos outros semitas, aos árabes, nem aos turcos e persas – o que paradoxalmente permitiu que certas comunidades de judeus nas regiões muçulmanas também sobrevivessem ao Holocausto. Na Crimeia, dois perplexos oficiais da Wehrmacht, Fritz Donner e Ernst Seifert, relataram “Grupos raciais do Oriente Próximo de caráter não-semita que, estranhamente, adotaram a fé judaica. O que fazer?” No final, o Reich determinou que os karaitas, tradicionalmente vistos como um povo turco, pudessem ser poupados, enquanto os krymchaks deveriam ser assassinados como judeus, embora ambas as tribos da Crimeia seguissem a lei judaica. No norte do Cáucaso, os nazistas decidiram que os judeus tats, um pequeno observador da Torá cercados por uma maioria muçulmana, tinha apenas sua religião em comum com os judeus. Com efeito, eles se tornaram muçulmanos honorários e foram salvos da morte. Os karaitas estavam perto dos tártaros muçulmanos da Crimeia e os judeus tats também tinham laços profundos com seus vizinhos muçulmanos. Foi sua suposta afinidade com o Islã que salvou a vida desses judeus observadores. Nesses casos, o desejo dos nazistas em cultivar o mundo muçulmano chegou a afetar em pequeno grau sua política anti-semita – para vantagem dos judeus.
***
Hitler cultivou muitas partes do mundo muçulmano, mas ele era fanaticamente entusiasmado com apenas um país: a Turquia (os nazistas decidiram oficialmente em 1936 que os turcos eram arianos). O brilhante novo livro de Stefan Ihrig, Atatürk, na imaginação nazista, demonstra convincentemente que a conquista da Turquia por Mustafa Kemal Atatürk foi o modelo mais importante para a reconstrução dos nazistas na Alemanha, muito mais do que a marcha de Mussolini para Roma, em 1922, que é geralmente citada como a principal inspiração de Hitler. A Turquia havia assumido o controle de seu destino de maneira viril, em orgulhoso desafio à comunidade internacional – se a Alemanha fizesse o mesmo! Assim discutiram muitos da direita alemã, incluindo Hitler, durante os dez anos entre a vitória de Atatürk e a tomada do poder pelos nazistas.
A vitoriosa Entente havia reduzido enormemente o território otomano sob o Tratado de Sèvres após a Primeira Guerra Mundial, assim como o Tratado de Versalhes encolheu o território alemão. Mas a nova nação da Turquia derrubou as algemas dos vencedores e, depois que Mustafa Kemal (mais tarde renomeado de Atatürk) marchou de Ancara para o oeste, os turcos conquistaram o direito a uma pátria no Tratado de Lausanne, em 1923. Os jornais da República de Weimar celebraram obsessivamente a vitória dos turcos e endossaram suas reivindicações à região disputada de Hatay (a Alsácia-Lorena dos turcos), retratando os turcos como mais avançados que os alemães, pioneiros no caminho para uma nação forte. “Se queremos ser livres, não teremos escolha a não ser seguir o exemplo turco de uma maneira ou de outra”, anunciou o jornalista e militar de direita Hans Tröbst no jornal Heimatland em 1923. Quase todos os itens do manual de Hitler podem ser encontrados nos endossos públicos feitos à Atatürk durante a era [do governo alemão] da República de Weimar: toda a Turquia havia se mobilizado para a guerra; a fé forte em seu líder os salvou.
Ihrig argumenta que o tratamento turco das minorias, tanto sob Atatürk quanto antes, foi o verdadeiro precursor da política assassina de Hitler no Oriente. Esses “sugadores de sangue e parasitas”, os gregos e armênios, foram “erradicados” pelos turcos, explicou Tröbst em Heimatland. “Medidas delicadas – que a história sempre demonstrou – não serão suficientes nesses casos.” Os turcos haviam conseguido “a purificação de uma nação de seus elementos estrangeiros em grande escala.” Ele acrescentou que “quase todos aqueles de origem estrangeira em área de combate tiveram que morrer; o número deles não é muito baixo, 500.000.” Havia um apoio assustador ao genocídio, algo que certamente não escapava aos olhos de Hitler. Logo após a publicação de seus artigos, Hitler convidou Tröbst para fazer um discurso sobre a Turquia para a SA.
A partir de 1923, Hitler sempre elogiou Atatürk em seus próprios discursos. Berlim, como Istambul, era cosmopolita e decadente. Quando Hitler tomou o poder em 1933, seu Völkischer Beobachter [jornal nazista] citou a vitória de Atatürk como a “estrela no escuro” que brilhava para os nazistas sitiados em 1923 , após o fracasso do golpe. A Turquia era “prova do que um homem de verdade poderia fazer” – um homem como Atatürk ou Hitler.
