UMA ANÁLISE DO LIVRO ‘REGRAS PARA RADICAIS – UMA CARTILHA PARA RADICAIS REALISTAS’, DE SAUL ALINSKY (Ed. Vintage Books – 1971; sem edição em Português)
Roberto Esteves
Este assunto é pertinente por dois motivos. Primeiro, devido à aliança profana que existe entre a Esquerda e o Islã. Segundo, devido ao fato do islamismo estar usando de estratégia bastante parecida para conquistar o poder nas sociedades ocidentais, penetrando-as lentamente. Leia depois estes outros artigos: 1. Revisão do livro “A Revolução Gramscista no Ocidente” e 2. Marxismo Cultural oferece campo fértil para a proliferação da Sharia e da Jihad
1- O AUTOR
Saul D. Alinsky foi um judeu americano formado em Filosofia e criminologista por profissão. De orientação esquerdista, porém não-alinhado, era contra o sistema capitalista americano, que julgava injusto. Fundou ONGs de orientação ‘comunitária’ nos EUA. Teve contactos pessoais com Hillary Clinton, a qual escreveu uma monografia sobre seus métodos. Barack Obama atuou como advogado em uma organização que ele ajudou a fundar e que se orientava por seus métodos (ACORN – Association of Community Organizations for Reform Now). Faleceu em 1972.
2- DEFINIÇÃO DE TERMOS
Alinsky não define nenhum dos termos específicos que utilizou em seu livro. Isto torna inferências resultantes da interpretação de sua obra sujeitas a diferenças significativas em relação ao real significado do seu conteúdo. De toda forma, compartilhamos algumas definições propostas pelo autor do ensaio que, acreditamos, serão de auxílio ao leitor:
comunidade:
Coletividade de desprovidos (veja adiante).
comunitário:
Indivíduo que pertence à comunidade que se pretende organizar (veja adiante).
desprovidos:
Indivíduos que alegadamente padecem de um baixo status material e social. Alinsky não delimita os parâmetros econômicos que definem um indivíduo como desprovido.
ética de meios e fins:
Conceito que relativiza a ética de um determinado meio, de acordo o valor do fim que se quer obter. Por exemplo, furtar um pedaço de pão para saciar a fome. Furtar seria considerado um meio anti-ético porém, dado o baixo valor de um pedaço de pão e o nobre fim a que se destina – saciar um faminto -, este meio não seria doravante considerado anti-ético.
organizador de comunidades:
Indivíduo profissionalmente dedicado a instruir comunidades sobre como reivindicar o que estas julgam ser seu direito social. Esta expressão tem uma conotação operacional. Não obstante, no contexto deste ensaio, ela pode ser utilizada de forma intercambiável com o termo radical.
providos:
Indivíduos que alegadamente gozam de um bom status material e social. Alinsky não delimita os parâmetros econômicos que definem um indivíduo como provido.
radical:
Revolucionário. Este termo tem uma conotação política. Não obstante, no contexto deste ensaio, ele pode ser utilizado de forma intercambiável com a expressão organizador de comunidades.
sistema:
Termo genérico de conotação negativa que denota o conjunto político, social, legal e econômico de uma sociedade ocidental.
3- DEDICATÓRIA
“Não devemos nos esquecer de olhar ao passado para dar crédito ao primeiro radical de todos: de todas as lendas, mitologia e história (e, quem sabe onde a mitologia termina e começa a história – ou qual é qual), o primeiro radical conhecido pelo homem que se rebelou contra o sistema estabelecido, e o fez tão eficazmente que, pelo menos, ganhou seu próprio reino – Lúcifer.”
Trata-se de uma declaração de simbolismo marcante, a qual Alinsky nunca justificou. Interpretações possíveis à luz desta dedicatória seriam:
- Lúcifer simbolizaria o rebelde subversivo que desafia o poder vigente. Alinsky aspiraria portanto ser tão-somente um rebelde subversivo, assim como Lúcifer.
- Lúcifer não lutou contra Deus no Paraíso por se encontrar na condição de desprovido. Ele queria tão-somente derrubar Deus e ocupar seu lugar, o que caracteriza seu movimento simplesmente como um golpe para a tomada do poder. Alinsky estaria portanto em uma luta subversiva pelo poder nos EUA, desvinculada de qualquer aspecto socio-econômico. Esta interpretação é reforçada pela observação de que, muito embora Alinsky alegue ser um defensor dos desprovidos, Lúcifer não defendia ninguém além de si mesmo.
- Na dedicatória, Alinsky observa, entre parênteses, a linha indistinta que separaria a mitologia (fantasiosa) da História (real), no que concerne a Lúcifer. É plausível portanto propor que o autor considera ter havido uma real influência de Lúcifer no desenrolar da História, o que indicaria uma crença mística de Alinsky em Lúcifer. Alinsky estaria portanto promovendo uma nova etapa na História da humanidade, por influência direta de Lúcifer.
