A Europa está envelhecendo, empobrecendo e ficando fraca. Ela se assemelha a um velhinho que teve tudo na vida, dinheiro e influência, mas que agora está à caminho do asilo de velhos. Ele acha que tem autoridade, mas ninguém mais dá bola para ele.
No final do mês de março, a ministra das relações internacionais da Suécia, Margot Wallström, criticou a maneira como a Arábia Saudita trata as suas mulheres. Esta atitude foi coerente com aquilo que ela defende, pois ela se tornou ministra prometendo adotar uma postura pró-feminista na condução da política exterior da Suécia.
O que aconteceu em seguida mostra bem o “velho fraquinho” que a Europa se transformou.
Uma reportagem do The Spectator, escrita por Nick Cohen, mencionou o seguinte:
Algumas semanas atrás, Margot Wallström, a ministra das Relações Exteriores da Suécia, denunciou a subjugação das mulheres na Arábia Saudita. Como o reino teocrático impede as mulheres de viajar, realizar negócios oficiais, ou casar sem a permissão dos responsáveis do sexo masculino, e como as meninas podem ser forçadas a casamentos ainda crianças, onde são efetivamente estupradas por homens de idade, ela estava dizendo nada mais do que a verdade. Wallström condenou os tribunais sauditas por condenarem [o blogueiro] Raif Badawi a 10 anos de prisão e 1.000 chicotadas por ele ter criado um site que defende o secularismo e a liberdade de expressão. Estes são “métodos medievais”, disse ela, e uma “tentativa cruel para silenciar as modernas formas de expressão”. E mais uma vez, quem pode argumentar contra isso?
As reações desta crítica verdadeira seguiram o padrão estabelecido no caso dos Versos Satânicos de Rushdie, e aplicado deste então, desde as caricaturas dinamarquesas até as reações às publicações do Charlie Hebdo.
A Arábia Saudita retirou seu embaixador e parou de emitir vistos para empresários suecos. Os Emirados Árabes Unidos se juntou a ela. A Organização da Cooperação Islâmica, que representa 57 países de maioria muçulmana, acusou a Suécia de não respeitar os padrões éticos, ricos e variados, do mundo – padrões tão ricos e variados, aparentemente, que incluem a flagelação de blogueiros e o encorajamento dos pedófilos. Enquanto isso, o Conselho de Cooperação do Golfo condenou “interferência inaceitável nos assuntos internos do Reino da Arábia Saudita”, e eu não discartaria a possibilidade de motins anti-Suecos acontecerem em breve.”
A Europa permaneceu calada. Uma mulher, política de esquerda, que tem a coragem de promover aquilo no qual ela acredita, sendo assediada internacionalmente, e a reação da classe política européia é o silêncio. A Suécia sendo acusada de ser islamofóbica por defender o direito das mulheres, e país algum vai ao seu socorro.
É importante ressaltar que a ministra Wallström reconheceu a Palestina em outubro do ano passado. O interessante é que quando ela fez isso, nem a Liga Árabe, nem Organização da Cooperação Islâmica, e nem o Conselho de Cooperação do Golfo a condenaram por “interferência inaceitável nos assuntos internos de Israel.”
A crítica da ministra Wallström não foi apenas retórica.
Ela disse que era antiético para a Suécia continuar com o seu acordo de cooperação militar com a Arábia Saudita. Em outras palavras, ela ameaçou a capacidade de empresas suecas de armas de ganhar dinheiro. Negação de visto de negócios para os suecos da Arábia Saudita ameaçou afetar os lucros de outras empresas também. Você pode pensar dos suecos como os sociais-democratas de verdade, que estão sempre dispostos de trilhar o caminho de sua justiça. Mas isso nunca foi totalmente verdadeiro, e não é certamente verdade quando há dinheiro em jogo.
O estabelecimento sueco se rebelou. Trinta principais executivos assinaram uma carta dizendo que quebrar o acordo de comércio de armas “punha em perigo a reputação da Suécia como um parceiro comercial e de cooperação”. Ninguém menos do que Sua Majestade o Rei Carl Gustaf XVI convocou Wallström no fim de semana para lhe dizer que ele queria um compromisso. A Arábia Saudita transformou com sucesso uma crítica da sua versão brutal do Islã em um ataque a todos os muçulmanos, independentemente de serem ou não Wahhabis, e Wallström, e seus colegas, estão claramente nervosos com as acusações de islamofobia. Os sinais são de que ela irá dobrar sob a pressão, especialmente quando o resto da Europa liberal não mostra nenhum interesse em apoiá-la.
Finalmente, e mais revelador, na minha opinião, é que o ocorrido mostra-nos que os direitos das mulheres sempre vem por último. Para ter certeza, existem tempestades no Twitter sobre os homens sexistas, e meios de comunicação que alimentam frenesis sempre que uma figura pública usa “linguagem inapropriada”. Mas quando um político tenta fazer uma campanha pelos direitos das mulheres que sofrem em uma cultura clerical brutalmente misógina, ela não é aplaudida. Pelo contrário, ela se vê defronte de um silêncio envergonhado e extremamente revelador.
Pobre Europa.
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