As coisas não têm sido fáceis para os cristãos no Egito, desde que os exércitos islâmicos ocuparam o Egito no século oitavo (são 13 séculos de ocupação!). Uma perseguição implacável baseada nos conceitos estabelecidos no Alcorão (pagamento de imposto segregador, a jizya) e nas Condições de Umar (que os definem como cidadãos de terceira-classe). O governo da Irmandade Muçulmana trouxe de volta o pior tratamento possíveis que cristãos podem ter sob o julgo islâmico. Sem ele, será diferente?
O fim do governo da irmandade muçulmana não vai trazer o alento necessário para os cristãos do Egito, pois, como visto em um outro artigo, a lei islâmica vai continuar acima de qualquer preceito constitucional (e isso nunca é bom, particularmente para os não-muçulmanos). Ou seja, os cristãos vão continuar como cidadãos de segunda-classe.
Contudo, aconteceu algo muito interessante no Egito: a comunidade cristã, que sempre fica acuada e calada (como uma estratégia de autopreservação) se juntou às forças democráticas pedindo o fim do governo da Irmandade Muçulmana. Isso levou os salafistas (aqueles que seguem o islão puro, e a Irmandade Muçulmana é, a rigor, um grupo salafista) a declararem os cristãos como o bode expiatório. Afinal, sob o islão, o papel dos cristãos é o de serem cidadãos de segunda-classe, como estabelecido nas Condições de Umar. Ao reclamarem e apoiarem o exército, os cristãos, dentro de uma visão islâmica fundamental (baseada na lei islâmica) deixaram de ser um grupo “protegido” (veja bem que a definição islâmica de “grupo protegido” é a mesma que a da máfia: um grupo é “protegido” desde que este grupo aceite a extorsão).
O papa copta Tawadros II foi uma das mais de uma dezena de personalidades importantes que apareceram com o general al-Sisi quando ele anunciou a remoção do presidente Morsi. Outras personalidades importantes foram o mufti do Egito e o presidente da universidade Al-Azar. Mas isso não fez com que os islamistas atacassem as mesquitas. Na verdade, eles usam a oportunidade para apresentarem os cristãos como uma força alienígena no Egito, como uma especial de quinta-coluna, esquecendo-se que a igreja no Egito foi fundada em Alexandria no ano 50 DC. A principal ofensa dos cristãos é de serem cristãos no Egito. E os militantes da Irmandade Muçulmana têm o mesmo espírito niilista que levou a destruição das estátuas de Buda no Afeganistão em 2001, e os mesmos argumentos envenenados usados por propagandistas antissemitas em todas as eras.
Desde então, cristãos têm sido assassinados (ver exemplos em Perseguição aos Cristãos) e prédios cristãos, tais como igrejas, mosteiros, colégios e hospitais, têm sido atacados e destruídos. Mais de 50 igrejas foram destruídas desde o dia 14 de agosto, algumas que datam do século III (muito antes do Egito ter sido ocupado pelo islão). Por exemplo, no domingo passado, pela primeira vez em 1.300 anos, deixou-se de rezar no mosteiro da Virgem Maria e Anba Abraam, localizado em uma vila no sul do Egito.
(No caso específico deste mosteiro, os islamistas atacaram o mosteiro com bombas. Para completar o trabalho, eles destruíram a igreja dentro do mosteiro. E não satisfeitos, anunciaram que o mosteiro estava sendo convertido em uma mesquita).
A imprensa não está nem aí para o que está acontecendo com os cristãos no Egito. Ela se preocupa mais em mostrar a Irmandade Muçulmana como vítima, afinal, eles foram eleitos. Mas democracia não é apenas eleição. Democracia é também o que o governo eleito faz com o mandato recebido pelo povo. E no caso do governo da Irmanada Muçulmana, o que eles queriam era islamizar totalmente a sociedade egípcia, coisa que a maioria dos egípcios é contra.
Vejamos um exemplo bastante claro. Quando o exército egípcio foi chamado para desalojar manifestantes acampados no Cairo, uma mesquita em Al Nazla começou a anunciar pelos seus alto-falantes que eram os cristãos que estavam matando os manifestantes. Como consequência, os moradores saquearam e queimaram uma igreja (que havia sido recém-inaugurada) sob os gritos de “Alahu Akbar.”
Em um outro exemplo, depois que a multidão enfurecida saqueou uma escola franciscana em um subúrbio do Cairo, destruindo a cruz e a substituindo com a bandeira negra do islão, as irmãs foram obrigadas a marcharem pelas ruas como se fossem prisioneiras de guerra.
