Ab-rogação
Ab-rogação [1] é uma importantíssima doutrina islâmica na qual Alá muda de opinião e rescinde revelações antigas por revelações novas. É uma doutrina de fundamental importância para qualquer infiél (como nós). Ela define que a maioria dos versos pacíficos (escritos em Meca) geralmente citados pelos apologistas islâmicos, foram, de fato, substituídos por outros violentos (escritos mais tarde em Medina): principalmente todos os versos sangrentos encontrados nos capítulos 3, 5, 8 e 9, particularmente o “Verso da Espada” (9, verso 5).
Isso é muito importante. Os muçulmanos baseiam o seu trabalho de dawa (pregação) mencionando os versos pacíficos escritos em Meca, sem revelar que eles foram ab-rogados pelos versos violentos escritos em Medina!
Para entender esta importante doutrina islâmica, precisamos compreender como a “missão profética” de Maomé se desenvolveu, de acordo com a narrativa islâmica.
Contexto Histórico
A missão “profética” de Maomé pode ser dividida em 3 fases. Em todas elas, os versos do Alcorão validam as suas ações mundanas: Alá nunca contrariou Maomé.
A primeira fase, quando ele começou a pregar em Meca, era uma mensagem de paciência e tolerância. Ele desejava convencer os seus parentes da tribo dos Quraysh bem como os demais habitantes de Meca. Mas ele fracassou tremendamente. Os versos mais tolerantes do Alcorão são desta fase.
Na segunda fase, Maomé, frustrado com o seu insucesso, começa a ameaçar os outros dizendo que quem não o aceita como profeta vai queimar no inferno. Ele também começa a criticar abertamente o politeísmo reinante em Meca. Os versos desta fase são mais agressivos, porém condenam os outros a punições na “outra vida.”
Na terceira fase, já em Medina, Maomé é agora um Senhor da Guerra e as “revelações” justificam pirataria, saque, tráfico de escravos, assinatos politicos, genocídio, e perversão sexual. Nesta fase, o anti-semitismo e o anti-cristianismo islâmicos tomam forma. Quem não aceita Maomé, agora, paga com a própria vida.
Como justificar esta mudança de opinião de Alá? Maomé foi questionado pelos não-muçulmanos de então por esta falta de consistência. Vieram então os versos do Alcorão nos quais Alá tirou Maomé de um problema, mas lançou a sí e ao Islão num buraco sem fundo: a contradição é notável.
Os versos do Alcorão que dão embasamento à ab-rogação
A doutrina da ab-rogação está baseada nos versos do Alcorão 2:106, 13:39, 16:101, 17:86, e 87:6-7:
Alcorão 2, verso 106: Nenhuma das Nossas revelações nós anulamos ou a fazemos esquecídas, mas Nós a substituimos por alguma coisa melhor ou semelhante: você não sabe que Alá tem poder sobre todas as coisas?
Alcorão 13, verso 39: Alá apaga ou confirma o que Lhe agrada; com Ele está a mãe do Livro.
Alcorão 16, verso 101: Quando Nós substituímos uma revelação por outra – e Alá sabe melhor o que Ele revela (em estágios) – eles dizem, “você não passa de um forjador”: mas a maioria deles não entende.
Alcorão 17, verso 86: Se fosse de Nosso interesse, Nós poderiamos retirar aquilo que Nós te enviamos por inspiração: então você não encontraria ninguém para defender o seu caso neste assunto contra Nós.
Alcorão 87, verso 6: Aos poucos Devemos te ensinar a declarar (a mensagem), de modo que você não esqueça
Alcorão 87, verso 7: Exceto como Alá, porque Ele sabe o que está manifesto e o que está oculto.
Observação importante: O Alcorão não está em ordem cronológica. Os capítulos (suras) estão dispostos, aproximadamente, da maior sura para a menor. É por isso que, por exemplo, a sura 9 vem antes da sua 114, apesar da sura 114 ter sido “revelada” antes. Uma lista é encontrada em [2].
Algums exemplos do buraco sem fundo da Ab-rogação
Vejamos alguns exemplos de versos que foram ab-rogados. Tomemos como exemplo a Sura (capítulo) 50 e 109, “reveladas” em Meca (durante um tempo quando os muçulmanos eram ainda vulneráveis):
50:45. Conhecemos melhor o que dizem, e você (Ó Maomé) não é um tirano por cima deles (para forçá-los à Crença). Mas avise através do Alcorão, aquele que teme a minha ameaça.
109:1. Dize (Ó Maomé a estes Mushrikun e Kafirun): “O Al-Kafirun (descrentes em Deus, em Sua Unicidade, em Seus anjos, em Seus Livros, em Seus mensageiros, no Dia da Ressurreição, e na Al-Qadar {divina ordem frente e sustento de todas as coisas}, etc)!
109:2. “Eu adoro não o que você adora,
109:3. “Nem você vai adorar o que adoro.
109:4. “E eu não adorarão o que você está adorando.
109:5. “Nem você vai adorar o que adoro.