- Ao fundar o seu reino, Lúcifer poderia ter criado um segundo Paraíso, se assim desejasse. No entanto, preferiu criar um lugar de sofrimento e agonia eternos – o Inferno -, destinado às almas dos seres humanos. Alinsky teria a intenção, portanto, de copiar o modelo de Lúcifer, criando o Inferno na Terra.
4- PRÓLOGO
Alinsky anuncia que seu livro é um manual prático para radicais atuarem como organizadores de comunidades.
O autor defende que uma iniciativa revolucionária deve sempre ser precedida de uma reforma ideológica na sociedade, e não desafiá-la frontalmente em seu início.
Estabelece um dos fundamentos conceituais de seu método: não se deve lutar diretamente contra o sistema, deve se penetrar nele por vias usuais e implodí-lo a partir de dentro.
5- O PROPÓSITO
O autor defende que a emotividade do radical e de seus comunitários deve ser canalizada para uma ação planejada.
O controle sobre o fluxo de eventos deve estar sujeito a constante adaptação, e nunca ser exercido de forma ‘engessada’, isto é, segundo um protocolo inicial estrito.
Mudanças estabelecidas em uma sociedade não são mais benvidas, uma vez esta mudança tendo se instalado. Um exemplo que Alinsky utiliza é o da Independência da Índia, no século 20. Gandhi utilizou amplamente técnicas de não-violência para fazer os ingleses abrirem mão de sua colônia, as quais foram explicitamente proibidas pelo novo governo indiano, de tal forma que não houvesse um segundo movimento revolucionário anti-governo.
Antes de haver a subversão social, a classe dominante (isto é, os providos), deverão entrar em um estado de desatenção.
6- DE MEIOS E REGRAS
Alinsky estabelece algumas regras de natureza pragmática para o radical acerca de como enfrentar dilemas de natureza moral e ética que eventualmente ocorrerão durante seus trabalhos, todas baseadas em relativização de mesma natureza:
Primeira Regra:
A preocupação de um indivíduo com a ética de meios e fins varia inversamente com seu interesse pessoal no assunto.
Não há tons de cinza numa guerra ou quando se defende uma causa. A dinâmica deverá sempre a do Bem (isto é, nós) contra o Mal (isto é, eles).
Segunda Regra:
Julgamentos devem ser contextualizados dentro da época em que o evento julgado ocorreu. Isto significa que padrões éticos são relativos e mudam ao longo das eras e de acordo com a sociedade.
Terceira Regra:
A preocupação com a ética é inversamente proporcional aos recursos disponíveis ou ao interesse em jogo. Isto significa que, quão menores forem os recursos disponíveis a um radical e maior o seu interesse, mais lícita será considerada uma menor aderência a princípios éticos.
Quarta Regra:
A definição de herói ou de traidor depende do sucesso atingido pelo executor do ato. Isto significa que praticar um ato nobre que porém sacrifique o objetivo da missão transformará o radical em um traidor. Opostamente, um ato vil que facilite alcançar o objetivo da missão o transformará, em última instância, em um herói.
Quinta Regra:
A moralidade se torna mais elástica quando se está à beira da derrota ou no limiar da vitória. Isto significa que o radical deve estar pronto a ser amoral para evitar uma derrota ou para buscar uma vitória iminentes.
Sexta Regra:
O que é visto por você como ético é visto como anti-ético pelo inimigo, e vice-versa. Isto significa que o radical deve estar pronto a condenar seu inimigo por ter feito o oposto do que ele fez, e esperar críticas dele nas mesmas circunstâncias.
Sétima Regra:
Sua justificativa ideológica será ditada pelos seus recursos. Isto significa que são os recursos, e não as convicções e princípios de um radical, que irão ditar a sua orientação ideológica.
7- A EDUCAÇÃO DE UM ORGANIZADOR
Não há ação política sem haver antes polarização. É importante portanto estabelecer a dinâmica de ‘nós versus eles’, antes de qualquer iniciativa desta natureza. A busca de um meio-termo não pode prevalecer nos procedimentos de um organizador de comunidades.
O organizador de comunidades deve manter a mente livre e aberta, sempre com relativização política pragmática.
Um líder cria poder para si, um organizador de comunidades cria poder para os comunitários.
8- COMUNICAÇÃO
Use elementos de interesse explícito da plateia à qual você vai se dirigir – evite linguagem abstrata.
9- NO INÍCIO
O organizador de comunidades deve buscar ser chamado de ‘inimigo’ pelos setores contra os quais luta, pois isto dá status a ele ou ela na comunidade a qual tenta organizar. A recepção negativa proporcionada pelos providos deve ser seu cartão de visitas.
9.1- Política após o poder
Sem antes acreditar que se tem o poder para causar uma mudança, o comunitário não irá se mexer, não importa o que o organizador de comunidades diga. Este último deverá antes provê-lo com poder real, em seguida surgirá o interesse em promover a mudança.
O organizador de comunidades deve servir de escudo para a comunidade durante as primeiras retaliações dos providos. Não obstante, se ele ou ela for bem sucedido(a), o mérito terá sido da comunidade.
À medida em que o poder da comunidade for aumentando, o organizador de comunidades poderá se afastar.
