O ano de 2005 foi marcado pela controvérsia das caricaturas de Maomé, publicadas no jornal dinamarquês Jyllands-Posten. Um dos doze cartunistas foi o dinamarquês Kurt Westergaard, e a sua caricatura, fantástica por sinal, mostrando um terrorista islâmico usando um turbante em forma de bomba, tornou-se a mais icônica (veja imagem abaixo). Não era uma caricatura de Maomé, mas ela acabou se associando a ele, até mesmo pela reação dos muçulmanos. A controvérsia não foi criada pelas caricaturas propriamente ditas, mas pelas reações a elas, por parte dos muçulmanos e por parte das elites ocidentais. Vamos relembrar.
Os muçulmanos reagiram com violência. A rigor, ninguém fora da Dinamarca sabia nada sobre essas caricaturas, pois o jornal Jyllands-Posten não é um grande jornal nem mesmo neste pequeno país nórdico. Tudo ficaria na poeira da história se não fosse por um pequeno grupo de imames, que, na ânsia de chamar atenção para eles, exerceram pressão nas representações diplomáticas de diversos países do Médio Oriente na Dinamarca. A partir daí, boicotes a bens da Dinamarca foram organizados em países tais como Arábia Saudita, Kuwait, Catar, Emirados Árabes Unidos, Omã, Egito, Síria, Argélia e Tunísia. Dezessete países islâmicos formalizaram pedidos para que o governo dinamarquês punisse os cartunistas e o dono do jornal, e proibisse qualquer publicação posterior. A Organização da Conferência Islâmica e a Liga Árabe pediram às Nações Unidas para imporem sanções internacionais à Dinamarca, e pediram para a União Europeia introduzir leis de blasfémia islâmica. Ou seja, estes países e instituições passaram a usar o evento como justificativa para islamizar o mundo através da criminalização de toda e qualquer crítica ao islamismo para combater a islamofobia.
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Ao mesmo tempo, uma série de manifestações de muçulmanos residentes na Europa ocorreram em diversas cidades europeias, e as mensagens transmitidas nestas manifestações assustaram os europeus médios pelo teor dos cartazes que foram empunhados, tais como “Mate aqueles que insultam o islamismo”, “A Europa vai pagar, a demolição está a caminho”, “decepem, desmembrem aqueles que insultam o islamismo.”
As autoridades muçulmanas continuaram incitando os muçulmanos, e as manifestações degeneraram em violência ao redor do mundo. As embaixadas da Dinamarca e da Noruega na Síria foram incendiadas, sem causar vítimas. Em Beirute, a embaixada da Dinamarca também foi incendiada, resultando na morte de um dos manifestantes. Embaixadas de outros países europeus foram cercadas e algumas atacadas por manifestantes. Os países escandinavos passaram a adotar medidas para proteger seus cidadãos residentes no Oriente Médio e na Indonésia. Manifestantes morreram em protestos no Afeganistão, na Somália, Paquistão, e no Irã.
A partir daí, pessoas inocentes começaram a ser assassinadas como retaliação. Na Turquia, um padre foi assassinado em Trabzon. Dezesseis pessoas são mortas em ataques contra alvos cristãos na cidade de Maiduguri, no norte da Nigéria. E, no Sudão, freiras foram mortas a tiros.
A reação das autoridades e elites europeias e dos EUA foram contraditórias. Enquanto diversas revistas resolveram publicar as caricaturas em nome da liberdade de expressão e desafiando a indignação muçulmana, tais como a francesa Charlie Hebdo e a norueguesa Magazinet, e jornais na França, Alemanha, Itália e Espanha, o editor do jornal francês France Soir foi demitido por imprimir as caricaturas. Diversos outras revistas e jornais se recusaram a publicar as caricaturas, criando um ambiente no qual qualquer religião pode ser criticada ou ridicularizada, menos o islamismo. Autoridades governamentais também tiveram reações contraditórias, algumas afirmando a importância da liberdade de expressão, e outras se curvando às demandas islâmicas.
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Em 2008, três pessoas foram presas pela polícia dinamarquesa por planejaram assassinar Kurt Westergaard. Em 2010, uma muçulmano da Somália conseguiu entrar na sua casa, forçando Kurt e sua neta de 5 anos a se esconderam no banheiro. O jihadista foi condenado a 10 anos de prisão e deportação, mas ele anda hoje livre e solto na Dinamarca. A partir deste episódio, o cartunista teve que viver com guarda-costas e em endereços secretos. Anos mais tarde, ele decidiu viver abertamente em uma casa transformada em uma fortaleza, porém cercado de guarda-costas.
Como vocês veem, não existe conexão entre o islamismo e violência … (sarcasmo).
A intenção de Kurt Westergaard era a de criticar violência religiosamente motivada. As reações contra a sua vida provaram que o islamismo está acima de qualquer crítica, e que críticas ao islamismo, a religião da paz, serão respondidas com violência.
Kurt Westergaard morreu em 14 de julho de 2021.
Obrigado por sua coragem, Kurt.
\Caricaturas-de-Maomé-Kurt Westergaard-faleceu-86-anos-2021
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