109:6. “Para você ser a sua religião, e para mim a minha religião (Monoteísmo Islâmico).”
Vejamos ainda esta passagem revelada logo depois de os muçulmanos chegarem em Medina, estando ainda eram vulneráveis:
2:256. Não há compulsão na religião. Em verdade, o caminho certo tornou-se distinto do caminho errado. Quem não acredita em Taghut {idolatria} e acredita em Alá, então, ele agarrou o suporte mais confiável que nunca vai quebrar. E Alá é Oniouvinte, Sapientíssimo.
Em contrapartida, tome 9:5, comumente referido como o “Verso da Espada”, revelado no final da vida de Maomé, e que ab-roga todos os versos citados acima:
9:5. Então, quando os meses sagrados (1º, 7º, 11º e 12º meses do calendário islâmico) passarem, então mate o Mushrikun {infiéis} onde quer que você os encontre e capture-os e cerque-os e prepare para eles para todas as emboscadas. Mas se eles se arrependerem e executarem As-Salat (Iqamat-as-Salat {as orações rituais islâmicas}), e darem Zakat {esmolas}, então deixe o seu caminho livre. Em verdade, Alá é Indulgente, Misericordiosíssimo.
O “Verso da Espada” ab-roga 119 versos anteriores. No total, são ab-rogados 737 versos do Alcorão [3].
No Alcorão, existem 527 versos de intolerância para com os não-muçulmanos, e 164 versos que defendem especificamente a violência contra não-muçulmanos. Nenhum desses versos foi ab-rogado [4].
Exemplos:
8:39. E lute contra eles até que não haja mais Fitnah (descrença e politeísmo, ou seja adorar outros além de Alá) e a religião (o culto) vai ser tudo apenas para Alá [em todo o mundo]. Porém, se desistirem (de adorar outros além de Alá), então, certamente, Alá é Onividente do que fazem.
8:67. Não é para um Profeta que ele deva ter prisioneiros de guerra (e libertá-los com resgate) até que ele tinha feito uma grande matança (entre seus inimigos) na terra. Você deseja o bem deste mundo (ou seja, o dinheiro do resgate para libertar os cativos), mas Alá deseja (para você) o outro mundo. E Alá é Todo-Poderoso, Prudentíssimo.
9:29. Lute contra aqueles que não crêem em Alá, nem no Dia do Juízo, nem proíbem o que foi proibido por Alá e Seu Mensageiro e os que não reconhecem a religião da verdade (ou seja, o Islã) entre os povos da Escritura (judeus e cristãos), até que paguem a Jizya com submissão voluntária, e se sintam subjugados.
9:33. É Ele {Alá} Quem enviou o Seu Mensageiro (Maomé), com orientação e com a verdadeira religião (o Islão), para torná-lo superior sobre todas as religiões, embora os Mushrikun (politeístas, pagãos, idólatras, descrentes na Unidade de Alá) odeiem (isso).
5:33. O castigo para aqueles que lutam contra Alá e Seu Profeta e perpetuam corrupção na terra [rejeitar o Islã ou opor seus objetivos] é matá-los, enforcá-los, mutilá-los ou eliminá-los. Essa é a sua desgraça. Eles não vão escapar do fogo, sofrendo constantemente.
Os mandamentos do Alcorão para os muçulmanos fazerem guerra em nome de Alá contra os não-muçulmanos são inconfundíveis. Eles são, além disso, absolutamente autoritativos, pois foram revelados no final de carreira “profética” de Maomé, e assim cancelam e substituem as instruções anteriores para agir pacificamente. Sem o conhecimento do princípio da ab-rogação, os ocidentais continuarão a interpretar mal o Alcorão e a diagnosticar erroneamente o Islã como uma “religião de paz.” [5]
É preciso compreender a mente muçulmana
O Islão é muito, muito diferente daquilo que estamos acostumados como pensamento lógico e como raciocínio que, no nosso caso, advém do cristianismo (independente de sermos cristãos ou não).
Antes de compreender os atos muçulmanos, é preciso entender a mente muçulmana que os inicia. A máxima de Shakespeare “Nada é bom ou mau, é o pensamento que assim o torna,” no Islã passa a ser “nada é bom ou mal, mas é Alá que assim o diz.” As ramificações desta calcificação intelectual, são imensas: todos os atos são em si moralmente neutros. Alá não ordena um determinado comportamento porque é bom; o comportament é bom, porque Alá o ordena. Por exemplo, mentir é mau apenas porque Alá declarou ser algo mal. Se Alá declarar como algo bom, passa a ser bom, e se Alá ordenou, ninguém pode negar-lhe. Claro, a divindade islâmica e seu profeta não só deram licença mas até mesmo incentivaram os muçulmanos a enganar (takkyia). [6]
Para muitos muçulmanos, esse conceito de que Alá, como o soberano absoluto, que pode alterar todos seus mandamentos e substituí-los à vontade, aparece em harmonia com seu ponto de vista de Alá. Para eles, a vontade de Alá é fundamental, e muda dependendo dos seus caprichos.