9.2- O princípio de poder
Organização precede o poder político que precede a mudança, não o contrário.
O organizador de comunidades deve ensinar à comunidade que ela sim pode obter poder político, através de sua organização. Ele ou ela deverá selecionar suas lutas, nesta ordem de preferência: (1) vencíveis e importantes, (2) vencíveis e desimportantes, (3) difíceis e importantes e (4) difíceis e desimportantes
Na verdade, toda comunidade é organizada de alguma forma, porém não da maneira que interessa ao organizador de comunidades. Isto significa que ele ou ela deverá desintegrar o modelo anterior e reorganizar a comunidade, de acordo com seus objetivos. A forma de obter isto é disseminar a insatisfação com o modelo de organização anterior entre os comunitários e estimulá-los ao confronto uns contra os outros. Uma técnica factível é transformar uma pequena diferença entre eles em um verdadeiro caso e agitar a comunidade até o ponto de conflito.
O organizador de comunidades deve associar os interesses individuais dos comunitários à mudança que ele ou ela quer causar (por exemplo, rede de esgoto em uma rua específica ou maior número de vagas em uma creche específica) – quanto maior o número de interesses individuais, maior o nível de organização que será obtido.
10- COMO OS DESPROVIDOS TOMAM O PODER DOS PROVIDOS
Eis as regras:
Primeira Regra:
Traga os providos para fora de sua zona de conforto. Por exemplo, se eles preferem que um eventual debate ocorra em sua agremiação, por esta representar a um ambiente mais privativo, traga uma equipe de televisão sem avisá-los para transmitir tudo ao vivo.
Segunda Regra:
Exija que os providos sigam estritamente o próprio código de regras. Por exemplo, se forem cristãos, exija o cumprimento estrito de toda a Bíblia.
Terceira Regra:
Ridicularize os providos, isto é, ria deles o tempo todo.
Quarta Regra:
Escolha um alvo fraco, personifique-o e polarize. A personificação será necessária, pois um aspecto negativo em uma comunidade (por exemplo, um mal sistema de atenção em saúde) pode ser algo abstrato demais para poder ser alvejado. Exemplo, o organizador de comunidades escolhe um funcionário operacional de um posto de saúde comunitário como o seu alvo fraco. Ele ou ela personificará todo o mal sistema de atenção em saúde. O organizador de comunidades polariza então: a comunidade é 100% boa e o funcionário operacional é 100% mau, sendo este último diretamente assediado pela comunidade. Esperançosamente, o conflito deflagrado deverá chamar a atenção do tomador de decisões daquele posto de saúde comunitário, que poderá agora ser abordado.
Quinta Regra:
Use táticas com as quais a comunidade se identifique (por exemplo, música alta e intimidação através do grito).
11- TÁTICA – A CADEIA
A prisão é o batismo de fogo do organizador de comunidades e aumenta seu status político. A cadeia deve ser portanto buscada, mas o delito escolhido de tal forma que proporcione uma pena leve apenas. A cadeia obriga o organizador de comunidades a organizar suas idéias por escrito, tornando-o de um mero incômodo em uma potência política.
UMA INTERPRETAÇÃO DO AUTOR DESTE ENSAIO
Baseados no conteúdo de ‘Regras para Radicais’, somos capazes de assumir os seguintes pontos:
- o único motivo perceptível para haver desprovidos é tão-somente a existência de providos
- a manutenção do status dos providos dependeria de sua capacidade em manter os desprovidos em sua condição desprivilegiada
- tal capacidade dependeria do acesso dos providos ao poder
- a solução para a melhoria das condições materiais e sociais dos desprovidos seria portanto tomar o poder dos providos (veja o título do capítulo 10)
Em nenhum ponto da obra é sugerida a promoção de soluções de natureza econômico-social para um problema, em princípio, econômico-social, de tal forma que o status dos desprovidos pudesse eventualmente elevar-se através de esforço empreendedor ou de incentivos. O que Alinsky propõe é tão-somente vincular a melhoria do status material e social dos desprovidos à tomada do poder. Organizar comunidades representaria tão-somente uma estratégia para estimular o assédio dos desprovidos aos providos, encorajando o conflito entre eles. Assumindo que a existência de instabilidade social é pré-condição para uma iniciativa revolucionária bem-sucedida, podemos propor que a real intenção do autor seria, em última instância, revolucionária. A assim chamada organização de comunidades representaria um meio para um fim, apenas.
Analisemos agora a seguinte citação, atribuída a Alinsky:
– The issue is never the issue, it’s always the revolution.
– O tópico em discussão nunca é o tema que interessa, é sempre a revolução.
Muito embora em ‘Regras para Radicais’ Alinsky disserte acerca de problemas materias e sociais de comunidades e detalhe uma cartilha prática para o organizador de comunidades, tais aspectos não o interessariam de fato. Os tópicos desta natureza, discutidos em sua obra, nada mais seriam do que um meio para obter o que de fato o interessaria – instabilidade social seguida de uma revolução esquerdista em seu país, visando a tomada do poder.
\Análise do Livro Regras para Radicais, de Saul Alinsky
Deixe um comentário