Você já deve ter ouvido falar pela imprensa dos “muçulmanos Rohingya”, tão perseguidos pelos budistas e pelo governo de Mianmar, a antiga Birmânia. A imprensa, claro, omite que existem grupos jihadistas infiltrados junto aos Rohyngya, e que grande parte da “perseguição” é repressão contra estes grupos. Porém, o mais importante, e igualmente escondido pela imprensa, é que existem outros grupos sofrendo de uma perseguição ainda maior. Mas estes grupos são compostos por cristãos. São os cristãos das etnias Karen, Kachin, Chin e Naga.
Cristãos perseguidos? Silêncio por parte da imprensa e por parte dos “progressistas” e defensores dos direitos humanos. Afinal, noticiar tais eventos contradiz a narrativa que ‘os muçulmanos são oprimidos e os cristãos são os opressores.’
Mas em Miamnar, os cristãos sofrem perseguição do governo e dos jihadistas acobertados pelos Rohingya!
Um relatório de 2016 intitulado Sofrimento Escondido, a minoria cristã na Birmânia (Hidden Plight, Christian minority in Burma), produzido pela Comissão de Liberdade Religiosa Internacional dos Estados Unidos (USCIRF), bem como relatos mais recentes feitos pelo Fundo Barnabás, relata violações sistemáticas, notórias e contínuas da liberdade religiosa perpetradas por atores estatais e não-estatais na Birmânia, com impacto profundo, duradouro e negativo sobre os cristãos na Birmânia – incluindo os Karen, Kachin, Chin e os Naga particularmente marginalizados. Estes grupos sofrem com isso por décadas. O relatório reconhece que as violações da liberdade religiosa não ocorrem no vácuo, razão pela qual o governo de Mianmar deve abordar tais abusos através das lentes da reconciliação nacional, do controle civil dos militares e da reforma constitucional.
O relatório fornece uma visão geral dos contextos políticos históricos e recentes em torno das violações da liberdade religiosa contra os cristãos. Ele também apresenta relatos oportunos e pungentes em primeira mão sobre as condições da liberdade religiosa, apresentando ideias valiosas das perspectivas distintas das comunidades cristãs Karen, Kachin, Chin e Naga sobre os desafios que enfrentam.
Os grupos de pessoas predominantemente cristãos são os Karen que vivem principalmente no leste, perto da fronteira com a Tailândia, os Kachin e Naga, que vivem principalmente no norte, e os Chin, que vivem principalmente no sudoeste, particularmente no Estado Chin.
Eles sofrem uma terrível perseguição e violência nas mãos dos militares, mas ao contrário dos Rohingya, eles são amplamente ignorados pela imprensa mundial. No entanto, uma nova ameaça está surgindo enquanto os jihadistas se dirigem à região para “apoiar” os muçulmanos Rohingya.
“As forças armadas ocupam rotineiramente igrejas e convocam congregações inteiras para interrogatório. As tropas Tatmadaw (exército birmanês) profanaram, danificaram e destruíram igrejas. Os militares continuam a perpetrar graves violações dos direitos humanos com quase total impunidade, incluindo a violência sexual nos complexos da igreja e a tortura de pastores, obreiros da igreja e civis comuns. Até o momento, aproximadamente 120.000 pessoas foram forçadas a fugir.”
O relatório relata violações do direito de escolher suas próprias crenças, discriminação institucionalizada com base na religião, expressões de intolerância e ódio, restrições discriminatórias sobre a propriedade da terra para fins religiosos, violações da liberdade de reunião religiosa, relocação e destruição forçada de cemitérios cristãos, intimidação e violência contra os cristãos, ocupação, profanação e destruição de igrejas e cruzes, imposição de infra-estrutura budista via mecanismos de orçamento estatal, e conversão coagida ao budismo.
No entanto, uma nova ameaça para os cristãos está surgindo como um resultado direto da crise Rohingya. Militantes islâmicos do recém-formado grupo de insurgência chamado Harakah al Yaqin vem lançando uma série de ataques contra postos policiais no estado de Rakhine. Harakah al Yaqin foi criado por um grupo de emigrantes Rohingya baseados na Arábia Saudita e, portanto, representa um novo desenvolvimento perigoso. O exército respondeu com sua característica mão pesada, fazendo com que dezenas de milhares de Rohingya fugissem para Bangladesh. Então, em 25 de agosto de 2017, Harakah al Yaqin coordenou ataques a uma base do exército e a 30 postos policiais no norte do estado de Rakhine, em Mianmar. Em resposta, o exército de Mianmar lançou o que eles chamaram de “operações de limpeza” contra Rohingya, um eufemismo para as terríveis atrocidades cometidas contra civis de Rohingya.
Agora, a Al Qaeda está instando os jihadistas a se reunirem na região para lutar pelos muçulmanos Rohingya. Esta não é uma sugestão vazia. É, na verdade, quase exatamente o que aconteceu no sul das Filipinas, quando jihadistas ligados ao Estado Islâmico (IS) de todo o sudeste da Ásia se infiltraram na cidade de Marawi e tomaram o controle, matando vários cristãos; apesar de uma batalha contínua com as forças armadas filipinas, os jihadistas continuam ativos em Marawi e em outras partes das Filipinas. Em janeiro de 2017, as autoridades malaias alegaram ter prendido um jihadista ligado ao Estado Islâmico à caminho de Mianmar para lutar na área dos Rohingya. À medida que o Estado Islâmico perde o controle militar na Síria e no Iraque, a Al Qaeda se vê como tendo a oportunidade de recuperar sua reivindicação de liderar o movimento jihadista global. É por isso que, recentemente, a Al Qaeda divulgou um comunicado dizendo aos jihadistas de Bangladesh e Índia, bem como aos do Paquistão e das Filipinas, que eles têm uma “obrigação da sharia” de ir a Mianmar e lutar pelos Rohingya.
Como isso afeta os cristãos em Mianmar, que já estão sofrendo perseguição e violência do Estado? Os ataques que os militantes islâmicos de Harakah al Yaqin realizaram em 2017 ocorreram no norte do estado de Rakine. Isso fica ao lado do estado Chin, que é o único estado em Mianmar que é majoritariamente cristão. De fato, um desses ataques, na cidade de Maungdaw, ficava a apenas 30 quilômetros de distância da fronteira. Se, como agora parece provável, jihadistas estrangeiros chegam e transformam uma insurgência muçulmana local em uma luta jihadista ligada à Al Qaeda, igualmente aquilo sendo feito pelo Estado Islâmico nas Filipinas, existe um perigo muito real de que os jihadistas ataquem o Estado de Chin.
Se o fizerem, colocarão os cristãos numa situação impossível, sofrendo uma terrível violência nas mãos do exército de Mianmar e sendo atacados por jihadistas. Em outras palavras, os cristãos de Mianmar estão à frente de catástrofe humanitária ainda pior do que o nível de violência direcionado aos muçulmanos Rohingya, e seus aliados jihadistas: vítimas do exército de Mianmar e da jihad islâmica.