Segundo Sam Tatros, um historiador egípcio e autor do livro Lost Motherland (“Patria Perdida”), o pogrom em andamento é apenas comparável com o ocorrido no ano de 1321. Na época, a perseguição foi tamanha que a população cristã, que era 50% do total, sofreu um forte declínio, afinal, nem todos têm propensão para o martírio. Muitas vezes, é mais fácil se juntar ao opressor, tornando-se um deles.
No seu livro, Tadros se refere aos efeitos que a corrente principal do islão exerceu sobre os devotos muçulmanos egípcios, resultando no desgaste inexorável da população copta cristã em meados do século 14 –a maioria da população nativa pré-islâmica foi reduzida a uma minoria vulnerável através dos padrões habituais de islamização através da jihad: massacre, destruição e pilhagem de locais religiosos, a conversão forçada ou coagida, e a expropriação. Este processo crônico se intensificou e atingiu seu apogeu em uma série de pogroms e perseguições do século 14, descrito pelo grande historiador muçulmano al-Magrizi:
Muitos relatos vieram do Alto e do Baixo Egito sobre os coptas sendo convertidos ao Islã, frequentando mesquitas e memorizando o Alcorão, de tal modo que alguns deles foram capazes de estabelecer sua competência legal e sentar-se com as testemunhas legais. Em todas as províncias do Egito, a norte e ao sul, nenhuma igreja permaneceu que não tivesse sido demolida, e, em muitos desses locais, mesquitas foram construídas. Foi quando a aflição dos cristãos cresceu a tal ponto, e seus rendimentos diminuíram, que eles decidiram abraçar o Islã.
O destino dos cristãos no Egito parece semelhante ao destino dos judeus. Eles eram uma população de 800 mil depois da segunda guerra, e hoje apenas um punhado vive lá.
O general al-Sisi prometeu reconstruir as igrejas destruídas. Contudo, uma mini-tese que al-Sisi escreveu em 2006, durante um estágio junto ao exército dos EUA, mostra que al-Sisi não é um secular. Além disso, nesta mini tese, al-Sisi também defendeu ardentemente uma visão supremacista baseada na Sharia, com destaque para a glorificação do sistema de califado islâmico clássico.
E porque que isso importa, em termos imediatos, tanto moralmente quanto estrategicamente? Como David French escreveu, em sua denúncia das predileções atuais do exército egípcio e da cegueira moral e estratégica concomitante dos EUA:
Enquanto igrejas queimam, enquanto que freiras são desfiladas pelas ruas pela Irmandade Muçulmana, e enquanto os cristãos em todo o Egito temem por suas vidas em face do ataque jihadista, a política americana poderia, e deveria, ser simples: nem um centavo de ajuda até que os militares egípcios demonstrem – por ações, não apenas por palavras – que têm o compromisso de parar esta onda de perseguição, protegendo os direitos humanos mais básicos de seus cidadãos cristãos, e derrotando totalmente a Irmandade Muçulmana.
A propósito, o governo Obama está calado (na verdade, Obama vem trabalhando para fazer com que a Irmandade volte ao poder), os governos europeus estão calados, governos latino-americanos estão calados. Até mesmo a igreja está calada, com o papa fazendo alguns pequenos comentários (quando ele deveria estar colocando a boca no trombone.
Será que é politicamente incorreto defender os cristãos no Egito e no Oriente Médio?
Estamos vendo o capítulo final do cristianismo, no local onde ele nasceu. Estamos vendo minorias sendo extintas. Vamos ficar omissos?
Referências
Egypt’s Anti-Christian Pogrom, Rich Lowry, National Review online, 20 de agosto de 2013
Lost Motherland: the Egyptian and Coptic Quest for Modernity, Sam Tatros, 2013
In Egyptian village, Christian shops marked ahead of church attack (+video), Kristen Chick, Christian Science Monitor, 18 de agosto de 2013
Coptic Defense League (Facebook)
Why the Failure of Egypt’s ‘Secular’ Army to Protect Coptic Churches Matters, Andrew Bostom, PJ Media, 21 de agosto de 2013
Coptic conversion to Islam under the Bahrí Mamlúks, 692-755 / 1293-1354, Donald P. Little, Bulletin of the School of Oriental and African Studies, University of London, Vol. 39, No. 3 (1976), pp. 552-569, Cambridge University Press
Not One More Plane, Not One More Tank, Not One More Dollar, Until Egypt’s Christians are Protected, David French, National Review Online, 19 de agosto de 2013.
\Egito-Cristaos-Pogrom
Fernando Lopes de Almeida Soares diz
*
Islâmico mundo
mentalmente escravizado
cabalam sionistas?
– FLASh
https://infielatento.org.br/2016/01/atualizacoes-em-dezembro-de-2015.html?m=1
.