Os muçulmanos acreditam que o universo inteiro é destruído a cada segundo, e cada segundo recriado por Alá. Incrível? Não, eles acreditam nisso. Eles acreditam que você não pode dar vida ao seu braço ou mover os dedos, sem a vontade direta de Alá. Você pode ter seus próprios pensamentos, ao que parece, mas é isso. Você não pode agir sem que Alá permita. O fogo não queima, a água não molha, o sol não nasce no leste, a menos que Alá diretamente, a cada nanosegundo, quer que isso aconteça, diretamente. A única razão que, em cada segundo sucessivo, a realidade é muito parecida com o segundo anterior, é porque, por motivos impossíveis de conhecer e ímpio de se perguntar, Alá assim deseja. Como a realidade física é o mero capricho de Alá, assim é a realidade moral. Os muçulmanos acreditam que qualquer coisa pode ser moral, se Alá quiser. Alá não é um deus moral que faz convênios com a humanidade. Alá é totalmente inescrutável, incognoscível (e é imoral especular acerca de Alá ou dos motivos de Alá). Tudo o que precisamos fazer é submeter à vontade de Alá, o que é qualquer coisa que aconteça.
O Islão é dualista
Existe uma discussão interessante sobre o dualismo [7] islâmico. O Alcorão define uma lógica islâmica que é dualista: duas coisas que contradizem umas às outras podem ser ambas verdadeiras. Em uma lógica, unitária científica, se duas coisas contradizem, então pelo menos um deles é falso. Não é assim na lógica dualista. O dualismo islâmico está escondido pela religião. Os “bons” versos do Alcorão de Meca cobrem os versos de jihad do Alcorão de Medina. Assim o Islã religioso protege of Islã político de exame crítico [8].
E o que dizem os muçulmanos?
Com respeito a ab-rogação existem duas posturas do muçulmanos, ambas baseadas na negação, ou seja, eles vão te falar que ab-rogação não existe.
Um grupo vai adotar esta postura de negar este princípio islâmico pelo simples fato de desconhece-lo. Tratam-se dos muçulmanos seculares ou daqueles que cresceram longe das mesquitas. Eles são sinceros, porém ignorantes da sua própria religião.
O segundo grupo vai negar a ab-rogração como estratégia. Eles vão mentir sabendo que esta mentira ajuda a propagar o Islão (takkyia). Eles sabem que os versos violentos são mal-vistos pelos kafirs (infiéis) e eles vão sempre apresentar o Islão como algo pacific e tolerante.
Vai existir ainda um grupo que além de negar vai aplicar a estratégia do tu quoque (do latim, “voce também”). O tu quoque, também conhecido como “apelo para a hipocrisia”, é uma falácia lógica que tenta desacreditar a posição do adversário, tentando mostrar uma falha do adversário para descreditar a sua posição. Nela, tenta-se mostrar que uma crítica ou objeção se aplica igualmente à pessoa que fez a crítica orginal. Isso descarta o ponto de vista de alguém com base em críticas de inconsistência da pessoa, e não à posição apresentada.
O grupo que pratica o tu quoque vai dizer coisas como:
a) a Bíblia é violenta;
b) a Bíblia é cheia de contradições.
Aqui cabem dois comentários. O primeiro, é, mesmo que a Bíblia tenha passagens violentas e contraditórias, isso não elimina do fato do Alcorão ter passagens violentas e contraditórias. Além do mais, as escrituras cristãs se desenvolveram de modo oposto às escrituras islâmicas: o Antigo Testamento deu lugar ao Novo Testamento centrado em Jesus Cristo (que foi um tremendo pacifista) ao passo que o Alcorão pacífico deu lugar a um Alcorão violento, centrado na trajetória de Maomé, que terminou a vida como um pirata e senhor da guerra.
E, afinal, o tu quoque neste caso, parte do pressuposto que apenas os cristãos acordam para uma visão crítica do islamismo. No meu ponto de vista, os secularistas e ateus são quem mais se alarmam com o Islão, pois eles sabem que com o Islão o buraco é muito mais embaixo!
Referências
[1] O dicionário online priberam define ab-rogação como: ato de ab-rogar; anulação; abolição.
[2] Ordem cronológica do Alcorão, WikiIslam.
[3] Anwarul Happ, Abrogation in the Koran, U.P., Índia, 1926.
[4] Yoel Natan, 164 Jihad Verses in the Koran.
[5] Gregory M. Davis, Islam 101, JihadWatch.org.
[6] Robert Reilly, The Closing of the Muslim Mind: How Intellectual Suicide Created the Modern Islamist Crisis, ISI Books, 2010.
[7] O dicionário online priberam define dualismo como: qualquer sistema, doutrina ou teoria que admite a existência de dois princípios necessários, mas opostos.
[8] Bill Warner, Duality and Political Islam, New English Review.
Referências externas
Farooq Ibrahim, The Problem of Abrogation in the Quran
Naskh (Abrogation), wikiislam.net
List of Abrogations in the Qur’an, Wikiislam.net
\Ab-rogation