O Terceiro Reich produziu muitas biografias idolatrando Atatürk. Seis anos após a morte do líder turco, no final de 1944, um Hitler delirante ainda sonhava com uma aliança de pós-guerra entre a Turquia e a Alemanha. Ele nunca conseguiu seu desejo. Durante a guerra, a Turquia, como potência neutra, manteve distância dos nazistas até finalmente declarar guerra à Alemanha em fevereiro de 1945.
Na Turquia, criticar Atatürk ainda pode levar você a três anos de prisão, embora o presidente Recep Tayyip Erdogan , cada vez mais desonesto , tenha violado a lei no ano passado, quando chamou Atatürk de bêbado. Enquanto que Erdogan deseja reverter o programa secularização da Turquia, promovido por Aratürk, ele parece estar imitando o mesmo culto extravagante de personalidade, além do seu hábito de demonizar seus inimigos. Mas enquanto Atatürk desdenhava o anti-semitismo de Hitler, Erdogan é obcecado por judeus. A operação de Gaza de 2014, observou ele , foi pior do que qualquer coisa que Hitler tivesse feito, e os israelenses cometem “genocídio sistemático todos os dias” desde 1948. Talvez se Erdogan estivesse no poder na década de 1940, os nazistas teriam encontrado o aliado muçulmano que procuravam tão desesperadamente.
Usar o Islã como uma arma tem sido, muitas vezes, uma tentação para os Estados Unidos, assim como foi para a Alemanha. Em sua batalha contra Moscou, Washington recrutou líderes islâmicos após a Segunda Guerra Mundial, o mais famoso foi o Ramadã, uma figura importante na Irmandade Muçulmana. Os Estados Unidos até sorriram com o financiamento da Arábia Saudita a organizações islâmicas radicais, esperando que a religião servisse de baluarte contra o comunismo soviético. Então, a Irmandade Muçulmana matou o aliado dos EUA, Anwar Sadat [presidente do Egito], e seu seguidor Ayman al-Zawahiri se tornou, junto com Osama Bin Laden, o fundador da Al Qaeda. Apoiamos os Mujahedeen no Afeganistão, até que os Mujahedeen se transformaram no Talibã.
Ainda estamos tentando transformar o mundo muçulmano para nossos próprios propósitos, mas desta vez apoiando xiitas contra sunitas. Além de cortejar Erdogan, o presidente Barack Obama espera fazer uso do Irã como uma força regional estabilizadora. Em sua mais recente carta pessoal ao aiatolá Khamanei, Obama parece ter feito uma promessa: revogaremos sanções, lutaremos contra o Estado Islâmico (ISIS) e preservaremos o regime-cliente pró-iraniano de Bashar al Assad [na Síria] desde que o Irã concorde com um acordo sobre armas nucleares. Mas o que os Estados Unidos receberão em troca? No melhor cenário – o que está longe de ser garantido – as habilidades de fabricação de bombas do Irã serão prejudicadas pelo acordo que assinaram. Mas mesmo um Irã sem a bomba não pode ser invocado para tornar o Oriente Médio menos cheio de conflitos, a menos que visemos isso como o tipo de estabilidade famosamente zombada por Tácito [historiador romano]: eles fazem um deserto e chamam isso de paz. As ações iranianas falam por si: apoio ao Hezbollah, com suas centenas de milhares de armas apontadas para Israel, e apoio a Assad, que massacrou seu povo sem parar e jogou um grande número deles em campos de concentração. Quem olha para as fotografias do desertor sírio “César” que mostram milhares de corpos mutilados e famintos, e que estão em exibição permanente no Museu do Holocausto em Washington, a poucos quarteirões da Casa Branca, que se recusa a entender seu significado, farão ao mesma pergunta: esses corpos árabes, semelhantes aos corpos dos judeus de Auschwitz, não têm o mesmo apelo em nossa consciência?
Uma coisa é certa: se Khamanei e Rouhani tiverem um papel maior no Oriente Médio, eles não servirão aos interesses dos EUA, nem aos da maioria dos muçulmanos. Eles servirão a seus próprios interesses, que são inimigos dos nossos. Ainda não aprendemos a principal lição da história do século 20, tão habilmente transmitida por Motadel e Ihrig: os líderes ocidentais que tentam colocar o Islã do seu lado por meio de propaganda e favores serão surpreendidos de modo muito desagradável.
Deixe um comentário